segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Citado por delator, chefe de gabinete de Edinho deixa Planalto

• Ministro afirma que funcionário, que vai para a EBC, é ‘de extrema confiança’

Simone Iglesias e Eduardo Bresciani - O Globo

-BRASÍLIA- O chefe de gabinete do ministro Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social), Manoel de Araújo Sobrinho, está deixando o cargo nos próximos dias para assumir a Superintendência da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) em São Paulo. Manoel foi citado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, em delação premiada, e prestou depoimento dia 14 de outubro à Polícia Federal para explicar as alegações do empresário.

Pessoa disse em sua delação ter sido pressionado a doar R$ 10 milhões para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, cujo tesoureiro foi Edinho. Manoel, auxiliar na coordenação financeira, foi responsável por acertar os detalhes do pagamento, registrado nas contas da campanha. O chefe de gabinete confirmou à Polícia Federal que conversou com Pessoa por telefone e passou a um funcionário do empreiteiro os dados da conta da campanha com uma relação de critérios legais para empresas interessadas em fazer as doações.

Manoel está na chefia de gabinete da Secom desde maio deste ano — assumiu pouco depois que Edinho se tornou ministro. Edinho disse ao GLOBO que a transferência está ocorrendo porque precisa de um funcionário com o perfil de Manoel na EBC, estatal responsável pela TV Brasil e por outros órgãos oficiais de comunicação do governo.

— Ele prestou depoimento e não deixou nenhuma dúvida sobre a lisura e a legalidade de todo o trabalho que realizamos nas eleições de 2014. É uma pessoa da minha mais extrema confiança e preciso de alguém com o seu perfil administrativo para os novos projetos que estamos traçando para a EBC — disse o ministro.

Manoel trabalha há 20 anos com Edinho e foi braço-direito do ministro durante a campanha de 2014. Em sua delação, Pessoa afirmou que Edinho ao negociar as doações eleitorais vinculou as contribuições aos contratos que a empreiteira tinha com a Petrobras. O empreiteiro contou que chegou até o ministro por indicação do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba. Pessoa disse ainda que o ministro lhe indicou Manoel para operacionalizar o pagamento. As doações foram de R$ 7,5 milhões e estão registradas na prestação de contas da campanha de Dilma.

No material que Pessoa entregou aos investigadores foi anexado um cartão da Presidência da República com o nome de Manoel. Ele trabalhou até maio de 2014 na Secretaria de Relações Institucionais, antes de deixar o cargo para atuar com Edinho na campanha. No material entregue por Pessoa constam ainda os dados da conta bancária da campanha, os números de telefone de Manoel e o e-mail que ele usava na campanha. Nos autos da Lava-Jato há ainda interceptações telefônicas em que Pessoa passa os dados do assessor para que o diretor-financeiro da UTC, Walmir Pinheiro, realize as doações.

Uma semana antes de Manoel prestar esclarecimentos à PF, Edinho esteve na sede da instituição para responder às questões relacionadas à delação feita por Ricardo Pessoa.

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