sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Raquel Landim: Como recuperar o otimismo com o futuro do Brasil?

- Folha de S. Paulo

Os economistas não tem bola de cristal e frequentemente erram, mas suas projeções servem de guia sobre as expectativas em relação ao desempenho da atividade do país.

2015 está quase no final e praticamente todas as estimativas hoje apontam para uma brutal recessão de 3,1% - conforme a média dos analistas ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central.

O cálculo do PIB, também feito pelo BC, divulgado nesta semana, apontou que, no terceiro trimestre, a economia pode ter recuado espantosos 5,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O índice do BC é uma espécie de prévia do PIB divulgado pelo IBGE.

No início de 2015, alguns analistas já falavam em recessão e todos sabiam que não seria um ano fácil, mas duvido que alguém imaginava o buraco em que estávamos nos metendo - esta colunista incluída.

Na primeira medição do ano, o mesmo boletim Focus mostrava uma estimativa de crescimento de 0,5% para o PIB, um desempenho medíocre, mas longe da catástrofe atual.

Todos os números se deterioraram. A inflação, que no início do ano já se esperava que beirasse o teto da meta com 6,5%, na verdade, chegará a 10%. O dólar, que estava previsto a R$ 2,80, pode ficar em R$ 3,96.

Como os comandantes da economia - presidente, ministros, Congresso - puderam errar tanto e colocar o país nesse círculo vicioso de recessão e pessimismo? As projeções de 2016 apontam para mais uma queda de 2% do PIB.

"Erraram a política econômica de novo", diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Neste primeiro ano de seu segundo mandato, a presidente Dilma até ensaiou uma mudança de rumo, se comprometendo com a austeridade fiscal para recuperar a confiança e os investimentos, mas ficou só na promessa.

Dilma não teve a convicção para seguir em frente, o Congresso atrapalhou o que pode para manter a presidente refém, e o ministro Joaquim Levy cedeu tanto que hoje recebe críticas não só do PT, mas até dos economistas que o apoiavam.

O resultado foi a perda do grau de investimento, que afetou gravemente a credibilidade do país. E, por mais esforço que Levy faça, a presidente continua resistindo a qualquer tentativa de estabilizar a dinâmica da dívida pública no médio e longo prazo.

Enquanto isso, outros membros do governo tentam atabalhoadamente adotar uma agenda de crescimento, que não seja refém do ajuste fiscal. É uma iniciativa louvável, mas precisa ser algo muito mais concreto do que medidas protecionistas, com o planejado aumento da alíquota de importação de aço, uma ferramenta antiga, que não contribui para o aumento da produtividade da economia.

Os poderes Executivo e Legislativo precisam entender que a crise é urgente e requer ações coordenadas e vigorosas, que ajustem as contas públicas no longo prazo e que estimulem o crescimento econômico. Só assim vamos conseguir recuperar o otimismo com o futuro do país.

Enquanto prosseguem as brigas nos gabinetes de Brasília, a recessão provoca demissões nas fábricas e no comércio, tira a esperança dos jovens que vão entrar no mercado de trabalho, e a inflação deixa o orçamento das famílias cada vez mais apertado. Se os políticos saírem de sua redoma e focarem no mundo real, vão perceber que não há mais tempo para hesitações.

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