quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Prisão deixa Planalto apreensivo, e Lula vê ofensiva contra ele

• Em despacho, Moro diz que não há nenhuma prova contra o ex-presidente

Sérgio Roxo, Simone Iglesias Catarina Alencastro - O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O juiz Sérgio Moro disse, no despacho que determinou a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, que não há nenhuma prova de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja envolvido nos atos ilícitos levantados pela investigação. Apesar das palavras de Moro, a prisão de Bumlai reforçou entre os aliados de Lula a sensação de que existe uma ofensiva para envolver o ex-presidente na Operação Lava-Jato. Irritados, petistas reclamaram da seletividade das prisões e afirmaram que o objetivo é acabar com a reputação do ex-presidente e inviabilizar uma eventual candidatura em 2018.

— É claro que ele (Lula) acha que estão tentando pegá-lo — disse uma pessoa próxima a Lula.

Os aliados reafirmaram ontem que, desde que o nome de Bumlai surgiu na Lava-Jato, Lula vem afirmando que se o pecuarista solicitou algum valor para empresários agiu sem o seu aval. E disseram ainda que a proximidade entre os dois não era tão grande como foi propagada, apesar de Bumlai frequentar o Instituto Lula e a casa do ex-presidente.

Ontem, o líder petista tentou manter a rotina, mesmo depois de saber da deflagração da operação que prendeu Bumlai. Pela manhã, Lula gravou vídeos para um programa de formação política do PT e tentou passar tranquilidade aos assessores mais próximos. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, reconheceu que a prisão provoca “chateação” para o ex-presidente, mas garantiu que ele não está preocupado:

— Nessas horas, quem fez alguma coisa errada fica preocupado. Quem não fez fica tranquilo. O Lula está tranquilo.

Governo: crise ampliada
Já para auxiliares da presidente Dilma Rousseff, a prisão amplia ainda mais a crise, dificultando a recuperação política do governo. Para ministros ligados a Lula, a prisão desgasta o ex-presidente.

A prisão do pecuarista é vista no PT como mais um degrau para se chegar a uma investigação que atinja Lula, impedindo que ele e o partido se reabilitem. Um auxiliar de Dilma disse que ela se enfraquece com essa ação, à medida que o projeto do PT se enfraquece. Para esse auxiliar, a fase Passe Livre é autoexplicativa, veio a campo para tentar chegar a Lula e que se tiver fundamentos significa a “derrocada do projeto”, levando o ex-presidente, Dilma e o partido. Segundo ele, há um temor, dentro do governo, que a operação atinja o governo no peito, interrompendo precocemente o governo Dilma.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), alegou, porém, que o fato em nada atrapalha o governo:

— O Brasil tem amigo de todos os lados. Isso não atrapalha em nada o governo.

Já o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), 2º vice-presidente da CPI do BNDES, fez críticas à Lava-Jato e à prisão de Bumlai:

— Temos visto na Lava-Jato inúmeras prisões feitas exclusivamente para forçar delações premiadas. É uma quebra do Estado Democrático de Direito. Estamos indo para uma situação perigosa. A atuação da equipe da Lava-Jato é perigosa para o país. Bumlai tem endereço fixo, poderia perfeitamente ser chamado a depor.

Zarattini criticou as buscas realizadas na sede do BNDES e afirmou que os contratos poderiam ser requeridos. E comparou a Lava-Jato aos atos institucionais da ditadura, destacando o de número 5, que cassou parlamentares e instituiu a censura a veículos de comunicação.

“Danos à reputação”
Em seu despacho, Moro escreveu: “A fiar-se nos depoimentos, José Carlos Bumlai teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios. Não há nenhuma prova de que o expresidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”.

Na avaliação de Moro, o uso do nome de Lula poderia “causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-presidente, sendo necessária a (prisão) preventiva para impedir ambos os riscos”.

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