domingo, 15 de novembro de 2015

Hollande acusa EI e classifica ataques como ‘atos de guerra’

• Grupo assume autoria de atentados; passaporte sírio é encontrado com terrorista e fontes indicam que um dos agressores era francês

Andrei Netto- O Estado de S. Paulo

PARIS - O presidente da França, François Hollande, afirmou ontem que os atentados da véspera em Paris foram cometidos pelo Estado Islâmico, declarou três dias de luto em todo o país e apelou por unidade nacional após os “atos de guerra” de “absoluta barbárie” cometidos por um “exército terrorista”. Minutos depois, os jihadistas que atuam no Iraque e Síria reivindicaram a autoria dos ataques por meio de um comunicado na internet.

A retórica militar contra o grupo Estado Islâmico foi empregada por Hollande ao término da primeira reunião de emergência do Conselho de Defesa, a mais alta instância de segurança do país, realizada 12 horas após os ataques que deixaram 127 mortos e mais de 200 feridos, entre os quais mais de 90 em estado grave.

As declarações de Hollande foram feitas no momento em que, em Viena, chanceleres de França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Rússia, Turquia, Arábia Saudita e Irã abriram uma nova rodada de discussões para coordenar uma ação contra o grupo terrorista na Síria. Não está descartada a possibilidade de que o encontro resulte em uma coalizão internacional para atacar o Estado Islâmico, em resposta à nova onda de atentados.

Hollande convocou rede de rádio e televisão para seu terceiro pronunciamento desde os ataques. “Trata-se de um ato de guerra cometido por um exército terrorista, Daesh, um exército jihadista”, afirmou o presidente, em tom solene, usando a sigla em árabe que identifica o Estado Islâmico. “Foi algo preparado, organizado, planejado no exterior, com cúmplices internos, que a investigação poderá estabelecer”, concluiu o presidente.

Ao Estado, uma fonte diplomática de alto escalão do governo francês disse que ainda é cedo para confirmar uma ação militar por terra, e é pouco provável uma ação isolada da França, sem uma coalizão internacional. Mas o diplomata foi taxativo: “Haverá uma resposta”.
Hollande presidiria ontem um novo Conselho de Ministros extraordinário para analisar as medidas adotadas para atender as vítimas e prevenir novas ações terroristas.

A acusação direta contra o Estado Islâmico foi feita pouco antes da notícia de que um passaporte sírio foi encontrado entre os pertences de um dos assassinos, algo que o Ministério do Interior ainda não confirmou de forma oficial.

De acordo com fontes policiais, um francês provavelmente é um dos autores do ataque contra a casa de shows Bataclan. As fontes disseram que ele tinha cerca de 30 anos e era fichado pelo serviço de inteligência.

Instantes após o pronunciamento de Hollande, o grupo terrorista assumiu a responsabilidade pelos ataques em um comunicado publicado na internet . “Oito irmãos portando cinturões de explosivos e armados de fuzis de assalto visaram locais escolhidos criteriosamente no coração de Paris”, disse o texto, que renovou as ameaças contra a França e justificou a ação como uma resposta “aos bombardeios contra muçulmanos em terras do califado”. “Que a França e os que a seguem nessa via saibam que continuarão como os principais alvos do Estado Islâmico”, completou o documento.

Ainda pela manhã, o presidente da Síria, Bashar Assad, juntou-se aos líderes políticos que enviaram mensagens lamentando os ataques. “A França conheceu o que nós vivemos na Síria há cinco anos”, afirmou o líder sírio, que luta contra a presença do Estado Islâmico em seu território.

De acordo com os números divulgados ontem, o total de vítimas dos atentados simultâneos lançados em sete pontos da capital e Seine-Saint-Denis chegava a 127 mortos, além de oito terroristas – sete dos quais mortos ao detonar os cinturões com explosivos que portavam. Cento e oitenta feridos permaneciam hospitalizados – entre os quais dois brasileiros, internados nos hospitais Salpetrière e Bichat, em Paris (mais informações na pág. A13). Entre os feridos, 99 estavam em estado de “urgência absoluta”, com risco de morrer.

O balanço detalhado dos crimes cometidos no 10.° e 11.º distritos ainda não havia sido divulgado. Mas, dentre as vítimas, uma pessoa morreu no atentado cometido por três suicidas nos arredores do Stade de France, em Seine-Saint-Denis. Cinco outros morreram atingidos por disparos na Rue de la Fonteine-au-Roi, 12 em um ataque aos restaurantes Le Petit Cambodge e Le Carillon, na Rue Bichat, e outros 19 morreram a tiros na Rue de Charonne. Mas o maior número de vítimas ocorreu na casa de shows Bataclan, onde mais de 80 pessoas morreram quando 1,6 mil assistiam a um concerto de rock.

Em razão dos ataques, o Palácio do Eliseu decretou “estado de emergência”, um regime de exceção que permite a adoção do de toque de recolher em todo o país. O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, deu carta branca às autoridades locais decretarem toques de recolher se necessário.

Museus, pontos turísticos, escolas e universidades e parte do comércio foram fechados. Manifestações e concentrações públicas foram proibidas pelo menos até o dia 19.

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