quinta-feira, 19 de março de 2015

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

O impeachment não é o julgamento de um crime. Veja o presidente Collor: ele foi absolvido de um crime no Supremo Tribunal Federal por falta de provas, mas ninguém discutiu se o impeachment valeu ou não. Foi um julgamento político.Mas é claro que tem que ter uma base, se não é golpe.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República, O Estado de S. Paulo 19 de março de 2015.

PMDB ameaça sair da base, e Cid Gomes deixa governo

Cid sai e precipita reforma

• Titular da Educação deixa pasta após ultimato do PMDB; baixa deve antecipar troca de ministros

Luiza Damé, Isabel Braga, Catarina Alencastro e Simone Iglesias – O Globo

Caos político

BRASÍLIA - A ida do agora ex-ministro da Educação Cid Gomes à Câmara para explicar uma declaração sua de que há na Casa achacadores virou confronto e bate-boca com os parlamentares da base. O resultado: a queda do ministro da Educação, com apenas dois meses e 18 dias no cargo, depois de um xeque-mate de peemedebistas, que pediram a demissão do ministro. A primeira baixa na equipe da presidente Dilma Rousseff desencadeia uma inevitável reforma ministerial em seu governo, medida vista como indispensável para a superação da crise política que marca o início do seu segundo mandato. O secretário executivo Luiz Cláudio Costa assumirá interinamente o cargo de ministro da Educação.

No confronto entre Cid e o PMDB de Eduardo Cunha (RJ), o partido, que cobra maior participação no ministério, saiu fortalecido. Em meio ao clima beligerante entre o ministro e o presidente da Câmara, peemedebistas mandaram um recado a Dilma: ou ele ou nós, exigindo a demissão de Cid. Cunha disse que a saída do ministro não significa que o governo esteja refém do partido.

- Não aceito essa pecha, porque todos os partidos pediram a demissão dele. Não existe estar refém de quem quer que seja, o PMDB não pediu a demissão para ocupar o cargo dele, pediu foi respeito ao Parlamento. A decisão da presidente está correta, porque demonstra respeito ao Poder Legislativo - afirmou.

Tão logo Dilma aceitou a demissão, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante ,telefonou para Cunha para informar sobre a saída de Cid. O deputado então espalhou a informação pela Câmara. Pouco depois saiu a confirmação oficial do Planalto.

Especulações incluem Mercadante
Com a saída de Cid, voltaram a circular no Palácio do Planalto especulações de que Mercadante, fragilizado no cargo, poderia voltar ao MEC. Essa mudança agradaria ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de ver o ministro da Defesa, Jaques Wagner, na Casa Civil. Depois da demissão de Cid, Wagner esteve com a presidente. Fontes do Planalto, porém, negam essa mexida.

Dilma vem resistindo à mudança porque Mercadante é seu ministro mais próximo e considerado "imexível". Uma solução caseira seria a volta de José Henrique Paim Filho, que saiu do MEC para dar lugar a Cid e foi indicado por Dilma para uma diretoria do BNDES. À presidente já chegaram ideias de substituir o ministro das Relações Institucionais (SRI), Pepe Vargas, por um nome do PMDB - Eliseu Padilha (Aviação Civil) ou o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves -, ou pelo atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), que já comandou a pasta no governo Lula.

Peemedebistas, no entanto, dizem que não querem este ministério porque ele não tem autonomia. Tudo depende da vontade de negociação de Dilma. No governo, fala-se num arranjo: entregar ao PMDB a Integração Nacional, cobiçada pelos peemedebistas na reforma de dezembro, desde que o partido aceite também a SRI. O PP comanda a Integração, mas a legenda ficou enfraquecida pela Operação Lava-Jato, que atingiu o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), e quase metade da bancada de deputados. Para não tirar o PP totalmente do governo, a sugestão que chegou a Dilma é que ela dê uma pasta menor, como Portos ou Pesca, que estão com o PMDB. Apesar de a reforma ter que passar pelos peemedebistas, a fórmula não é considerada fácil. Há um grupo que defende a ida de Henrique Alves para o Turismo, ocupando o cargo de Vinícius Lages, afilhado de Renan. No partido do vice-presidente Michel Temer há muita insatisfação com os rumos da gestão Dilma e com o acúmulo de crises políticas geradas pelo governo.

Cid Gomes foi à Câmara, convocado pelos deputados, para explicar declaração sua sobre a existência de "300, 400 deputados que defendem o quanto pior melhor, e aproveitam um governo fragilizado para "achacarem mais". Diante de uma plateia conflagrada de mais de 300 deputados, o ministro reafirmou o que disse, provocando a ira dos parlamentares. Deputados de seu partido, o PROS, da base e também da oposição acreditam que o ministro partiu para o ataque para manter o ativo eleitoral no Ceará. O próprio ministro disse na tribuna que voltaria à sua cidade, Sobral, de cabeça erguida.

Cid Gomes chegou à Câmara acompanhado de uma comitiva de políticos cearenses, entre eles o governador do estado, Camilo Santana. Cunha logo mostrou que aquela claque o incomodava e pediu que quem não fosse deputado ou credenciado, deixasse o plenário. Deputados estaduais e vereadores reclamaram, mas foram para as galerias. Cunha se irritou e mandou esvaziar a galeria.

- Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação, ou então larguem o osso! Saiam do governo! Vão para a oposição! Isso será mais claro para o povo brasileiro - afirmou Cid.

Depois, em fala dirigida a Cunha, atacou:

- Fui acusado de mal-educado. Pois muito bem, eu prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser como ele, acusado de achaque.

Houve reações dos deputados, que pediam que ele classe a boca. Cunha deu a palavra aos líderes, entre ele o do PMDB, Leonardo "Picciani (RJ), que pediu a demissão do ministro.

Cid deixou o plenário da Câmara antes do fim da sessão, logo depois que o deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), da tribuna, o chamou de palhaço. Em rápida audiência com a presidente, entregou o cargo.

- A minha declaração e a forma como eu coloquei a minha posição na Câmara, é óbvio que criam dificuldades para a base do governo e, portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento e pedi demissão em caráter irrevogável - disse o ex-ministro. ( Colaborou Júnia Gama)

Bate-boca
Troca de farpas no plenário

Cid Gomes
"Eu fui para o Hospital Sírio-Libanês e lá permaneci com muito sacrifício, longe da minha família, longe dos meus filhos. Qual não foi minha surpresa, Sras. e Srs. deputados, quando soube que estaria chegando lá uma comissão de deputados para verificar se eu estava doente. Eu peço a esta Casa que examine quem custeou as despesas desses deputados que foram lá".

Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
"Gostaria de dizer, claro e textualmente, que o requerimento que foi mandado à Comissão foi feito sem ônus para a Casa, a expensas dos parlamentares, porque esta Casa se dá ao respeito"

Cid Gomes
"Eu fui, Sras. e Srs. deputados, acusado de mal-educado. Pois muito bem, eu prefiro ser acusado por ele (Cunha) de mal-educado do que ser como ele, acusado de achaque".

Leonardo Picciani (PMDB-RJ)
"Esse cidadão não vai vir aqui debochar da cara dos representantes da população brasileira!"

André Moura (PSC-SE)
"Não tem moral, dignidade e honradez para continuar Ministro da Educação".

Cid Gomes
Quem não tem moral é V.Exa.

Sergio Zveiter (PSD-RJ)
"Para mim, esse cidadão está agindo premeditadamente, provavelmente porque quer pular fora do barco, que, como está vendo, está prestes a afundar e não tem coragem de ir a quem ele deveria ir. É um palhaço!"

Cid Gomes
Vossa excelência me respeite!

Vazamento de análise da Secom amplia crise

Dilma se irrita com documento do Planalto sobre 'caos político'

• Para presidente, texto da Secom criou problema desnecessário

- O Globo

BRASÍLIA - A divulgação de um documento analítico do governo que fala em "caos político" no país e ataca o ministro Joaquim Levy, de autoria do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), deixou a presidente Dilma Rousseff "perplexa" ontem, segundo fontes do Palácio do Planalto. Dilma disse a auxiliares que foi criado um problema desnecessário, mais um complicador num momento de vulnerabilidade do governo.

No texto, divulgado anteontem, Traumann avalia que a comunicação do governo é "errada e errática", e diz que "não será fácil virar o jogo", numa referência à crime política. O ministro recomenda respostas mais objetivas a Dilma, sugere que ela converse e se exponha mais, e desnuda de forma profunda tudo que tem dado errado no governo. Ao fazer um diagnóstico da crise, Traumann diz que o Planalto e o PT estão perdendo por WO para a oposição em conteúdo nas redes sociais.

"Se fosse uma partida de futebol, estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2. De um lado, Dilma e Lula são acusados pela corrupção na Petrobras e por todos os males que afetam o país. Do outro, a militância se sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na economia. Não é uma goleada. É uma derrota por WO", diz trecho do documento, de oito páginas.

Ontem, houve especulações entre os governistas sobre quem teria sido o responsável pelo vazamento do material. Traumann viajou para os Estados Unidos na noite de terça-feira, horas depois de o documento ter se tornado público, e não foi encontrado. Ele havia acertado com Dilma na semana passada que viajaria para visitar um parente que está em tratamento médico.

A Secretaria de Comunicação Social ganhou status de ministério no governo Lula. A pasta é estratégica por ser responsável pela relação do Palácio do Planalto com os meios de comunicação e cuidar de toda a publicidade institucional do governo. Só no ano passado, a Secom empenhou R$ 231,2 milhões para pagamento de campanhas. Nestes valores estão incluídas ações de publicidade, comunicação digital, relações públicas, pesquisas e eventos de toda a administração direta do governo.

Com a reeleição de Dilma em outubro passado, a pasta foi alvo de ataque especulativo de aliados. Setores do PT interessados em comandar a verba publicitária e em reformular a linha de comunicação do governo tentaram indicar o ministro. A nomeação de Traumann, no entanto, é considerada da cota pessoal de Dilma. Ele foi porta-voz da Presidência e sucedeu Helena Chagas, que deixou a Secom no começo do ano passado, por desgaste na relação com a presidente.

Tucanos querem explicações
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) pediu ontem a demissão do ministro por causa do conteúdo do documento. Aloysio quer também a convocação de Traumann para se explicar na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, e uma investigação do uso de verbas públicas. O tucano classificou de "criminoso e imoral" o documento elaborado pelo ministro e o uso de verbas publicitárias federais para atender interesses políticos e partidários da presidente da República.

Aloysio vai pedir que a conduta de Traumann seja investigada pelo Ministério Público e pela Controladoria Geral da União (CGU). Ele disse que ficou estarrecido com o documento da Secom.

- Nesse documento, patenteia-se a mistura entre interesse partidário e interesse do Estado, entre governo e partido, que está na raiz de todos os totalitarismos. Na verdade, não se trata de erro de comunicação, mas de erro das ações que são comunicadas - disse Aloysio.

Após bate-boca na Câmara, Cid Gomes deixa ministério da Educação

• Convocado pela Câmara para explicar declaração sobre ‘achacadores’, ex-ministro bate-boca com deputados e com o presidente da Casa, Eduardo Cunha, que anuncia votação de projeto prejudicial ao governo e volta atrás após notícia de demissão

Vera Rosa, Tânia Monteiro, Daiene Cardoso e Paulo Saldaña - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A crise entre o governo Dilma Rousseff e o Congresso chegou ao auge na tarde desta quarta-feira, 18, e fez a primeira vítima no Ministério. Minutos após o PMDB ameaçar deixar a coalizão governista, o ministro da Educação, Cid Gomes (PROS), foi demitido do cargo pela presidente.

Cid foi convocado pelos deputados para explicar a afirmação de que a Câmara tinha “de 300 a 400 achacadores”, feita há três semanas, em um evento fechado em Belém. As explicações deveriam ter sido dadas na semana passada, mas Cid foi internado em um hospital de São Paulo e só atendeu à convocação na quarta.

Na época, o ex-ministro foi chamado de "mal-educado" pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E foi no embate com o peemedebista que Cid explicitou o nível de tensão da tarde, ao dizer que prefere “ser acusado por ele de mal educado do que ser como ele, acusado de achaque”. Cunha disse que vai processar Cid.

Em tom de enfrentamento, Cid disse não concordar com a postura de quem, “mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, têm uma postura de oportunismo”. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo.”

A sessão transformou-se em intenso bate-boca que culminou com o abandono da sessão pelo ex-ministro. O PMDB ameaçou retaliar o governo e Cid seguiu ao Palácio do Planalto, de onde saiu demitido. A decisão foi anunciada por Cunha, a partir de informação do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

Isolado. A claque de Cid, arregimentada pelo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e pelos prefeitos de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), e de Sobral, Veveu Arruda (PT), foi retirada das galerias por ordem de Cunha. Eles se aglomeraram em um telão instalado no Salão Verde para acompanhar a sessão.

Sem nenhum gesto de apoio nem intervenções de lideranças do governo ou do PT, Cid foi alvo de deputados de oposição e rebeldes da base que pediam sua demissão. Eles citaram polêmicas envolvendo o ex-ministro e ex-governador, como a contratação de um show de Ivete Sangalo para inaugurar um hospital em Sobral, sua cidade natal, por R$ 650 mil, a viagem à Europa em que levou a sogra em jatinho pago pelo governo do Ceará e a tentativa de vetar a circulação de uma revista que o apontava como suposto envolvido no esquema de corrupção da Petrobrás.

"Vossa excelência apontou o dedo para o presidente Eduardo Cunha e o ofendeu. Nós não aceitamos a opinião de Vossa Excelência", afirmou o líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA). "Este é o momento mais constrangedor que já passei ao longo de toda minha história." O líder do PSC, André Moura (SE), disse que Cid "é mal educado, não tem moral, não tem decência e é um achacador do Estado do Ceará e de sua gente".

Fora do microfone, deputados defendiam que Cunha desse voz de prisão ao ministro. “Eu, se fosse presidente, faria isso por ele ter desrespeitado a Casa. Tinha que ser preso”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). Só o líder do PROS, Domingos Neto (CE), saiu em defesa de Cid na tribuna. "Ele falou o que muita gente tinha vontade de falar", disse ao Estado o vice-líder do governo Sílvio Costa (PSC-PE).

Cid ouviu parte das críticas de pé, na tribuna à esquerda do plenário. Em vários momentos, sorriu com ar irônico. A pedido do líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), sentou-se de frente para Cunha. Recebeu cumprimentos de alguns parlamentares, como Jean Wyllys (PSOL-RJ).

'Palhaço'. Ao retornar à tribuna, foi alvo de Sérgio Zveiter (PSD-RJ), que o acusou de "estar fazendo papel de palhaço". Houve bate-boca e Cunha desligou o microfone do ex-ministro. Nessa hora, Cid abandonou o plenário. "Infelizmente fui convidado e agredido. Nesta condição, penso eu que estou liberado para sair do recinto e é o que estou fazendo."

Em seguida, Cunha anunciou que votaria o projeto que estende às aposentadorias o critério de reajuste do salário mínimo, pauta prejudicial ao Planalto. Com a notícia da demissão, o PMDB aceitou apelo do governo e fechou acordo para adiar a votação.

Uma saída anunciada e a precipitação da reforma na Esplanada

- O Estado de S. Paulo

A demissão de Cid Gomes abriu outra crise no governo Dilma Rousseff e precipitou a reforma ministerial. Depois da conturbada sessão na Câmara, Cid foi direto conversar com a presidente, no Palácio do Planalto. A mudança no primeiro escalão ocorreu justamente na pasta que empresta ao governo o slogan "Pátria Educadora", mote do segundo mandato.

Cid saiu da Câmara dirigindo o próprio carro e anunciando que entregaria o cargo. No Palácio, a presidente mal conversou com ele. "Infelizmente, não dá mais, não é Cid?", disse ela ao demissionário.

Dilma soube da confusão quando Cid estava no plenário da Câmara. Chegou a assistir pela TV a alguns trechos do bate-boca e ficou "horrorizada" com as cenas.

A presidente já havia sido alertada por Cid, em e-mail enviado na segunda-feira, que ele iria reafirmar o que dissera sobre os "achacadores". Ontem, o ministro desligou o celular e não quis antecipar o que diria no plenário a nenhum ministro ou líder do governo.

Após o rápido diálogo com Cid, Dilma pediu ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que avisasse imediatamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sobre a demissão do titular da Educação, a fim de acalmar o PMDB no momento mais crítico do "caos político" vivido pelo Planalto.

A saída de Cid acabou por antecipar a mexida na equipe e aumentar a pressão do PT para retomar o Ministério da Educação. Setores do PT e do PMDB que querem afastar Mercadante da Casa Civil dizem que ele poderia retornar à pasta. Nesse desenho, o baiano Jaques Wagner, que hoje comanda a Defesa, iria para a Casa Civil e assumiria a articulação política. Dilma, porém, ainda não decidiu como ficará a equipe. Por enquanto, a Educação será comandada interinamente pelo secretário executivo, Luiz Cláudio Costa. O PMDB, por sua vez, quer emplacar na pasta o ex-titular do Turismo, Gastão Vieira.

A crise que culminou com a demissão de Cid vem no momento em que um documento interno da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), obtido pelo Estado, expôs com todas as letras os problemas da gestão Dilma e pode resultar na demissão do ministro Thomas Traumann. O PT também está de olho nessa cadeira e na verba de publicidade da Secom. Os alertas contidos no documento reservado vêm na esteira de declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem Dilma precisa mudar a comunicação do governo porque "quem não se comunica se trumbica".

Depois que Lula apontou essas falhas e "liberou" os petistas, as críticas se tornaram públicas.

Dilemas do PT frente ao pior dos cenários

• Cúpula do partido discute como amenizar ida de Vaccari à CPI e reagir ao atual 'caos político'

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Três dias depois de a presidente Dilma Rousseff ser alvo de protestos nos 26 Estados e no Distrito Federal, o presidente do PT, Rui Falcão, reuniu-se ontem em Brasília com os principais quadros da legenda na Câmara dos Deputados para alinhar um plano de reação. Antes de começar a conversa reservada, que reuniu os 30 deputados da sigla considerados mais combativos na sede do partido, o dirigente fez um alerta: "Vocês viram aquele documento que vazou do Planalto? Essa reunião é sigilosa. Peço que os senhores não tuítem o que for conversado, assim ficamos mais à vontade".

O petista se referia a um documento interno do governo - revelado anteontem pelo www.estadão.com.br- que aponta comunicação "errática" e "caos político" no País.
Acatado o pedido, Falcão começou a fazer sua análise de conjuntura. O PT acha inevitável o depoimento na CPI da Petrobrás do tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto, alvo de denúncia criminal na Operação Lava Jato. Para amenizar o dano e evitar o pior dos cenários possíveis, o partido discute se é possível convocar tesoureiros de outras legendas que declararam doações recebidas de empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobrás.

A deputada Maria do Rosário (RS) ponderou que dificilmente isso daria certo, já que o PT está isolado na CPI. No encerramento deste tópico, Falcão disse que avalia a ideia de Vaccari se apresentar voluntariamente, já que considera inevitável sua convocação. Apesar da avaliação que o tesoureiro será alvo de uma sabatina tensa, Falcão tranquilizou os colegas. "O Vaccari já está sendo preparado."

Críticas. Passado o tópico CPI da Petrobrás, os petistas seguiram a discussão sobre o "caos político" vivido pelo governo e pelo partido. Alguns deputados reclamaram de constrangimento. "Fui vaiado no aeroporto. Alguma coisa precisa ser feita", disse Afonso Florence (BA).
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), defendeu em tom exaltado que o partido tem de sair da defensiva. "Não podemos ser emparedados pelo PSDB. Temos que ir para a ofensiva. Não podemos levar desaforo para casa."

Mas Guimarães admitiu que o governo vive uma "sangria" e criticou integrantes do primeiro escalão. "Os ministros estão enferrujados na defesa do governo", lamentou. Ao exaltar o desempenho de Joaquim Levy, titular da Fazenda, deputados fizeram cara feia.

Quando o assunto "manifestações" entrou em pauta, os ânimos se exaltaram. Alguns deputados reclamaram que os prefeitos de suas bases "estão sendo maltratados" pelos ministros. Falcão ouviu calado, enquanto anotava algo em um pedaço de papel. Já o líder do PT na Câmara, Sibá Machado, cobrou mais proximidade com os movimentos sociais. "É preciso dar uma piscadinha para a CUT", disse outro.

Sobre os movimentos anti-Dilma, Falcão defendeu uma tese polêmica como antídoto ao antipetismo: o governo deveria restringir a veiculação de publicidade nos meios de comunicação que "apoiaram" e "convocaram" os protestos contra a presidente no domingo. Para ele, não basta contestar os veículos considerados "oposicionistas" pela internet. "Não se enganem. O monopólio da mídia não será quebrado apenas nas redes sociais. Isso é uma ilusão."

O dirigente disse que a "quebra do monopólio" deve ser feito por meio de "uma nova política de anúncios para os veículos da grande mídia". Para ilustrar, citou um caso que o pegou de surpresa. "A Record, que sempre teve simpatia maior por nós, no domingo começou em rede aberta a convocar a manifestação. Foi uma briga por audiência. Nesse caso não foi nem má-fé." Falcão pontuou que o sucesso dos atos de domingo se deve "exclusivamente" à convocação da "grande mídia". Para ele, as redes de TV "manipularam" os números de participantes.

Terminada a reunião, Falcão voltou a pedir sigilo dos temas ali debatidos.

Rede. Como Dilma resiste a encampar a ideia de confrontar a "mídia golpista" cortando seus anúncios, Falcão apresentou um plano de curto prazo. Para fazer a "luta política" nas redes sociais, o PT vai remontar "metade" do aparato de internet usado na campanha de 2014. O dinheiro para isso, explicou, virá do reforço de caixa do Fundo Partidário aprovado ontem na Câmara.

Os deputados defenderam a retomada do portal "Muda Mais", plataforma digital que serviu de base virtual na guerra das redes sociais. Falcão explicou que seria inviável por causa do custo: R$ 12 milhões por ano. Mas garantiu que a ideia é montar metade do aparato e um canal de TV na internet, que entrará no ar em abril.

No fim do dia, a assessoria de Falcão entrou em contato com a reportagem para dizer que ele não defende a redução de verbas dos veículos de comunicação e disse que o dirigente foi mal interpretado.

Em queda livre, e sem o mítico colchão de proteção popular

Carlos Melo - O Estado de S. Paulo

Em 2005, no auge da tensão do mensalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaçou acionar o dispositivo popular do PT e dos movimentos de sua esfera de influência. Colocaria o "povo na rua". Impressionada com o "chavismo" e temerosa pelo Brasil, a oposição preferiu colocar freio a escalada de um impeachment. Avaliou que derrotaria Lula nas urnas, na eleição do ano seguinte. Já é história, mas dali se depreende que havia uma crença na capacidade mítica de mobilização de Lula e do PT.

Três episódios recentes, porém, evidenciam que pode não ser mais assim: 1) a manifestação do dia 13, em apoio ao governo Dilma Rousseff, ficou muito aquém do que se esperaria em condições tão aflitivas para a presidente - na comparação com o dia 15, será difícil não admitir que o dia 13 foi quase um fiasco; 2) o documento vazado da Secretaria de Comunicação, ao qual o Estado teve acesso, admite sem rodeios que a militância virtual do PT abandonou o governo e aponta textualmente uma goleada: "Estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2"; e 3) na última pesquisa Datafolha, o ponto mais surpreendente são os pífios 13% de avaliação "ótimo/bom" - mais relevante que os 62% de "ruim/péssimo".

O PT teria perdido seu maior patrimônio, sua base social, e sua capacidade de mobilizá-la? FHC, em seu tempo, é verdade, esteve nesse mesmo patamar (13%), mas contava com condições mais sólidas de apoio nos partidos e não havia um caso nas dimensões da Lava Jato a pressioná-lo. Enfim, é possível que este seja o fato mais pleno de consequências: o governo Dilma pode estar absolutamente descoberto, sem o colchão de proteção que se imaginava ter. A tendência é que fique mais à mercê dos aliados do Congresso e da oposição e da fúria das ruas, com pouca força para reagir. Se o fará ou não, somente a história dirá.

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Carlos Melo é cientista político e professor do Insper

Aloysio Nunes pede convocação de Thomas Traumann no Senado

• Senador tucano quer que ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência explique documento elaborado por sua pasta e que sugere maior propaganda em São Paulo

Andreza Matais - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ingressou com requerimento para que o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, seja convocado pela Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado (CCT) para explicar o documento elaborado por sua pasta que fala em "comunicação errática" do governo e aponta "caos político" no País. O senador justificou que o texto da Secom faz uma "confusão criminosa e imoral entre o público e o privado.".

O documento, revelado pelo Estadao.com, faz uma análise do atual momento político e sugere uma série de medidas para melhorar a popularidade da presidente Dilma Rousseff e do seu governo. Entre as medidas, aponta que as páginas do governo na internet e das forças políticas que apoiam a presidente Dilma atuem de forma "coordenada e com missões claras." Diz o texto: "A guerrilha política precisa ter munição de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele."

No texto, que circulou nesta terça-feira, 17, entre o primeiro escalão do governo, afirma que a campanha de 2014 de Dilma utilizou robôs nas redes sociais e que o mesmo expediente foi usado por parte do PSDB, inclusive depois da eleição.Segundo o documento, a operação online dos grupos opositores, incluindo os organizadores das manifestações de 15 de março, teria custado R$ 10 milhões. Os tucanos negam que tenham usado robôs.

Ao propor a convocação do ministro, que depende de aprovação da maioria da CCT para ser aprovada, o senador afirma que "não é papel de um servidor, agente ou órgão público municiar particulares para a promoção de ações de guerrilha política. Esse tipo de proposta evidencia uma inequívoca confusão entre o público e o privado, com arremedos de condutas não somente imorais, mas até mesmo criminosas", diz o requerimento assinado pelo senador, que cita o artigo 321 do Código Penal.

O senador também relaciona no requerimento a sugestão do documento da Secom de que "a publicidade oficial em 2015 deve ser focada em São Paulo, reforçando as parcerias com as prefeituras." A capital paulista, governada por Fernando Haddad (PT), concentra, atualmente, a maior rejeição à administração petista.

"Essa proposta de direcionamento de publicidade oficial com objetivo claramente político partidário é um atentado ao princípio da impessoalidade na administração pública", cita o senador. "Não é possível tolerar o uso de recursos públicos, inclusive o acesso a informações privilegiadas do governo, para o favorecimento de núcleos de comunicação pessoal do governante em exercício do mandato e mesmo fora dele. É uma afronta à probidade administrativa e às mais comezinhas regras de ética e moralidade na gestão pública."

Para o tucano, a proposta descrita no documento de que "é preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando em uma mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas de sites, contas no twitter e no Facebook de todos os ministérios, o Facebook da Dilma e a Agência Brasil", é uma prática intolerável.

O documento da Secom, que circulou entre ministros, dirigentes do PT e assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destaca, entre outros pontos, que os apoiadores de Dilma estão levando uma "goleada" da oposição nas redes sociais. O texto cita, em tom de alerta, pesquisa telefônica recente feita pelo Ibope a pedido do Planalto na qual 32% dos entrevistados disseram ter mudado de opinião negativamente sobre o governo nos últimos seis meses - ou seja, da campanha de outubro até agora. Conclui que o País passa por um "caos político" e admite: "Não será fácil virar o jogo".

O Diário Oficial da União informou nesta quarta-feira que o ministro iniciou período de férias que irá até a próxima segunda-feira, dia 23. Procurado pelo seu email oficial para comentar o pedido de convocação, o ministro ainda não se manifestou.

Pressão do PMDB obriga Dilma a demitir ministro

• Cid Gomes bateu boca com deputados após chamá-los de achacadores

• Em situação inédita, demissão do titular da Educação foi anunciada em primeira mão pelo presidente da Câmara

Flávia Foreque, Aguirre Talento, Mariana Haubert, Valdo Cruz e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

DE BRASÍLIA - Enfrentando protestos de rua e reprovada por 62% da população antes de três meses de governo, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a aceitar a demissão do seu ministro da Educação, Cid Gomes, para evitar que o PMDB deixasse de apoiá-la na Câmara e agravasse ainda mais a crise política.

Em uma situação inédita e constrangedora para o Planalto, a demissão de Cid (Pros-CE) foi anunciada em primeira mão pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto de Dilma.

O anúncio foi feito nesta quarta (18) depois de uma sessão tumultuada no plenário da Câmara convocada para que o então ministro explicasse sua frase de que na Casa há "400, 300 achacadores", gravada durante uma reunião dele com estudantes no Pará.

Cid chegou a ensaiar um pedido de desculpas a alguns parlamentares, mas acabou dando estocadas em deputados governistas infiéis, instando-os a "largar o osso", e atacou o PMDB.

"Tinha um que só tinha cinco [ministérios]. Criou dificuldades, criou empecilho, conquistou o sexto. Agora quer o sétimo. Vai querer o oitavo. Vai querer a Presidência."

Irritada, a cúpula do PMDB avisou a presidente que o partido abandonaria a base aliada caso o ministro, nome da cota pessoal de Dilma no seu segundo mandato e seu defensor de primeira hora, não fosse demitido.

Assim que Cid abandonou o plenário, após ter sido chamado de palhaço e de ter a palavra cortada por Cunha, o presidente da Câmara disse que iria votar um projeto que ameaça o ajuste fiscal --a extensão do aumento real do salário mínimo a todos os aposentados da Previdência.

A bomba estava armada, obrigando a intervenção de assessores de Dilma. Logo após deixar a Câmara, Cid atravessou a praça e foi para o gabinete da presidente no Planalto. Formalizou a demissão, já um fato consumado àquela altura.

Do gabinete presidencial, ao lado de Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) ligou para Cunha avisando que estava cumprido o que exigira o PMDB. Cunha deu a notícia ao plenário, de sua cadeira, antes do Palácio.

Para auxiliares de Dilma, Cid poderá sair bem do episódio junto à opinião pública, como alguém que enfrentou deputados, deixando o ônus do caso com a ex-chefe.

Reforma
Petistas e peemedebistas avaliam que foi dada a senha para a presidente promover uma reforma ministerial. Setores do PT e do PMDB defendem a volta de Mercadante para a Educação, liberando a sua vaga para Jaques Wagner, atualmente na Defesa.

Mercadante é visto pelos petistas ligados a Luiz Inácio Lula da Silva e pelo própio ex-presidente como um dos responsáveis pelos atritos com o PMDB. Outros setores peemedebistas, por sua vez, querem ficar com a Educação.

Dilma está sendo aconselhada a dar ao PMDB status de partido capaz de ser o fiador da aprovação do ajuste fiscal e, por tabela, da governabilidade.

Outra hipótese é a de entregar aos peemedebistas a Integração Nacional, que poderia ir para um aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi chamado por Dilma para uma conversa no Palácio da Alvorada na manhã desta quarta.

Aliado de Cunha, o ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) também é cotado para a pasta ou para o Turismo

Cálculo político do Planalto no episódio com Cid é obscuro

Igor Gielow - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A degradação do cacife político do governo Dilma Rousseff levou o Brasil a viver a quarta-feira (18) sob uma variante tropical de parlamentarismo branco.

O governo amanheceu com a pesquisa Datafolha indicando o apoio à presidente no chão e fechou a tarde informando de forma obsequiosa o presidente rebelde da Câmara de que o ministro da Educação seria demitido.

A rigor, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) comandou o auto-de-fé de Cid. Talvez tenha bastado para conter o ânimo peemedebista por ora, de olho na reforma ministerial. Ou não, já que na Casa ao lado Renan Calheiros (PMDB-AL) mantinha a pressão sobre o governo.

O cálculo político do Planalto no episódio é obscuro. Era evidente que Cid não se aguentaria na sessão para explicar por que chamou deputados de "achacadores".

A morte pela boca é um tradição familiar dos Gomes. É parte do folclore político a derrocada do irmão e antiga estrela do clã, Ciro, após chamar um eleitor de "burro" quando presidenciável em 2002.

Se demitisse Cid antes, Dilma seria acusada de prostrar-se diante de Cunha. Acabou na mesma situação, com o bônus de horas de humilhação pública. Algo que pode se repetir, se o presidente da Câmara mantiver a ideia de chamar outros ministros.

O tamanho do custo de negociação para o governo ficou evidente. Um deputado, antes de provocar a saída de Cid da sessão, o acusou de fugir de um "barco que está prestes a afundar". Detalhe: ele é do PSD, sigla símbolo da "nova base aliada". Mas, antes, é da turma de Cunha.

TCU poderá incluir Dilma em processos

• Decisão do tribunal permite que a presidente da República seja investigada, multada e tenha bens bloqueados

• Proposta aprovada pelo órgão reforça apuração sobre os integrantes do conselho da Petrobras, do qual petista fez parte

Rubens Valente, Dimmi Amora - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Proposta aprovada no TCU (Tribunal de Contas da União) nesta quarta (18) poderá levar a presidente Dilma Rousseff a se tornar alvo de ações de fiscalização do órgão que apura desvios na Petrobras.

O ministro substituto do TCU André Luís de Carvalho propôs que fosse determinado às unidades técnicas do órgão que se manifestem, em 40 processos que investigam a estatal, "conclusivamente (...) sobre a responsabilidade dos membros do Conselho de Administração e Fiscal".

Caso técnicos apontem a responsabilidade de conselheiros, o relator do processo levará a proposta de inclusão dos nomes ao plenário, que pode ou não acatá-la.

A proposta de Carvalho foi aprovada por unanimidade pelos oito ministros presentes à sessão. Na prática, a sugestão reforça as investigações do TCU sobre os membros do Conselho de Administração da Petrobras.

Como Dilma ocupou a presidência do conselho de 2003 a 2010, poderá sofrer sanções como bloqueio de bens ou pagamento de multas, nos casos em o TCU entender que o conselho da estatal teve alguma responsabilidade pelos danos investigados.

Em levantamento solicitado por Carvalho, dos 40 procedimentos sobre a Petrobras, dez tratam da compra da refinaria de Pasadena (EUA) e 15 são relativas à Lava Jato. O ministro pediu que os técnicos tenham atenção "especialmente para os casos em que os referidos conselhos tenham praticado atos de gestão ruinosa ou tenham deixado de atuar com o necessário dever de cuidado; expondo, portanto, todos os atos, fatos e procedimentos, efetivamente, à luz do sol".

"Trata-se de uma proposta que fere a companhia num momento em que ela está sob intenso bombardeio", afirmou Nelson Gomide, advogado da Petrobras.

Na semana passada, Carvalho havia tentado reincluir os membros do conselho no processo que apura irregularidades sobre Pasadena, mas o TCU ainda não decidiu a respeito. Em 2014, o então relator do caso, José Jorge, isentara Dilma e o colegiado de responsabilidade no prejuízo causado. O voto foi acompanhado pelo plenário, mas pode ser revisto.

O ministro da AGU (Advocacia Geral da União), Luís Inácio Adams, disse à Folha que a nova decisão do TCU "causa certa perplexidade" e seria "desnecessária". "As áreas técnicas já fazem o exame integral de todos os dirigentes em relação aos atos praticados de competência [de fiscalização] do TCU."

Porém, disse que a comunicação "não gera nenhum temor" e que "não há responsabilidade direta" dos membros do conselho nos casos sob apuração.

TCU decide apurar atos dos conselhos de Administração e Fiscal da Petrobrás

• Corte de Contas determinou que técnicos analisem se os conselheiros da estatal têm alguma responsabilidade nos casos que envolvem má gestão na petrolífera e que estão sendo julgados no tribunal

Andreza Matais, André Borges e Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu nesta quarta-feira, 18, que irá analisar se os conselhos de administração e fiscal da Petrobrás tiveram participação em falhas cometidas na gestão da estatal. Os ministros aprovaram a determinação em plenário, o que significa que a presidente Dilma Rousseff poderá ser corresponsabilizada e punida por eventuais decisões tomadas quando presidiu o conselho de administração da estatal de 2003 a 2010, quando era ministra do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No comando do conselho de administração, a presidente aprovou a compra da refinaria de Pasadena, nos Texas (EUA), que provocou prejuízo de US$ 792 milhões aos cofres públicos, entre outras decisões que agora serão analisadas. A punição vai desde indisponibilidade de bens a pagamento de multas.

O plenário da Corte de contas acatou uma sugestão do ministro substituto André Luís de Carvalho para que nos processos em discussão no tribunal que tratem de falhas de gestão também seja analisado “se os referidos conselhos praticaram atos de gestão ruinosa ou deixaram de atuar com o necessário dever de cuidado; expondo, portanto, todos os atos, fatos e procedimentos, efetivamente à luz do sol.” A determinação dos ministros é de que “em cada processo inerente a falhas na gestão da Petrobrás que a área técnica se manifeste conclusivamente sobre a responsabilidade” dos dois colegiados.

Atualmente, 40 processos envolvendo a Petrobrás estão em análise na área técnica. Desses, dez têm conexão com a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA) e 15 com investigações da Operação Lava Jato, que desvendou esquema de corrupção na petroleira. Os técnicos irão verificar a partir da nova determinação se esses casos foram analisados pelos conselhos fiscal e de administração.

Atribuições. Na defesa da estatal, os advogados da Petrobrás disseram, na tribuna, que a proposta aprovada hoje “sugestiona” que os conselhos de administração e fiscal tiveram responsabilidade além de suas atribuições. O ministro José Raimundo Carreiro, rebateu ao afirmar que os “auditores devem atentar à matriz de responsabilidades, para indicar a responsabilidade solidária do conselho.” Em nota ao Estado, o Palácio do Planalto afirmou que “o conselho de administração tem, como competência estatutária e legal, a atribuição de fixar, tão somente, a orientação geral dos negócios da companhia.” E que esta previsto no estatuto do TCU fiscalizar.

‘Impeachment é político, mas tem que ter base’, diz FHC

Débora Bergamasco – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Em meio a manifestações populares e pedidos departe da população para que a presidente Dilma Rousseff saia do poder, o ex presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ao Estado que o processo de impeachment se dá pela ingovernabilidade, e não necessariamente pelo cometimento de um crime. Ainda assim, é preciso “ter uma base, se não é golpe”. Para o tucano, a insatisfação popular com o atual governo, somada a novas denúncias na Lava Jato, pode levar à queda da chefe do Executivo. Mas FHC acredita que a presidente ainda “não está sem condições de governar e ela ainda pode reagir”.

“Na democracia,não é só porque a maioria ficou contra que isso seria razão suficiente para tirar o presidente. O problema é quando se cria uma situação de ingovernabilidade”, disse o tucano. “Hoje, ela (Dilma) tem legalidade para governar, mas ainda não tem como prever de antemão como será o processo político e o que vai aparecer na Operação Lava Jato. Não digo que envolva ela diretamente, mas pode envolver mais gente do PT e de outros partidos.”

FHC citou como exemplo o processo que tirou o hoje senador pelo PTB Fernando Collor de Mello da Presidência da República, em 1992, quando era filiado ao inexpressivo PRN. “O impeachment não é o julgamento de um crime.Veja o presidente Collor: ele foi absolvido de um crime no Supremo Tribunal Federal por falta de provas,mas ninguém discutiu se o impeachment valeu ou não. Foi um julgamento político.Mas é claro que tem que ter uma base, se não é golpe”, observou.

Para o tucano, a situação de “caos político”– como a Secretaria de Comunicação da Presidência definiu o atual momento, conforme documento revelado pelo portal www.estadão.com. br – pode se arrastar até o fim do mandato. “É possível não haver nem saída (para a crise política) nem desabamento. Nós já vimos vários governos que se arrastaram, o que é ruim para os que comandam e para o País”, afirmou FHC. “O ponto é que vão ser quatro anos. Mas pode ser que aconteça de fazer uma medida aqui, fazer outra ali, o povo não acredita muito, mas vai levando. Só duvido que nesse clima você restaure a confian- ça no investidor.”

Arrogância. Enquanto a oposição e partidos da base criticam o estilo de Dilma fazer política, muitas vezes considerado arrogante, Fernando Henrique estende essa suposta característica ao PT.Para o ex-presidente, o partido nasceu “arrogante”, com uma proposta “salvacionista”, mas com o escândalo do mensalão e as novas evidências de corrupção na Petrobrás reveladas pela Lava Jato perdeu “a imagem de ser um partido capaz de purificar”. 

Para fundamentar a crítica, o tucano voltou às origens. “Não gosto quando o ponto de partida é dizer ‘Eu sou o bom, eu sou o salvador’, porque isso é um mau começo e o PT foi muito arrogante nesse sentido. Porque se tem uma ideia autoritária.”E continuou: “Eu, como democrata, acredito no ‘Nós temos que ser capazes’, definição que implica discordância. O PT não tem essa visão democrática. E para quem tem uma visão salvacionista, ter dois de seus tesoureiros sendo comprometidos, não é brincadeira.” 

No decorrer da trajetória, a agremiação petista se tornou “autoritária”,segundo o ex-presidente. “O PT tem realmente um resquício de visão hegemônica no sentido autoritário, não no sentido de ter capacidade de influir via ideias e valores, mas no sentido de impor, via organização e poder.”

Emprego com carteira assinada cai em fevereiro ao pior nível em 16 anos

• No mês passado, quase 2,5 mil postos de trabalhos formais foram fechados

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - O mês de fevereiro foi o pior em ritmo de criação de empregos formais no país em 16 anos, segundo balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

No mês passado, foram fechados 2.415 postos de trabalhos formais no país. No ano passado, para o mesmo mês, haviam sido criadas 260 mil novas vagas. O resultado é o pior, em meses de fevereiro, desde 1999, quando foram fechadas 78 mil vagas, na esteira da crise internacional que teve início em 1998.

Pelo terceiro mês consecutivo, o nível de vagas fechadas superou a de ocupações criadas. No acumulado do ano verifica-se, até agora, uma queda de 80.732 vagas formais no país.

Os setores que mais encolheram em postos de trabalho no último mês foram construção civil e comércio. No caso da construção civil, o mês de fevereiro teve fechamento de 25,8 mil vagas. Em comércio, foram 30,3 mil empregos formais encerrados. Os piores meses desde 1992, histórico apresentado pelo MTE em entrevista coletiva.

A unidade da federação que mais perdeu empregos foi o Rio, com 11.101 vagas fechadas, no saldo líquido, ou uma redução de 0,3% do número de empregos formais. O ministro do Trabalho, Manoel Dias, reconheceu que a situação da Petrobras e a operação Lava-Jato influenciaram a conjuntura dos trabalhadores fluminenses. Ele lembrou que esteve recentemente no Rio para negociar com empregados terceirizados da empresa saídas para greves e demissões.

— Contratos da Petrobras com empresas estão em pleno vigor e em execução, mas há empresas terceirizadas com problemas. Certamente, nesse primeiro momento, a questão do Lava Jato influenciou em redução de empregos. A própria Petrobras, que tinha previsão de investimento de R$ 50 bilhões, previu redução de 20% para se readequar.

Impactos da situação da Petrobras se espalham em outras regiões do país, como por exemplo, em Pernambuco, disse Dias. O MTE está fazendo um levantamento sobre os efeitos da Lava Jato na situação do emprego em âmbito nacional, comentou o ministro, sem indicar data para a conclusão desse estudo.

Especialistas preveem mais demissões no mercado de trabalho ao longo de 2015

• Para estudiosos, país precisa gerar 1,8 milhão de empregos por ano

Danillo Fariello / Geralda Doca – O Globo

BRASÍLIA - Na visão de especialistas, a taxa de desemprego deverá subir de forma mais significativa nos próximos meses. O país precisa gerar 1,8 milhão de postos de trabalho por ano para absorver a População Economicamente Ativa (PEA, que representa a força de trabalho) e está perdendo empregos, disse o ex-diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly.

Segundo ele, as mudanças nas regras do seguro-desemprego vão prejudicar ainda mais os trabalhadores de setores com ciclo de atividade mais curto, como construção civil e comércio.

O economista Rafael Bacciotti, da Consultoria Tendências, também prevê que as demissões cresçam no país, diante da retração da atividade econômica em 2015. Ele observou que o Caged ainda vai mostrar de forma mais intensa os efeitos da Operação Lava-Jato no mercado de trabalho.

— A perspectiva de contração de atividade indica que o processo de demissões no Caged continuará ocorrendo ao longo do ano, inclusive captando os efeitos negativos da operação Lava Jato — destacou Bacciotti.

Nesta quarta-feira, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que o mês de fevereiro foi o pior em ritmo de criação de empregos formais no país em 16 anos, segundo balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No mês passado, foram fechados 2.415 postos de trabalhos formais no país. No ano passado, para o mesmo mês, haviam sido criadas 260 mil novas vagas. O resultado é o pior, em meses de fevereiro, desde 1999, quando foram fechadas 78 mil vagas, na esteira da crise internacional que teve início em 1998.

Dilma perde mais apoio entre seus eleitores

• Pesquisa mostra que 62% consideram governo "ruim ou péssimo", pior desempenho desde Collor, em 1992

Tatiana Farah – O Globo

Pesquisa Datafolha

SÃO PAULO - Mais do que amargar a segunda pior avaliação de um presidente desde as eleições diretas de 1989, a presidente Dilma Rousseff viu sua aprovação praticamente se desintegrar entre o eleitorado que sempre foi mais favorável ao PT. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada ontem, o governo da petista é avaliado apenas por 13% dos entrevistados como "bom e ótimo", contra 62% de "ruim e péssimo". Em dezembro, pouco antes da posse do segundo mandato, esse último índice era de 24%. Em fevereiro, chegou a 44%. Dilma vive agora seu pior momento no poder. Sua popularidade piorou, sobretudo, entre os eleitores com menor renda e escolaridade, segmentos onde teve mais votos.

Rejeição maior na classe C
Entre os eleitores que ganham até dois salários-mínimos, a aprovação caiu de 50%, em dezembro, para 15% e a reprovação subiu de 19% para 60%. O cenário é ainda pior entre os eleitores com renda familiar entre dois e cinco salários mínimos, faixa que concentra a classe C, também chamada de nova classe média: a reprovação aumentou de 33% para 66%. É uma taxa maior até que a de "ruim e péssimo" dos eleitores das faixas de renda maior, que ficou em 65%.

No Norte e Nordeste, onde o PT tem mais eleitores, Dilma vive uma situação inversa à de dezembro passado, quando encerrou seu primeiro mandato. No Norte, de 52% de "ótimo e bom" e 20% de "ruim e péssimo", o cenário mudou para 51% de reprovação contra apenas 21% de aprovação. No Nordeste, a equação 53% de aprovação e 16% de reprovação se inverteu para 16% de "bom e ótimo" e 55% de "ruim e péssimo". A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.

Dilma teve o pior resultado de um presidente no cargo desde 1992, quando Fernando Collor era rejeitado por 68% às vésperas do impeachment. O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, afirmou que o cenário é "raro de ser ver", mas o mais preocupante é a queda entre setores que tradicionalmente apoiam o governo.

- Não se sabe se esses setores vão aderir aos protestos. É uma reação que deve ser observada nos próximos meses - analisou Paulino, que atribuiu a perda de apoio à crise econômica e ao medo do desemprego. - Some-se a isso as fartas denúncias de corrupção.

O levantamento do Datafolha, feito esta semana, aponta que 60% estão pessimistas sobre a economia. A nota atribuída ao desempenho da presidente ficou em 3,7, numa escala de 0 a 10. Em fevereiro, a nota foi 4,8. Em guerra com o Planalto, o Congresso Nacional também é mal avaliado. Apenas 9% classificaram o desempenho dos parlamentares como "ótimo ou bom".

- A pesquisa não surpreende, diante de um governo completamente perdido em sua frente política. Há uma piora muito clara da situação econômica e uma frustração de expectativa dos eleitores. As manifestações de 2013 já eram sintomas dessa perda de confiança - analisa o cientista político Cláudio Couto, da FGV-SP.

Para Carlos Melo, do Insper, a saída para Dilma é difícil:

- Ela precisa dar respostas rápidas na economia, conter o desemprego. E esse é justamente o maior desafio.

Para o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, a pesquisa era previsível e o momento pede "calma e tranquilidade". O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que, ao longo de quatro anos, a presidente tem condições de virar o jogo:

- A pesquisa é uma fotografia, que registra o momento. A realidade muda. É um momento que deve ser analisado, de reflexão, mas não aprisiona a realidade.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que os números retrataram as manifestações de domingo:

-E alguém tinha alguma expectativa diferente? Precisa saber como o governo vai reagir.

Aécio culpa mentira
Na oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado nas eleições de 2014, disse que a queda na avaliação da presidente está ligada à falta de entendimento da gravidade da crise:

- O governo não enfrenta com a coragem e com a responsabilidade devida a crise de desconfiança que hoje permeia a sociedade brasileira em razão da mentira que conduziu a campanha da atual presidente e as denúncias de corrupção que cada vez chegam mais perto do governo.

(Colaboraram C Atarina Alencastro, Luiza Damé, Júnia Gama e Stella Borges, estagiária)

Instituto tucano compara Dilma a Collor

• Análise do Instituto Teotônio Vilela, braço de formulação política do PSDB, faz duras críticas à presidente e sugere que ela pode sofrer impeachment

José Roberto Castro - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Uma análise do Instituto Teotônio Vilela, braço de formulação política do PSDB, sugere que a presidente Dilma Rousseff sofrerá impeachment. Em documento que comenta a queda de popularidade de Dilma, o ITV escreve que "os brasileiros têm motivos de sobra para detestar a petista cada vez mais".

"Diante do quadro atual de descontrole e descalabro e da erosão de popularidade, Fernando Collor que se cuide. Dilma Rousseff caminha para lhe fazer companhia como presidente da República que teve que deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos, execrada pelos brasileiros", afirma o Instituto. Collor sofreu impeachment pelo Congresso Nacional em 1992, menos de três anos após tomar posse. A nota só cita a palavra impeachment para se referir a Collor.

Mais cedo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que "o processo de impeachment se dá pela ingovernabilidade e não necessariamente pelo cometimento de um crime". "Hoje ela (Dilma) tem legalidade para governar, mas ainda não tem como prever de antemão como será o processo político, o que vai aparecer na Operação Lava Jato. Não digo que envolva ela diretamente, mas pode envolver mais gente do PT e de outros partidos", disse o tucano.

Antes de falar sobre um possível impeachment de Dilma, o ITV chama o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, de patético e diz que a tese do PT que a insatisfação com o governo está na oposição é "furada". "A grita é ampla, geral e irrestrita, alimentada pelos sentimentos de frustração, de desalento e de revolta", afirma o documento.

O ITV cita ainda o relatório da Secretaria de Comunicação da Presidência obtido nessa terça com exclusividade pelo Estado que afirma que desde as eleições 32% dos eleitores de Dilma mudaram de opinião negativamente sobre o governo. O braço de formulação política dos tucanos acusa a Secom de sugerir "gastar mais dinheiro público com publicidade".

"Como o que os petistas mais gostam é de desviar dinheiro pago pelo contribuinte, é fratricida no governo a briga para transferir para a mão de petistas a verba a ser despejada na publicidade oficial. Quem criou o mensalão e o petrolão entende do assunto…", diz.

A nota, publicada no site do PSDB, não é assinada. O presidente do ITV é o ex-deputado capixaba Luiz Paulo Vellozo Lucas, que comanda também o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo.

Dilma derrete” - ITV

Neste fim de verão, o sol já não brilha mais tão inclemente, mas Dilma Rousseff derrete a olhos vistos. A pesquisa do Datafolha publicada hoje a torna a presidente mais mal avaliada da história da República em época de normalidade democrática. Os brasileiros têm motivos de sobra para detestar a petista cada vez mais.

Segundo a pesquisa, 62% dos brasileiros consideram o governo Dilma ruim ou péssimo. Apenas Fernando Collor foi pior avaliado pela população, mas seu recorde de 68% só foi alcançado às vésperas do impeachment, em setembro de 1992. Seis meses antes, ele ainda tinha apenas 48% de desaprovação, o que é hoje uma miragem para Dilma.

A popularidade da presidente esvaiu-se em todas as faixas salariais e em todas as regiões do país. Qualquer que seja o nível de renda, Dilma é desaprovada por pelo menos 60% da população. Ao redor do Brasil, sua média de ruim ou péssimo é sempre superior aos 51% aferidos no Norte, chegando a 75% no Centro-Oeste.

Os números jogam definitivamente por terra a tese furada de petistas – sendo o mais patético deles o ministro Miguel Rosseto – de que só eleitores da oposição se sentem insatisfeitos com o desgoverno da presidente. A grita é ampla, geral e irrestrita, alimentada pelos sentimentos de frustração, de desalento e de revolta.

Mas o Datafolha mostra que, para os entrevistados, o que está ruim pode ficar ainda pior. Para 60% da população, a situação da economia ainda vai degringolar mais, com alta do desemprego (66%) e da inflação (77%). Não está mole para ninguém.

Mesmo os eleitores de Dilma têm percepção negativa do governo dela e comungam praticamente das mesmas expectativas negativas quanto ao futuro do país expressada pela média dos brasileiros. Numa pesquisa interna da Secretaria de Comunicação, desde as eleições 32% mudaram de opinião negativamente em relação ao governo. Pelo Datafolha, a desaprovação da presidente subiu 42 pontos desde outubro passado.

O documento oficial sugere qual deve ser a receita para tirar Dilma do corner: gastar mais dinheiro público com publicidade, especialmente para convencer os eleitores de São Paulo, e abastecer a “guerrilha política” e seus “soldados” com munição – entenda-se também verbas – distribuída pelo governo.

Como o que mais gostam é de desviar dinheiro pago pelo contribuinte, é fratricida no governo a briga para transferir para a mão de petistas a verba a ser despejada na publicidade oficial. Convenhamos: quem criou o mensalão e o petrolão entende do assunto…

Diante do quadro atual de descontrole e descalabro e da erosão de popularidade de Dilma, Fernando Collor que se cuide. A petista caminha para lhe fazer companhia como presidente da República que teve que deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos, execrada pelos brasileiros.

Merval Pereira - Agonizando em praça pública

- O Globo

As últimas 24 horas demonstraram com rigor a crise profunda em que o governo Dilma está mergulhado, agregando uma série de problemas criados por seu próprio entorno aos que já estão sobre a mesa desde a reeleição. Dois fatos especialmente aumentaram a pressão sobre o governo: um documento atribuído à Secretaria de Comunicação (Secom) com sugestões absurdas da tática a ser usada para tentar reverter a popularidade negativa do governo; e a crise criada por um comentário do ministro Cid Gomes, repetindo como farsa uma frase de Lula em 1989 sobre a quantidade de picaretas e achacadores que o Congresso abriga.

Não bastassem os problemas que o governo tem de enfrentar sem apoio da base aliada, que continua dividida entre seus próprios interesses e a tentativa de fazer populismo num momento de grave crise econômica, vem o ministro Cid Gomes levar para dentro do Palácio do Planalto uma crise política que seria dispensável nesse momento.

Lula já dissera, quando terminou seu mandato de deputado constituinte, que havia 300 picaretas no Congresso. Essa sua frase não foi obstáculo para que, anos mais tarde, fizesse acordos políticos com a maioria desses picaretas, e mais alguns que surgiram pelo caminho.

Já Cid Gomes, depois de ter dito coisa similar, saiu ontem do Congresso debaixo de críticas contundentes, que recebiam aplausos dos "achacadores" de plantão. Para o ex-governador do Ceará, há no Congresso entre 300 e 400 deputados que vivem do quanto pior, melhor. Seriam os "achacadores" do governo, que, disse ele na fala em que supostamente pediria desculpas, deveriam "largar o osso".

Sua maneira arrogante de se dirigir ao Congresso, até mesmo apontando o dedo para o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, dizendo que preferia ser chamado de mal-educado a ser acusado de achacador como Cunha o fora pelo Ministério Público, só fez piorar a situação, embora possa ter tido sucesso em setores do Palácio do Planalto que pensam como ele e não podem explicitar esse sentimento. Não está aqui em questão se o ministro da Educação tem ou não razão, ou se ele é a pessoa mais adequada para fazer essa acusação. Cid Gomes simplesmente atravessou a calçada para escorregar em uma casca de banana, e o pedido de demissão é uma consequência lógica da pressão do PMDB, mas o que importa é que governo vai agonizando em praça pública.

Só um governo destrambelhado, sem comando e sem rumo como esse, não resolve esse problema com a demissão do ministro no momento exato em que a frase foi divulgada, não importa se o conteúdo é verdadeiro ou não.

E também só em um governo que está em seus estertores acontece o vazamento de um documento como o da Secom. E só num governo incompetente que alguém coloca no papel propostas tão absurdamente ilegais como se fossem naturais. Como, por exemplo, reconhecer que há uma simbiose entre o aparato oficial de comunicação do governo e o do PT, além de elementos externos, como os chamados "blogueiros sujos", classificados de "soldados" de fora do governo, pagos para fazer uma "guerrilha" de informação:

"As responsabilidades da comunicação oficial do governo federal e as do PT/Instituto Lula/bancada/blogueiros são distintas. As ações das páginas do governo e das forças políticas que apoiam Dilma precisam ser muito melhor coordenadas e com missões claras. É natural que o governo (este ou qualquer outro) tenha uma comunicação mais conservadora, centrada na divulgação de conteúdos e dados oficiais. A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele."

Diz também o documento atribuído à Secom e não desautorizado, que "a publicidade oficial em 2015 deve ser focada em São Paulo, reforçando as parcerias com a Prefeitura. Não há como recuperar a imagem do governo Dilma em São Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do Haddad. Há uma relação direta entre um e outro."

Não é com propaganda que os governos, o de Dilma e o do prefeito Fernando Haddad, recuperarão a popularidade perdida devido à incompetência no trato das questões do dia a dia do cidadão-eleitor. Só fatos, decisões concretas e reconhecimento de erros farão com que seja possível pensar em uma recuperação de imagem. E assim mesmo sem garantia de sucesso. A proposta só demonstra claramente como o governo Dilma se confunde com o PT e não tem uma visão global, nem dos problemas nem das soluções.

Um governo para todos, balela da propaganda oficial.

João Bosco Rabello - Para consumo interno

- O Estado de S. Paulo

Documentos para consumo interno, quando escapam ao controle de seus consumidores, têm o mérito de desnudar a dissimulação política, comum a todos os governos, especialmente em períodos de crise e consequente perda de aprovação pela população.

É precisamente o que ocorre com o governo Dilma, como mostra documento interno obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, em que a Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto define o momento político como “caótico”, de difícil reversão, com a presidente “encastelada”, o seu eleitor arrependido e a oposição ganhando a batalha da comunicação.

O documento, de autoria atribuída ao ministro Thomas Traumann, diz o que o governo não admite para efeito público, desde a frustração do eleitorado com a distância entre promessas de campanha e comportamento pós-eleição, até a crítica à ruptura com o sistema de alimentação de blogs chapas-brancas, responsável pela queda da antecessora no cargo, Helena Chagas.

Traumann considera que essa inflexão na estratégia de distribuição das verbas produziu um “rompimento com a militância digital” – e, aqui, embora a crítica se oponha à virtude -, revela a dependência do governo de um sistema viciado e , no mínimo antiético, que consiste em patrocinar com verbas públicas o jornalismo amador e a favor, engajado por remuneração.

O documento ataca também a gestão da ex-ministra Ana de Holanda, por defender os direitos autorais, em grau que considera “ferrenho”, e que interrompeu o pacto governista com as redes sociais, mantido por um consumo socialista com o chapéu alheio.

Investe-se contra o direito universal consagrado de domínio pleno da obra pelo autor, em favor de uma política estatal que pretende construir sólido apoio no público consumidor com redução do direito autoral, sem que seu legítimo beneficiário se disponha a tal.

Em continuidade, diz o texto que a nomeação do ministro Joaquim Levy para o ministério da Fazenda, agrava a ruptura com o eleitor petista, por materializar a traição do discurso de campanha. As primeiras medidas de Levy, segundo o texto, produziram mágoa profunda no eleitor de Dilma – de resto, algo confirmado pela pesquisa Datafolha coincidentemente publicada no mesmo dia em que se toma conhecimento do conteúdo do ministro da Secom.

A sugestão de Traumann para começar a abrir portas de saída para o governo é mais do mesmo, ou seja, o retorno dessas políticas, que chama de “ação coordenada de comunicação”, que restaure o sistema interrompido por Helena Chagas. Prega a restauração do que ele próprio define de “guerrilha política”, na expressão talvez mais precisa da forma eliminativa do PT fazer política e que lhe custa hoje o isolamento na base aliada.

A guerrilha precisa de soldados de fora, diz o texto, com munição de dentro do governo. Nada mais ilustrativo do engajamento comprado do que essa construção. A munição são os recursos públicos disponibilizados a blogueiros e internautas, soldados da “causa” de contrapor ao jornalismo independente e profissional a “verdade” que a “mídia golpista” esconde.

A verdade, porém, está em outro trecho do documento em que algum reconhecimento à realidade é feito. “Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20%, desde novembro, ou a sua conta de luz saltar em 33%”.

Essa é a realidade, que tem causa em erros cometidos no primeiro mandato na gestão da economia e que não há “guerrilha digital” que conserte. Os aumentos da gasolina e da luz resultam do represamento artificial das tarifas, em atos populistas da pior espécie, revogados agora pela inviabilidade de sustentá-los.

Essa a informação essencial ao público, que está nos jornais da “mídia conspiradora”, que o governo reconhece em papéis internos, mas que não saem nos blogs patrocinados.

De qualquer forma, percebe-se que o desenho desse processo projeta a saída iminente do ministro, confirmando versões de que não desejava continuar no cargo, onde estaria somente por conveniência pessoal da presidente da República, por prazo indeterminado.

Esse é o ponto: Traumann, certamente, estabeleceu prazo imediato para a sua saída, independentemente do vazamento do documento, que só pode apressá-la. Extrai-se da leitura a óbvia insatisfação com críticas à condução da política de comunicação e com a disputa pelas verbas oficiais, que o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, quer sob o comando de sua pasta.

Luiz Carlos Azedo - Um olho na praça, outro na rua

• Cid Gomes pula de um barco à beira do naufrágio, na opinião de nove entre 10 aliados da presidente Dilma. O governo atingiu a mais alta taxa de reprovação desde 1992, vésperas do impeachment de Collor

- Correio Braziliense

Um dos sintomas de agravamento da crise do governo Dilma Rousseff é a sucessão de fatos fora do controle, que surpreendem quem deveria estar no comando da situação. Foi o que aconteceu ontem com o Palácio do Planalto, que começou o dia com uma solenidade cheia de pompa e circunstância, na qual a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciaram o pacote anticorrupção do governo, e terminou o expediente com o anúncio de que o ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), depois de arrumar um bafafá na Câmara dos Deputados, havia pedido demissão.

Apesar da veemente defesa que fez da presidente Dilma na Câmara, o ex-governador do Ceará foi o primeiro integrante do governo a pular fora do barco no segundo mandato. Fez isso em grande estilo, afrontando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e os demais deputados. O piquenique no plenário da Casa apenas roubou a cena do dia armada para melhorar a imagem de Dilma, que anda ruim ou péssima para a maioria dos cidadãos.

Cid Gomes surfou a crise entre a presidente e o Congresso com um olho na rua e outro na Praça dos Três Poderes. Abandonou o plenário da Câmara depois de fazer, da tribuna, um apelo aos deputados “oportunistas”, que detêm cargos na administração federal mas não dão apoio ao governo no Congresso, para que “larguem o osso, saiam do governo”.

Foi à Câmara por convocação, devido a uma declaração dada no último dia 27, durante palestra a estudantes da Universidade Federal do Pará. Na ocasião, Cid afirmou que a Casa tem de 300 a 400 parlamentares que “achacam”. “Eles querem é que o governo esteja frágil, porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”, disse em Belém.

No plenário da Câmara, depois de relatar a “conversa informal” com os estudantes, reiterou tudo o que disse, para desconforto de Eduardo Cunha. Houve reação generalizada dos líderes de bancada, mas era tudo o que o ex-governador do Ceará queria para se retirar em protesto e depois pegar o boné em grande estilo.

Quando foi ao Palácio do Planalto, apenas consumou uma decisão que já havia tomado. “A minha declaração na Câmara, é óbvio que cria dificuldades para a base do governo. Portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento. Pedi demissão em caráter irrevogável”, declarou.

Mas aproveitou para fazer média com a presidente da República: “O que a Dilma está fazendo é limpar o governo da corrupção. Essa crise de corrupção é uma crise anterior a ela. Ela está limpando e não esta permitindo isso. Está mudando isso. E isso, óbvio, cria desconforto.”

Reforma ministerial
A efêmera passagem pelo Ministério da Educação foi tumultuada pelas mudanças nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), com estudantes tendo dificuldades para conseguir o benefício, e uma série de ações na Justiça feitas pelas mantenedoras. Cid disse que não daria o Fies para faculdade que reajustasse a mensalidade acima de 4,5%, mas depois teve de recuar e subir o limite para 6,4%. Ainda assim, o contencioso com as mantenedoras continua.

Cid Gomes não estava preparado para ocupar o cargo de ministro da Educação. A reivindicação dele era o Ministério da Integração Nacional, posição pleiteada também pelo líder do PMDB, Eunício de Oliveira (CE). Acabou na pasta por obra e graça da estratégia montada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com objetivo de enfraquecer o PMDB, que também passou pela entrega do Ministério das Cidades ao ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD).

Na queda de braço de Dilma Rousseff com o PMDB, as duas pastas eram vistas como mais importantes, em termos de orçamento, do que os ministérios sob controle da legenda. Com a saída do ex-governador do Ceará, abre-se caminho para uma mudança ministerial que aumente a presença da legenda no governo.

Cid Gomes, porém, pula de um barco à beira do naufrágio, na opinião de nove entre 10 aliados da presidente Dilma Rousseff. O governo atingiu a mais alta taxa de reprovação desde 1992, pouco antes do impeachment de Collor, segundo o Datafolha. Para 62% dos entrevistados, a gestão da presidente é ruim ou péssima.

Feita nos dois dias após as manifestações de domingo, a pesquisa mostra que a desaprovação de Dilma subiu 18 pontos desde o começo de fevereiro. Com somente 76 dias de segundo mandato, a aprovação da petista chegou a 13%, queda de 10 pontos em seis semanas. O pessimismo da população é alto: para 69% dos entrevistados, o desemprego deve crescer. A inflação tamnbém, para 77% (em fevereiro, 81% tinham essa opinião). A nota média dada a Dilma é de 3,7%.

Bernardo Mello Franco - Cunha derrubou mais um

- Folha de S. Paulo

A "pátria educadora" assistiu ontem a uma cena inédita. Sem se levantar da cadeira de presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha anunciou ao país a queda do ministro da Educação.

"Comunico à Casa o comunicado que recebi do chefe da Casa Civil comunicando a demissão do ministro da Educação, Cid Gomes", afirmou, em sessão transmitida ao vivo na TV.

Foi a segunda cabeça entregue ao peemedebista em um mês e meio. É um desempenho notável para um desafeto da presidente da República que responde a inquérito por suspeita de receber propina do petrolão.

Pouco depois de tomar posse, Cunha exigiu a troca do então líder do governo na Câmara, Henrique Fontana. O petista havia feito campanha para um aliado que o enfrentou na disputa pela presidência da Casa.

"Não participaremos de nenhuma discussão sobre matérias do governo em que ele seja o interlocutor", afirmou o peemedebista. Alguns dias depois, Fontana estava na rua.

O filme se repetiu ontem. Escalado por Cunha para substituí-lo na liderança do PMDB, o deputado Leonardo Picciani imitou suas palavras ao cobrar a demissão do ministro. "Não participaremos de nenhuma reunião com ele", declarou.

Em poucos minutos, o Planalto confirmou que o presidente da Câmara havia feito mais uma vítima.

Cid não entrou na mira de Cunha por dizer que "300 ou 400 achacadores" usam broche de deputado. Caiu porque articulava, com aval do governo, a criação de um novo partido para enfraquecer o PMDB.

Sua demissão foi mais um desastre para o Planalto, no dia em que Dilma tentava reagir à queda de popularidade e criar um fato positivo com o pacote anticorrupção.

Cada vez mais fortalecido, Cunha se afirmou como uma espécie de derrubador-geral da República. A cabeça de Cid, o Breve, repousará como novo troféu em sua estante. Para a presidente, a má notícia é que ele só pensa em aumentar a coleção.