segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

Para o relógio da política democrática a hora é a da Carta de 88, pois é a partir dela e do aperfeiçoamento de suas instituições que se pode divisar uma saída para a gravidade da crise atual, não apenas política, mas também econômica, ético-moral e de rumos para o País. Fernando Gabeira, em recente e brilhante artigo neste jornal, utilizou-se da metáfora do ciclista que, para não cair, precisa manter seu veículo em movimento. Sem movimento não se escapa desse nó que nos constrange, e o mais seguro é o que ganhar impulso no campo da política. Pedalar é preciso, mas pedaladas em falso podem desequilibrar não apenas o ciclista, como também o País.
---------------------
*Luiz Werneck Vianna é sociólogo da PUC-Rio – ‘Nó de marinheiro’. O Estado de S. Paulo, 6 de setembro de 2015

Decisão do STF amplia apressão sobre o Planalto

• Abertura de inquéritos contra os ministros Edinho Silva e Aloizio Mercadante reforça movimento por reformas que estanquem a crise

Inquérito sobre 2 ministros reforça pressão por reforma

• STF autorizou apuração sobre Edinho e Mercadante, ambos próximos a Dilma

• Também acusado por dono da UTC, senador tucano Aloysio Nunes é outro que passa a ser investigado na Lava Jato

Natuza Nery, Aguirre Talento, Márcio Falcão, Gabriel Mascarenhas e Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A abertura de inquéritos contra dois dos principais assessores da presidente Dilma Rousseff reforçou a pressão por reformas no Planalto como única saída para superar a crise política, segundo ministros ouvidos pela Folha.

O novo motivo de preocupação é a abertura de inquéritos na Lava Jato para investigar os ministros Edinho Silva (Secretaria de Comunicação), tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, e Aloizio Mercadante (Casa Civil), como noticiou o "Jornal Nacional" de sábado (5) e o jornal "O Estado de S. Paulo".

Ambos estão entre os vários políticos citados pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, delator, como beneficiários de recursos de corrupção na Petrobras. Por isso, a Procuradoria pediu ao ministro do Supremo Teori Zavascki a abertura dos inquéritos. O objetivo é aprofundar as apurações.

Pessoa disse que deu R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma em 2014 após ter sido coagido por Edinho, que teria pedido um valor maior. Em julho, a revista "Veja" reproduziu trechos da delação de Pessoa. Segundo a publicação, ele disse ter ouvido o seguinte de Edinho: "Você tem obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Eu estou precisando".

Sobre Mercadante, o delator citou ter dado recursos ilícitos à sua campanha ao governo paulista em 2010. Teriam sido R$ 750 mil, sendo R$ 250 mil "por fora". Firmas de Pessoa constam como doadoras oficiais de R$ 500 mil.

Teori também desmembrou as investigações sobre a delação de Pessoa e remeteu à Justiça Federal do Paraná citações à campanha de Lula em 2006 e de Dilma em 2010.

Isso porque Pessoa também disse ter feito contribuições clandestinas nas duas ocasiões. Ele teria dito, segundo relatos, que fez repasses ilegais ao ex-deputado José de Filippi Júnior (PT-SP), que foi tesoureiro das campanhas petistas em 2010 e 2006.

O capítulo sobre Filippi foi à primeira instância porque ele não tem foro privilegiado. A Folha não conseguiu localizá-lo para comentar

Sistema nervoso
As investigações da Lava Jato já haviam apontado para o uso de recursos do esquema de corrupção na Petrobras pelo PT. Isso resultou na prisão do ex-tesoureiro da sigla João Vaccari. Mas não havia até agora nenhuma investigação formal que pudesse atingir a campanha de Dilma em 2014.

Além disso, o inquérito sobre Mercadante e Edinho atinge o sistema nervoso do Planalto. Mercadante é o braço direito de Dilma; Edinho atuava como "bombeiro" da crise.

Integrantes da cúpula do governo passaram a afirmar, nos bastidores, que a situação política está se deteriorando muito rapidamente e que só com mudanças drásticas será possível vencer a crise.

Os desgastes dos últimos 15 dias foram intensos. Falou-se em risco de queda do ministro Joaquim Levy (Fazenda); houve apresentação e recuo da CPMF; empresários deram um espécie de ultimato.

Para auxiliares, só uma profunda reforma ministerial e administrativa, com corte radical de cargos, recuperaria a gestão. "Tira todo mundo, recomeça, não sei. Mas faz alguma coisa nos próximos dez dias", disse um ministro.

Em agosto, o Planalto anunciou a redução de dez ministérios e o fim de parte dos cargos comissionados, mas até agora nada ocorreu.

Auxiliares até agora relativamente otimistas começam a ver o "cerco" se fechando. Dilma isolou-se nas últimas semanas. Reúne bem menos o núcleo político, despachando cada vez mais com um pequeno grupo. O único sempre presente é Mercadante. Mas é também dele a cabeça que setores do PMDB, do vice Michel Temer, pedem como uma das formas de resolver a crise.

A relação de Mercadante com Temer e líderes das siglas aliadas nunca esteve tão ruim. Até Lula já insistiu com Dilma pela troca por alguém com mais "sensibilidade política".

Tucano
Teori também determinou a abertura de inquérito sobre o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Pessoa disse ter repassado recursos ilícitos à campanha de 2010 do tucano, o que ele nega .

Como a maioria dos depoimentos de Pessoa ainda são sigilosos, não há detalhes sobre o caso. Não está claro, por exemplo, se os recursos seriam provenientes de corrupção na Petrobras.

Temer nega conspirar contra Dilma e prega união

• Vice tenta minimizar impacto de previsão sobre risco para o governo

Apesar da declaração, auxiliares da presidente continuam a desconfiar da atuação do peemedebista nos bastidores

Após afirmar que dificilmente a presidente Dilma Rousseff chegará ao fim do mandato se mantiver baixa popularidade, o vice- presidente Michel Temer divulgou nota ontem para negar as “teorias” de que conspire contra a petista. O peemedebista disse que “a hora é de trabalho e de união” e que atua para o Brasil chegar em 2018 em melhores condições do que as de hoje. Apesar da manifestação de Temer, auxiliares de Dilma mantêm desconfiança sobre as atitudes do vice, que recentemente deixou a articulação política do governo.

Vice nega conspiração

• Temer diz que ‘ trabalha e trabalhará com Dilma para o Brasil chegar a 2018 melhor do que está hoje’ 

(Temer) Advoga que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise política e econômica que enfrentamos” 

A hora é de trabalho e de união. Michel Temer Vice- presidente da República

Simone Iglesias - O Globo

- BRASÍLIA- O vice- presidente Michel Temer reagiu duramente ontem para afastar as especulações de que estaria conspirando para assumir a cadeira da presidente Dilma Rousseff e, em nota, negou qualquer movimento conspiratório, afirmando que trabalhará ao lado da petista até 2018, quando se encerrará o mandato, para que o Brasil fique “melhor do que está hoje”. Incomodado com as críticas, o peemedebista disse que o momento é de “união” e que as intrigas são adversárias do Brasil.

“A hora é de trabalho e de união. Apesar de seu zelo, e atento ao cargo que ocupa, não são poucas as teorias divulgadas de que suas atitudes podem levar à ideia de conspiração. ( Temer) repudiaa. Seu compromisso é com a mais absoluta estabilidade das instituições nacionais”, afirma trecho da nota da assessoria de imprensa.

O texto diz, ainda, que o vice- presidente sempre expôs suas posições políticas de forma franca e aberta e que “não se move pelos subterrâneos, pelas sombras, pela escuridão”.

“O vice- presidente... trabalha e trabalhará junto à presidente Dilma Rousseff para que o Brasil chegue em 2018 melhor do que está hoje. Todos seus atos e pronunciamentos são nessa direção. Defende que todos devem se unir para superar a crise. Advoga que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise política e econômica que enfrentamos”, diz outro trecho.

O que mais causa desconforto em Temer é ter sua imagem associada a movimentos que podem ser considerados golpismo, especialmente porque é considerado um dos constitucionalistas mais importantes do país e também porque no começo da década de 1980 esteve na linha de frente da defesa das Diretas Já, segundo um peemedebista próximo ao vice. Soma- se a essas duas questões o fato de presidir o PMDB, partido nascido da luta pela democracia.

“Sua única cartilha é a Constituição. Especialmente a atual, que tem a democracia como seu fundamento estruturante. ( Temer) é legalista por convicção e por vício profissional. Seu limite é a lei. Sabe até onde pode ir”, diz mais um trecho da nota.

Apesar das explicações públicas do vice neste fim de semana, há mal- estar no entorno de Dilma com suas declarações. Uma fonte do Planalto disse ao GLOBO que não adianta o peemedebista culpar as intrigas, se participou voluntariamente de uma reunião com grupos que são contra o governo.

A relação entre Dilma e Temer, juntos no comando do país desde 2011, nunca foi de extrema confiança, muito menos de amizade, e vem se deteriorando desde o começo deste ano, ora motivada por brigas entre petistas e peemedebistas, ora por intrigas palacianas, e ora por declarações mais duras do próprio vice sobre as dificuldades enfrentadas pelo governo. De um mês para cá, a parceria esfriou completamente.

Na última quinta- feira, a um grupo de empresários paulistas ligados ao movimento oposicionista “Acorda Brasil”, Temer declarou que é difícil Dilma resistir até o fim do mandato com a popularidade em baixa como a registrada atualmente em pesquisas. O vice afirmou na ocasião que nada poderá fazer se a aprovação ao governo não subir. Segundo as últimas pesquisas, a popularidade da presidente está em torno de 7%. Nesse mesmo evento, ele também disse que não acreditava que Dilma renuncie, por ser uma mulher “guerreira”.

— Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável — afirmou Temer na quinta- feira passada: — Mas, se ela continuar com 7%e 8% de popularidade, fica difícil — acrescentou.

As declarações de Temer causaram forte reação entre os petistas e no governo, que consideraram sua fala “desastrosa”. Apesar da análise interna, ministros petistas disseram publicamente que a fala do vice foi tirada do contexto, numa tentativa de evitar um clima de conflagração no governo.

Antes desse episódio, no começo de agosto, auge do isolamento político do governo, o vice havia dito que o Brasil precisava de “alguém” capaz de unificar o país. Ao fazer um apelo público instando os políticos a se unirem contra a crise, afirmou:

— É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o país.

A posição gerou críticas internas e reacendeu a desconfiança entre petistas e peemedebistas, especialmente entre ministros e auxiliares presidenciais que viram na frase um “ato falho” de Temer, que, segundo eles, estaria tentando se colocar no lugar de Dilma. Um dia depois da declaração, ele colocou o cargo na articulação política à disposição, mas Dilma disse que nada havia mudado.

Distanciada de Temer e sem uma ponte com os peemedebistas, Dilma foi aconselhada pelo ex- presidente Lula a tentar uma reaproximação. Ela, então, chamou Temer para um almoço na semana passada. Convidou o vice a reassumir a articulação política, pedido rejeitado prontamente.

Temer diz que pode ter sido sabotado no governo

• Em entrevista, vice diz que a aliança com o PT está desgastada

- O Globo

Na estreia do programa “Preto no Branco”, do Canal Brasil, o vice- presidente Michel Temer ( PMDB- SP) afirmou que houve uma tentativa de boicote a seu trabalho no comando da articulação política do governo. Apesar disso, negou que esse fato o tenha pressionado a deixar o posto há duas semanas. Em entrevista ao colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno, na noite de ontem, Temer disse que, como articulador político, “desmatou” para que outros agora possam trabalhar, e que viu de forma positiva o fato de integrantes do governo estarem procurando lideranças do PMDB para abrir um canal alternativo de diálogo:

— De alguma maneira esse fato se verificou ( tentativa de boicote). Foram esses desajustes que, muitas vezes, acontecem em qualquer governo. Mas não foi isso que me pressionou, não ( a deixar a articulação política), porque nós, da vida pública, temos que estar acima dos acontecimentos. Quando vi que, de fato, alguns tantos estavam procurando lideranças, disse: “Olhe só, que coisa boa: o governo está encontrando seu caminho”. Eu abri o caminho, a senda, desmatei e agora, com o caminho aberto, as pessoas podem trabalhar.

O vice teve sua atuação questionada depois de declarar, no início de agosto, que era preciso “alguém” para reunificar o país. A frase foi interpretada por ministros ligados a Dilma como um sinal de que Temer estaria de olho na Presidência.

— O que mais me ofendeu nesse episódio foi me darem o epíteto de asno, quer dizer, sou tão burro que sou capaz de verbalizar uma coisa como essa. Se estivesse querendo fazer isso, jamais pronunciaria aquela palavra. Eu agiria subterraneamente — afirmou Temer, que disse ter combinado com Dilma a declaração e que ela “não se deixou levar por intrigas”.

Candidatura a presidente
O peemedebista admitiu a possibilidade de se lançar candidato a presidente em 2018:

— Isso depende muito das circunstâncias. Não nego, nem deixo de aprovar. Na minha vida pública, nunca escolhi muito o que ia fazer, era levado pelas circunstâncias e tem que ser assim.

Ele admitiu, porém, que a aliança do partido com o PT está desgastada e apresentou uma hipótese “extrema” para 2018: a de a legenda lançar candidato e os petistas o apoiarem, uma combinação que seria inédita.

— Desgastada está ( a aliança com o PT), mas nunca se sabe o que vai acontecer lá para frente — ponderou o vice.

Sobre o envio ao Congresso do Orçamento de 2016 com déficit que pode chegar a R$ 70 bilhões, Temer voltou a defender um Orçamento transparente, ainda que tenha admitido que a previsão de rombo não tem boa repercussão.

Impopular, Dilma não fará pronunciamento

• Presidente estará ao lado de Temer e outros dez ministros no desfile

Eliane Oliveira - O Globo

- BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff acompanhará o desfile de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, mesmo correndo o risco de ser vaiada. Junto com ela estarão o vicepresidente Michel Temer e outros dez ministros de Estado. O governo quer usar a imagem do peemedebista a da petista juntos no evento para passar a mensagem de que as arestas entre os dois começam a ser aparadas.

Apesar de estar disposta a enfrentar o público em geral e os movimentos populares favoráveis ao seu impeachment, Dilma decidiu não se expor fazendo um pronunciamento à nação por meio de emissoras de rádio e televisão. Convencida de que há possibilidade de sua voz ser abafada por panelaços em várias localidades do país, a presidente resolveu gravar um pronunciamento a ser veiculado logo cedo nas redes sociais da internet, como o Facebook, e no site oficial do Palácio do Planalto ( planalto. gov. br).

Dilma também optou por usar a internet no Dia do Trabalho, em 1 º de maio deste ano. Ela quebrou uma tradição histórica pois, pela primeira vez, um presidente da República não falou à população brasileira por meio do rádio e da televisão nessa data. Na época, o ministro da Secretaria de Comunicação ( Secom), Edinho Silva, negou que a decisão se devia ao temor de um panelaço.

No ano passado, no auge da campanha pela reeleição, Dilma deu uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto após o desfile do Dia da Independência. Naquele dia, a presidente já estava às voltas com as delações relacionadas ao escândalo de corrupção na Petrobras apurado pela Operação Lava Jato, e respondeu que nenhuma denúncia gerava suspeita sobre o governo.

Temer repudia conspiração e reitera apoio a Dilma até 2018

• Líder do PMDB diz que 'intriga e divisão são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise'

Temer diz trabalhar com Dilma até 2018

• Vice nega conspiração e reafirma apoio após repercussão de citações lidas como sinais de possível rompimento

• Líder do PMDB diz que 'intriga e divisão são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise'

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA - Após afirmar ser difícil que a presidente Dilma Rousseff (PT) chegue ao final de seu mandato caso sua popularidade continue tão baixa e que o Brasil precisa de alguém para reunificá-lo, Michel Temer (PMDB) afirmou que "trabalha e trabalhará junto à presidente Dilma Rousseff para que o Brasil chegue em 2018 melhor do que está hoje".

Em nota divulgada por sua assessoria neste domingo (6), o vice-presidente afirmou que "age nos limites do seu cargo" e que "sua única cartilha é a Constituição".

Ele disse ainda que "não se move pelos subterrâneos" e repudiou a ideia de conspiração: "Não são poucas as teorias de que suas atitudes podem levar à conspiração. Repudia-a. Seu compromisso é com a mais absoluta estabilidade das instituições".

Sobre o apoio ao governo, disse que "todos seus atos e pronunciamentos são nessa direção". Para Temer, "todos devem se unir para superar a crise" e "a divisão e a intriga são adversários e agravam a crise política e econômica".

As falas sobre Dilma haviam sido interpretadas por aliados da presidente como sinais de oportunismo de Temer, que estaria abrindo caminho para eventualmente ocupar a presidência. Ministro do governo Lula, o ex-presidente do PSB Roberto Amaral o chamou de golpista.

A afirmação a empresários sobre a possibilidade de Dilma não concluir o mandato, na quinta (3), animou parlamentares pró-impeachment.

Recentemente, Temer deixou a articulação do governo, cargo que ocupava desde abril. Ele também se queixou a Dilma de que era excluído de decisões importantes.

Dias depois, o vice-presidente recusou sondagem de Dilma para voltar ao cargo. Afirmou, porém, que segue à disposição do Planalto para questões da "macropolítica".

Setores do PMDB têm usado a situação de conflito para pedir que o partido desembarque oficialmente do governo –alguns caciques peemedebistas, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), já o fizeram.

Entrevista
No domingo à noite, em entrevista veiculada no canal fechado "TV Brasil", o vice disse que a função do homem público é buscar "concórdia" e "aproximar desiguais".

Perguntado se seria hoje o principal porta-voz do empresariado no governo, Temer disse que a afirmação não era "nem errada, nem certa". "Eu levo jeito para isso", afirmou.

O vice citou "circunstâncias" para comentar uma eventual candidatura em 2018: "Na minha vida, nunca escolhi muito o que ia fazer. Eu era levado. Sinto-me muito à vontade [para concorrer] com o currículo que tenho".

Temer diz que não age ‘nas sombras’ e ‘intriga agrava crise

Temer repudia tese de que conspira contra governo

• Texto divulgado neste domingo é uma resposta às reportagens e análises publicadas pela imprensa neste final de semana que colocam Temer numa situação de desconforto no governo

Tânia Monteiro e Sandra Manfrini - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A assessoria de Comunicação da Vice-Presidência divulgou nota neste domingo, 6, na qual descarta qualquer movimento de conspiração do vice Michel Temer contra a presidente Dilma Rousseff. A nota é uma resposta às reportagens e análises publicadas pela imprensa neste final de semana que colocam Temer numa situação de desconforto no governo.

"Trabalha e trabalhará junto à presidente Dilma Rousseff para que o Brasil chegue em 2018 melhor do que está hoje. Todos seus atos e pronunciamentos são nessa direção. Defende que todos devem se unir para superar a crise. Advoga que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise política e econômica que enfrentamos."

A nota destaca ainda que "a hora é de trabalho e de união". "Apesar de seu zelo, e atento ao cargo que ocupa, não são poucas as teorias divulgadas de que suas atitudes podem levar à ideia de conspiração. Repudia-a. Seu compromisso é com a mais absoluta estabilidade das instituições nacionais", afirma a nota.

A assessoria destaca ainda que, em mais de 30 anos de vida pública, o vice-presidente sempre expôs suas posições políticas de forma aberta e franca. "Como acadêmico, seus raciocínios têm premissa e conclusão. Não é frasista. Não se move pelos subterrâneos, pelas sombras, pela escuridão."

A assessoria reforça ainda que o vice-presidente age nos limites do seu cargo e "trabalha para superar as dificuldades e propiciar às futuras gerações um país justo, rico e desenvolvido".

Planalto avalia que desgaste cresce com investigação

Investigação de ministros é mais um fator de desgaste para Dilma

• Presidente tem defendido todas as investigações, mas também tem destacado que não é possível fazer prejulgamento de ninguém; pelo menos por enquanto, não se fala em afastamento deles no Planalto

Carla Araújo e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A investigação de dois ministros diretamente ligados à presidente Dilma Rousseff, ambos com gabinete no Palácio do Planalto, é mais um fator de desgaste para a petista, na avaliação de assessores com assento no Palácio do Planalto, e mais um ingrediente pesado ao clima político já ruim de Brasília. A apuração contra os ministros da Comunicação Social, Edinho Silva, e da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi autorizada por Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal.

A decisão do Supremo movimentou o domingo, 6, em Brasília. A presidente Dilma Rousseff, que depois de pedalar pela manhã, passou o resto do dia no Alvorada, conversou com vários ministros ao longo do dia, entre eles Mercadante e Edinho. Os dois fizeram questão de soltar notas ao longo do dia se defendendo das acusações. O ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, também falou com a presidente. Nesta segunda, todos estarão junto com Dilma no palanque, durante as comemorações do Dia da Independência.

A preocupação é grande com a investigação baseada na delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, porque, em última instância, Dilma poderia ser atingida diretamente, corroborando com a tese do impeachment. Pessoa afirmou em delação premiada que doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma em 2014, pressionado por Edinho Silva, segundo a revista Veja. Ele também apresentou à Procuradoria Geral da República documento no qual lista suposto repasse de recursos que teriam sido desviados de contratos com a Petrobrás a Mercadante e ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Os três negam as acusações.

Arquivamento. A expectativa do Palácio do Planalto é de que as investigações contra os dois ministros sejam arquivadas sem que se transformem em inquérito. Interlocutores diretos da presidente lembram, por exemplo que, no fim do mês passado, a Procuradoria-Geral da República, responsável pelas investigações da Lava Jato no STF, pediu o arquivamento do inquérito contra o ex-governador de Minas Gerais senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

No caso de Anastasia, a Procuradoria entendeu que não havia “elementos mínimos” para prosseguir a apuração. Antes de uma decisão, porém, a Polícia Federal encaminhou ao STF mais elementos com pedido para que a investigação continue.

Até agora, salientam esses assessores, são apenas acusações do delator, sem qualquer comprovação, e não se pode ter isso como verdade, porque certamente não haverá elementos para incriminar os dois ministros.

Ministros consultados pelo Estado também tentaram minimizar o problema alegando que “investigação não é denúncia”, que “o delator tem de provar o que está dizendo” e que já desmentiram as acusações. Nesse clima, pelo menos por enquanto, não se fala em afastamento de Mercadante e de Edinho Silva de seus cargos.

Já o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), avaliou como “grave” serem instauradas investigações contra dois ministros muito próximos à presidente Dilma Rousseff. “Eles são peças-chave no governo e, ao serem denunciados, pioram as condições de o governo lidar com a crise”, afirmou Mendonça Filho, ressaltando que todos têm o direito à defesa.

Na quarta-feira passada, Pessoa falou à Justiça Federal em Curitiba em ação sobre a Odebrecht. No primeiro depoimento público disse depositar oficialmente na conta do PT dinheiro que seria de propina.

Lava-Jato chega ao Palácio do Planalto e eleva tensão

Lava- Jato chega ao Planalto; crise política se agrava

• Delator diz ter repassado dinheiro ilegal para os ministros Edinho Silva e Mercadante

Simone Iglesias - O Globo

- BRASÍLIA- A Operação Lava- Jato chegou no último sábado ao Palácio do Planalto, a partir da autorização do ministro Teori Zavascki ( STF) para que o ministro Edinho Silva ( Secretaria de Comunicação Social) seja investigado por suspeita de ter conseguido dinheiro para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff depois de mencionar ao dono da UTC, Ricardo Pessoa, os contratos da empreiteira com a Petrobras. Pessoa diz ter doado dinheiro de propina. Numa mesma tacada, o braço direito e mais forte ministro da Esplanada, Aloizio Mercadante ( Casa Civil), passou a ser investigado pela Procuradoria Geral da República pelo recebimento de dinheiro ilegal para campanha ao governo de São Paulo, em 2010.

Em meio às crises política e econômica em que o governo está mergulhado desde o começo do ano, as investigações tornam ainda mais turbulenta a rotina palaciana. Apesar das investigações, Edinho e Mercadante permanecerão ministros. Fontes do governo disseram ao GLOBO que não há motivo para afastá- los, e que a delação de Ricardo Pessoa, que diz ter doado ilegalmente aos dois, em anos e campanhas diferentes, não prova nada. A decisão do STF, porém, causou preocupação em integrantes do governo, no sentido de municiar mais a oposição contra Dilma, fragilizada pela falta de popularidade. No entanto, não há, segundo auxiliares de Dilma, motivo concreto para que a crise se agrave.

— Não vejo agravamento. A presidente não convocou nenhuma reunião de emergência — afirmou uma fonte ao GLOBO, que contou ainda que a presidente estava mais preocupada ontem com a mãe, Dilma Jane, que sofreu um acidente doméstico e precisou de cuidados médicos.

Ministros negam doação ilegal
Hoje, após acompanhar o desfile do 7 de Setembro, em Brasília, Dilma receberá um grupo de ministros petistas, entre os quais Edinho, Mercadante, Jaques Wagner ( Defesa) e o assessor Giles Azevedo, para uma reunião de conjuntura. O almoço estava agendado para os petistas conversarem sobre o déficit orçamentário e formas de reduzir o rombo nas contas públicas. A pauta será ampliada para a Lava- Jato.

Ontem, os dois ministros negaram ter recebido recurso ilegalmente. Edinho afirmou ser “plenamente favorável” à apuração dos fatos, porque não teve conversa que não fosse legal, moral e ética com os empresários que doaram:

— Sou plenamente favorável que se apure todos os fatos e que todas as dúvidas sejam esclarecidas. Tenho a tranquilidade de quem agiu como coordenador financeiro da campanha presidencial de 2014 dentro da legalidade, as contas da campanha foram aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Mercadante afirmou que a delação de Pessoa é “insustentável”. O ministro disse desconhecer o teor das declarações do empreiteiro porque pediu há três meses ao STF para ter acesso ao processo, mas teve o pedido negado.

Mercadante disse que não tem conhecimento oficial da investigação autorizada pelo STF: “Em toda a minha vida me reuni uma única vez com o senhor Ricardo Pessoa, por sua solicitação. Na oportunidade, não era ministro de Estado, mas senador e pré- candidato ao governo do Estado de São Paulo, em 2010. Segundo as notícias divulgadas pela imprensa, o senhor Ricardo Pessoa, em sua delação, teria afirmado que doou R$ 500 mil, sendo R$ 250 mil de forma legal e outros R$ 250 mil mediante recursos não contabilizados. Ora, essa tese é absolutamente insustentável, uma vez que são exatamente R$ 500 mil os valores declarados, em 2010, e devidamente comprovados em prestação de contas à Justiça Eleitoral, inclusive já aprovada sem qualquer ressalva", afirmou Mercadante por meio da assessoria. Ele anexou à nota o número dos recibos de doação feitas pela UTC e Constran e disse estar à disposição do Ministério Público Federal e do STF.

Força- tarefa vai se debruçar nas campanhas de Lula e Dilma

• STF remete ao Paraná documentos sobre suspeita de arrecadação ilegal

Vinicius Sassine e Carolina Brígido - O Globo

- BRASÍLIA- O inquérito aberto no Supremo ( STF) para investigar o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, não será a única frente de apuração de supostas irregularidades nas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava- Jato, já decidiu encaminhar para o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, documentos que apontam suspeitas de arrecadação ilegal por parte das coordenações das campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2010. Edinho foi o tesoureiro em 2014 e, por ser ministro, tem foro privilegiado.

Entre os que poderão ser investigados em novos inquéritos na 1 ª instância da Justiça Federal estão o ex- deputado e ex- secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo José de Filippi Júnior e o ex- tesoureiro do PT João Vaccari Neto, segundo fontes com acesso às investigações. Filippi foi tesoureiro da campanha de Lula em 2006 e da campanha de Dilma em 2010. Vaccari só deixou a Secretaria de Finanças do PT após ser preso na Lava- Jato, em abril. Os dois foram citados em depoimentos na delação do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa.

Segundo Pessoa, a campanha de Lula contou com repasses em espécie, sem registro no Tribunal Superior Eleitoral. A verba seria proveniente de consórcio com obras no exterior, integrado pela UTC. A entrega foi feita no comitê da campanha, conforme o empreiteiro. Pessoa relatou entregas de dinheiro a pedido de Vaccari.

O GLOBO apurou que a forçatarefa do Ministério Público Federal já foi avisada sobre o compartilhamento da delação do dono da UTC, em que ele detalha supostas irregularidades nas campanhas petistas. A expectativa dos investigadores é receber os depoimentos até quarta- feira. Os casos serão analisados individualmente e podem resultar em inquéritos diferentes.

O ex- ministro Antonio Palocci já é investigado na 1 ª instância por conta de suspeitas de arrecadação ilegal na campanha de Dilma em 2010, delatada pelo ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Oposição mira em Edinho para desgastar Dilma

• Presidente do DEM diz que ex-tesoureiro coloca a eleição da petista no centro da discussão

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A oposição vai explorar as investigações sobre o ministro Edinho Silva (PT), secretário de Comunicação Social do Planalto, para desgastar a imagem da presidente Dilma Rousseff e de sua campanha à reeleição, em 2014.

Edinho foi o tesoureiro do comitê petista na última eleição. "Ele era o homem que tomava conta do dinheiro da campanha dela. Saiu o [João] Vaccari, ele entrou", disse o presidente do DEM, senador Agripino Maia.

A oposição acredita que a investigação sobre Edinho – que foi acusado pelo delator Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, de receber propina como doação eleitoral para a campanha de Dilma– pode carimbar a tese de que Dilma se reelegeu usando dinheiro sujo.

Essa é uma das teses levantadas pelo PSDB no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A sigla, que move diversos processos contra a chapa petista, diz que houve abuso de poder político e econômico na campanha.

"A investigação sobre Edinho Silva é um link direto com o que está sendo investigado por exemplo, pelo ministro Gilmar Mendes, no TSE", afirmou Agripino.

Líder da minoria na Câmara, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) avaliou que "esses episódios levam para o centro de todas as apurações a campanha de Dilma".

Em nota, Edinho se defendeu e disse que é "plenamente favorável que se apure todos os fatos e que todas as dúvidas sejam esclarecidas".

"Tenho a tranquilidade de quem agiu como coordenador financeiro da campanha de 2014 dentro da legalidade", escreveu o ministro.

Além de Edinho, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), e o senador tucano Aloysio Nunes (SP) passaram a ser investigados na Lava Jato, mas por doações recebidas em 2010.

A oposição vai insistir que uma apuração sobre o então tesoureiro da campanha leva Dilma para o centro da Lava Jato o que dificultaria ainda mais o cenário político para a presidente.

"O país só vai sair do buraco se houver uma coalizão claríssima, o que vai exigir um líder, ou líderes agregadores. O que fica claro é que com ela e com o PT isso é impossível", finalizou Agripino.

O discurso coincide com o momento em que líderes de sete partidos trabalham para viabilizar o impeachment de Dilma no Congresso e buscam fortalecer os laços do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), com a oposição.

FHC defende 'novo bloco de poder' para reconstruir o país

• Ex-presidente diz que saída de Dilma não basta para reestabelecer a ordem política

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em artigo publicado no domingo (6), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que a crise atual é tão grave que sua solução não se limita à "remoção do obstáculo mais visível a um reordenamento político", a presidente Dilma Rousseff, mas defende a formação de "um novo bloco de poder que tenha força suficiente para reconstruir o Estado Brasileiro".

O texto foi publicado nos jornais "O Globo", "O Estado de S. Paulo" e no "El País". Nele, o tucano diz que o novo bloco de poder não dependeria apenas da união de diversas legendas.

"Bloco de poder não é um partido, nem mesmo um conjunto deles, é algo que engloba, além dos partidos, os produtores, os consumidores, os empresários e os assalariados, e que se apoia também nos importantes segmentos burocráticos do Estado, civis e militares", afirma.

O ex-presidente escreveu num momento em que as articulações pelo impeachment de Dilma ganharam fôlego no Congresso e o vice-presidente, Michel Temer, tem se afastado da petista no Planalto.

FHC ressaltou que não se trata "de um golpe". "Dele não se cogita, porque inaceitável", afirma. O tucano diz que é preciso um "reconhecimento explícito da situação pré-falimentar em que nos encontramos". "Disto se trata agora: o país quebrou, a economia vem sendo arrastada para o fundo do poço".

Ele voltou a explicar porque se referiu à renúncia de Dilma como um dos caminhos o fim da crise. 

"Porque, no fundo, é este o grito parado no ar. Não foi a única alternativa que coloquei, mas foi a que, subconscientemente, à maioria dos que me leram pareceu ser a solução mais simples e menos custosa para sairmos do impasse", disse.

O tucano diz que foi criticado após a fala, argumenta que a renúncia não parece a saída mais provável "dada a personalidade de quem teria de fazer o gesto de grandeza".

'Função do homem público é buscar a concórdia', diz Temer à TV

- Valor Econômico

BRASÍLIA - Em entrevista ao programa de TV Preto no Branco, do jornalista Jorge Bastos Moreno, exibido no canal fechado TV Brasil, o vice presidente Michel Temer (PMDB) disse que a função do homem público é buscar "concórdia" e "aproximar desiguais". “Eu levo jeito para isso", disse Temer no programa que foi ao ar neste domingo .

A resposta do vice foi dada após ser perguntado se seria hoje o principal porta-voz do empresariado brasileiro junto ao governo. Temer disse que a afirmação não era "nem errada, nem certa" e que tem bom contato com o "empresariado e várias fontes sociais por não ter dificuldade de diálogo".

"Faz parte da nossa formação democrática e que me levou sempre à ideia que a função do homem público muitas vezes é aproximar desiguais e não afastá-los", disse Temer.

O vice-presidente não quis fazer prognósticos sobre seu futuro e negou que esteja articulando contra a presidente. Ele tentou explicar uma declaração polêmica dele, dada em agosto, quando disse que "alguém precisava unificar o país". Segundo o vice, essa declaração saiu dentro de um contexto de reconhecimento de que a crise era muito grave e que era necessário reunificar o país.

"O alguém está no contexto de uma frase em que eu disse 'alguém precisa ter a capacidade de unificar o pensamento nacional' e por isso eu, como articulador político do governo tomo a liberdade de fazer um apelo à nação para que nós todos nos unamos e encontrarmos caminhos para essa crise", afirmou Temer.

Perguntado se esse não alguém não teria que ser a presidente Dilma Rousseff e que a frase a excluía, Temer disse que a frase foi usada dessa maneira, inclusive por pessoas que foram à presidente, e que isso o ofendeu: "Deram-me o epíteto de asno. Eu sou tão burro que sou capaz de verbalizar uma coisa como essa. Se quisesse fazer isso [conspirar contra a presidente], jamais falaria", disse Temer.

2018
Perguntado se iria apagar a luz do fim da aliança entre PT e PMDB, o vice reconheceu que a aliança está desgastada, mas não se sabe o que pode ocorrer mais à frente. Ele levantou a hipótese de o PT apoiar o PMDB numa eventual candidatura do partido dele à presidente como um possível motivo para manutenção da aliança.

Temer disse que é difícil fazer a três anos da eleição um prognóstico se o ex-presidente Lula (PT) vai ser mesmo candidato. Perguntado se ele seria o candidato do partido, o vice respondeu: "Há figuras mais preciosas no PMDB do que eu. Prestei bons serviços ao partido. Isso depende das circunstâncias. Nem nego, nem deixo de aprovar. Na minha vida, nunca escolhi muito o que ia fazer. Eu era levado. Sinto-me muito à vontade [para concorrer] com o currículo que tenho", afirmou Temer lembrando que seu partido é agregador é que é uma característica que o país precisa nesse momento.

Coordenador
Temer afirmou que entregou a tarefa de coordenador político porque ele foi chamado para a função para aprovar o ajuste fiscal e que, quando terminou, já não havia mais sentido ficar. A própria presidente teria pedido para ele fazer 'uma articulação política mais ampla'.

Quando perguntado se foi traído pelo próprio Planalto, que começou a fazer articulação direta com líderes do PMDB, paralela à dele, Temer afirmou que achou bom: "Desajustes acontecem em qualquer governo. Na vida pública temos que estar acima dos acontecimentos. Quando vi isso ocorrer, disse 'que coisa boa, o governo está encontrando seu caminho'. Abri a senda e agora as pessoas podem trabalhar. Prestei uma boa colaboração", afirmou Temer, dizendo que não teve problemas com o ministro da Fazenda Joaquim Levy.

Em relação à CPMF, Temer foi perguntado se teve uma conversa dura com a presidente sobre o tema. Ele afirmou que suas palavras foram 'institucional' e 'francas', avisando à presidente que a proposta de emenda constitucional não poderia ser feita sem preparo para convencer a sociedade e o Congresso. "Acho que ela se impressionou com esses argumentos. Convenhamos, o governo não pode hoje ingressar com um pedido dessa natureza no Congresso", afirmou Temer.

O vice defendeu que o orçamento de 2016 fosse mandado com déficit para que seja feito com transparência. Na análise dele, se o governo mandasse o orçamento prevendo a CPMF e o imposto não fosse aprovado, haveria uma derrota política e econômica. "Todos vão colaborar para encontrar uma solução [para o déficit]. A principal tarefa é do executivo, mas na sociedade como um todo e no Congresso, há uma disposição para ajudar o país".

Sobre seu partido, o vice disse que reconhece que administrá-lo não é fácil. Ele defendeu os presidentes das Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, ambos investigados na Operação Lava Jato, dizendo que nenhum dos dois teve sequer a denúncia aceita. Temer afirmou ainda que é preciso separar a operação da administração pública para não prejudicar o país.
(Folhapress)

Luz mais cara no Rio. De novo

• Reajuste da Light em novembro pode chegar a 15%, que levaria a alta de 70% em 2 anos

Bruno Rosa, Ramona Ordoñez - O Globo

Quem acha que a conta de luz já subiu muito deve se preparar: haverá mais um aumento este ano para quem mora no Rio. De acordo com consultorias ouvidas pelo GLOBO, a Light deve elevar o preço da energia em até 15% em novembro, quando é feito o reajuste anual da concessionária presente em 31 municípios do Estado do Rio. Esse aumento vai se somar à adoção do sistema de bandeiras tarifárias, em janeiro, e à revisão extraordinária, em março. Com o novo reajuste — o quarto no período de um ano —, a conta de luz residencial do carioca pode somar alta de 73,8% desde o fim de 2013, quando a crise no setor energético começou a se agravar.

Essa alta, dizem os especialistas, reflete o uso intensivo das usinas térmicas, que geram eletricidade mais cara que a das hidrelétricas — cujos reservatórios estão em nível baixo. Pesam ainda o atraso no cronograma das obras de projetos de geração e a valorização do dólar, que já está perto dos R$ 4. O câmbio influi na tarifa da Usina de Itaipu, cuja energia gerada é fixada em dólar e comprada pelas distribuidoras, como as do Sudeste.

As tarifas também vêm sendo influenciadas por repasses referentes aos aportes e empréstimos de quase R$ 59 bilhões tomados pelas distribuidoras para cobrir os gastos extras com a compra de energia no mercado livre. Além disso, onera a fatura de todos os brasileiros o sistema de bandeiras tarifárias. Criado em janeiro, ele indica, por meio das cores verde, amarela e vermelha, a condição da geração elétrica. Desde então o país está no “vermelho”, situação que deve se manter até o ano que vem e que encarece a energia.

E os cariocas já sentem isso no bolso. David dos Santos, que mora e tem um salão de beleza no Catete, viu as contas de luz praticamente dobrarem este ano. Apesar de ele e sua mulher se esforçarem para não desperdiçar energia, a fatura de casa passou de R$ 63 no fim do ano passado para R$ 125 hoje. Já no salão, onde é difícil reduzir o consumo, a conta pulou de R$ 1.100 para mais de R$ 1.800.
— A gente não tem mais onde cortar. Antes da reeleição, o governo prometeu baixar as tarifas, mas depois aumentou. O problema não é só a falta de chuvas, é a má administração, e quem paga sempre são os consumidores — reclamou Santos.

Reajuste vai contribuir para IPCA maior
A energia, junto com os alimentos, será um dos vilões deste ano no orçamento doméstico. De janeiro a julho, ela acumula alta de 47,95% pelo IPCA, índice oficial de inflação. Segundo Luiz Roberto Cunha, da PUC- RJ, o reajuste da Light deve ser o principal fator para o avanço estimado para a energia em novembro, de 1,2% — o que deve levar o IPCA do mês a 0,66%.

— As projeções de inflação para o ano já levam em conta o aumento da Light, sempre em novembro. Se não houvesse alta, o IPCA de novembro ficaria em 0,61%. Apesar de a previsão de alta da Light ser de cerca de 10% em novembro, o efeito só é sentido em parte, já que o índice não capta todo o efeito desse aumento — disse Cunha.

Segundo Mikio Kawai, da Safira Energia, a expectativa é de aumento na tarifa residencial ( e geral) da Light entre 5% e 12%. Considerando- se o teto máximo da previsão, o preço vai acumular uma alta de 73,8% desde o fim de 2013. É uma média semelhante à do país. Segundo a consultoria, com base em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel), o preço da tarifa residencial no Rio, já com os impostos, deve chegar a R$ 0,805 por quilowatt-hora (kWh) no fim deste ano. Em dezembro de 2013, o kWh estava em R$ 0,463 e, no fim do ano passado, em R$ 0,529. Segundo Kawai, no caso da Ampla, o aumento entre o fim de 2013 e setembro deste ano acumula avanço de 40,8%, já que seu reajuste anual é feito em março.

Já a Thymos prevê que o reajuste de novembro da Light fique entre 10% e 15%. Ricardo Savoia, diretor de Regulação e Gestão da empresa, lembrou que, sem água nos reservatórios, as distribuidoras continuam recorrendo ao mercado livre para comprar energia e honrar contratos. O problema é que o valor da energia nesse mercado ficou no teto ( de R$ 381 o megawatt/ hora) entre janeiro e o início de junho, e ainda há o impacto da disparada do dólar.

— Na Light, também entra no cálculo a variação do dólar entre novembro e outubro, com a energia comprada em Itaipu — destacou. — Ainda há muitas incertezas para os próximos anos, por conta dos repasses ao consumidor dos empréstimos tomados no ano passado.

Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico ( Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), afirmou que o que vai pesar mais no próximo reajuste da Light será o custo dolarizado de Itaipu, pois 17% do que a concessionária compra vêm de lá. De acordo com a Light, a energia de Itaipu representa 15,9% do que compra. A empresa explicou que todas as variações de custos que não estiverem refletidas nas tarifas serão repassadas na ocasião do reajuste anual. “Em casos de grandes variações, como agora, há forte impacto no fluxo de caixa da distribuidora”, admitiu a Light.

Do reajuste acumulado pela Light, a concessionária explicou que ficou com apenas 0,58% do total. Segundo a companhia, a maior parte dos recursos foi destinada a cobrir os gastos com as térmicas. A Light afirmou que não ficou com nenhuma parte das altas de janeiro e março, e ressaltou que é a Aneel que define o percentual de reajuste. A empresa disse ainda que o reajuste nas tarifas acumulado desde novembro do ano passado chega a 60%.

Já a Ampla disse que o reajuste das tarifas este ano cobre, principalmente, os custos com a compra de energia dos geradores, “em função da situação hidrológica desfavorável do país”. Reflete também, disse, o aumento das despesas com a Conta de Desenvolvimento Energético ( CDE, fundo administrado pelo governo para custear alguns subsídios às tarifas), que passaram a ser cobradas integralmente na tarifa dos brasileiros. “Os recursos arrecadados pela Ampla referentes aos itens acima são integralmente repassados aos geradores e à CDE”, disse a empresa.

ICMS no Rio é um dos maiores do país
Para os cariocas, pesa ainda o fato de o estado ter uma das maiores cobranças de ICMS sobre energia no país. A alíquota varia de acordo com o volume de consumo, podendo chegar a 29%.

Castro, do Gesel/ UFRJ, acredita que a partir de 2016 o governo usará as bandeiras tarifárias para fazer os repasses ao longo dos meses. A ideia é evitar um único aumento anual muito elevado, como vinha acontecendo. Somente em fevereiro, o governo concedeu reajuste extraordinário para 58 concessionárias, cuja média foi de 23,4%.

Aécio Neves - Pátria

- Folha de S. Paulo

Uma pátria, assim como uma família, é construída diariamente, tendo por base bons exemplos. Dos atos mais simples às políticas mais complexas, tudo o que pessoas, líderes e instituições fazem ou deixam de fazer se torna, de alguma forma, referência de valores para os que formam uma nação, muito especialmente os mais jovens.

No campo dos que têm a responsabilidade pública e que, portanto, deveriam ser os primeiros a dar o exemplo, o Brasil vive uma página triste de sua história. Os que nos governam não têm sido boas referências. Pelo contrário: as mentiras e outras práticas condenáveis estão espalhadas por toda parte. E isto talvez tenha um custo ainda maior que os prejuízos práticos causados pelo aparelhamento do Estado, a proposital confusão entre o que é público e o que é privado; a incompetência, a leniência, a corrupção endêmica.

Este é um 7 de Setembro que encontra o Brasil e os brasileiros frustrados com suas escolhas, atônitos com os escândalos diários e céticos em relação ao seu futuro.

Mesmo assim, há conquistas importantes a se celebrar: a principal é o inconformismo com os desmandos e as ruas transbordando em protestos e cobranças, resultado da formação de uma nova consciência nacional. Poucas vezes, desde a retomada da democracia, os brasileiros estiveram tão indignados e, ao mesmo tempo, tão dedicados a mudar os rumos do país. O desgoverno instalado e o desalento da hora, por pior que sejam, não foram suficientes para abalar a fé daqueles que, no seu espaço e com sua consciência, todos os dias dão crucial contribuição à coletividade e tornam melhor a vida do próximo.

Lembro aqui do caso do aposentado mineiro Sebastião Gonçalves, de 61 anos. Após ter perdido um filho cadeirante, passou a reformar cadeiras de rodas e muletas abandonadas em ferros-velhos, para depois doar a pessoas carentes. Neste ano, ganhou em BH importante reconhecimento e um prêmio de cidadania.

Histórias como a do serralheiro Tião devem ser sempre contadas para que nunca nos esqueçamos quem somos. Por este país continental são milhares os exemplos diários de ética, patriotismo e cidadania da nossa gente, que acontecem sob o anonimato dos protagonistas e apesar dos governos.

Somos um país de gente séria, honesta, trabalhadora e solidária. Em sua enorme maioria, cidadãos que, a despeito dos tempos ruins que estamos vivendo, continuam produzindo, gerando riquezas e dando sua contribuição.

Sem crescimento e bons exemplos, o Brasil recua para um lugar incerto. Se o andar de cima insiste em desapontar a nação, é preciso reafirmar, neste 7 de Setembro, nossa crença nos brasileiros.

Eles, sim, fazem toda diferença.
----------
Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Ricardo Noblat - À sombra de Pixuleco

- O Globo

“Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo de popularidade. É muito difícil.”
Michel Temer, sobre Dilma.

Dos seus dois palácios, o Planalto, onde trabalha, e o Alvorada, onde mora, Dilma só sai para lugares a salvo de vaias e de manifestantes hostis. Por isso, quem cuida de sua segurança fez de um pedaço da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, um puxadinho do Planalto na tentativa de poupá- la, hoje, de constrangimentos durante o desfile militar de 7 de Setembro. Um puxadinho, não, um puxadão.

É DE SE VER foram selecionados com rigor os convidados que ocuparão palanques a certa distância do palanque reservado às autoridades máximas da República. Placas robustas de metal impedem o acesso do público à área do desfile das tropas. O momento mais delicado será aquele quando Dilma atravessará em carro aberto um pedaço da pista. Aí reside o perigo de vaias.

DEU-SE UM jeito para isolar eventuais manifestantes dos palanques oficiais. Se tudo sair como o previsto, não haverá risco de Pixuleco roubar a festa. Pixuleco é aquele boneco inflável gigante com a cara de Lula e a roupa de presidiário, a mais nova e bem-sucedida invenção dos que querem ver o ex-presidente na cadeia por envolvimento com a roubalheira na Petrobras – mas não só.

PIXULECO É o segundo alvo a inspirar cuidados à segurança de Dilma. O primeiro são os malucos que prometem atentar contra a vida dela. Para Dilma e Lula, o impensável seria a presidente aparecer em alguma foto com Pixuleco, mesmo que longe dele. Em São Paulo, outro dia, Pixuleco ganhou a companhia de uma Dilma tamanho gigante e também vestida como presidiária.

INFELIZ DO governante condenado a ser protegido dos seus governados. No caso de Dilma, isso tem a ver com a crise econômica, sim, a mais severa dos últimos 12 anos de reinado do PT. Tem mais a ver, porém, com o tremendo engodo que foi sua campanha. A crise poderia ser suportável se Dilma não tivesse mentido tanto para se reeleger. E se não continuasse a mentir até hoje.

DILMA NÃO tem gosto pela mentira. Se tivesse seria uma mentirosa contumaz. Ela apenas não tem compromisso com a verdade. Não é a mesma coisa, por suposto. Aprendeu a mentir para sobreviver ao ser presa e torturada durante a ditadura militar de 64. Não desaprendeu mais. Mentiu para não sair de onde está. Deu certo. Mente para tentar chegar ao fim do mandato. Está dando errado.

QUEM AINDA sustenta o governo? O Bradesco, que sustenta seu ex-funcionário Joaquim Levy, Ministro da Fazenda; o PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que leva jeito de que em breve deixará de sustentar; e a falta, por ora, de consenso político em torno da substituição de Dilma. Uma vez que o consenso seja alcançado, o resto será mais fácil.

PARA SALVAR-SE do mensalão, Lula entregou a cabeça de José Dirceu, chefe da Casa Civil do seu governo. Dilma não quer entregar nenhuma cabeça para salvar a sua. O PT quer a de Levy, com o qual não tem a menor afinidade. O PMDB quer a cabeça de Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil do governo, e responsável pelo distanciamento entre a presidente e seu vice.

A OPOSIÇÃO QUER a de Lula. Em troca dela, seria capaz de ajudar Dilma a governar se fosse o caso. Ocorre que Dilma, para dizer o mínimo, é uma pessoa mentalmente confusa. Sua palavra vale pouco ou quase nada. Pode ter sido uma boa tarefeira quando obedecia a ordens de Lula. Quando passou a ser obrigada a fazer escolhas e a dar ordens, é o que se vê. Pena de nós.

Vinicius Mota - À esquerda está a saída

- Folha de S. Paulo

Como economistas, nossos desenvolvimentistas são sociólogos fracassados. Abraçaram um esquema primitivo da luta de classes e o difundem por aí.

Joaquim Levy, na Fazenda, seria o capitão dos rentistas, essa franja riquíssima do país liderada pelos banqueiros e aliada de espoliadores estrangeiros. Tombini, no BC, teria sido sequestrado pela turma do juro alto.

Nelson Barbosa, no Planejamento, representaria a vanguarda da maioria mal remediada e dos empresários compromissados com o Brasil. A crise teria como pano de fundo o assédio dos rentistas para anular os ganhos sociais da última década.

Nesse candomblé da luta política, em que cada orixá tem o seu valor, caberia aos heróis do povo resistir ao avanço rentista e, depois, desfechar o contragolpe. A saída do impasse estaria à esquerda: baixar os juros na marra e iniciar nova expansão de gastos públicos. Ainda que a aritmética e os limites materiais sejam violados, o que impera é a vontade.

A sociologia rudimentar dos desenvolvimentistas tem sido útil para um fragmento influente da elite. Justificou historicamente a captura do Estado por grupos interessados em barrar concorrentes e financiar ineficiências à custa do contribuinte.

O ex-presidente Lula começa a enxergar uma solução na saída pela esquerda. Ele sabe que enveredar por esse caminho causará a explosão imediata da gestão Dilma, o que ofereceria ao PT três anos para tentar reconstruir-se no local mais confortável de figurar num período de recessão e tumulto político: a oposição.

Tal desfecho ainda daria a Lula o discurso da "vítima de golpismo", de quem tombou ao defender os pobres contra os ricos. O sacrifício de Dilma, desde que dentro desse roteiro, passa a ser cada vez mais vantajoso num cálculo frio e desapaixonado, como o ex-presidente sempre praticou.

Os desenvolvimentistas, em suma, voltaram a ter a sua utilidade, embora continuem errados.

Luiz Carlos Azedo -Uma vela pra Deus, outra pro diabo

• Dilma precisa buscar o superavit de 0,7% do Orçamento de 2016 previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que até hoje não foi aprovada pelo Congresso. E promover um ajuste pra valer nos programas e subsídios do governo

Correio Braziliense - 06/09/2015

Uma velha raposa do PMDB costuma dizer que erro na política não tem conserto, tem apenas compensação, o que nem sempre é possível no tempo desejado. Por isso mesmo, é preciso errar pouco e menos que os adversários — e nunca repetir os mesmos erros. O problema da presidente Dilma Rousseff é que erra muito, quase sempre não admite o erro e quando o faz, na maioria das vezes, não tem mais jeito.

Dispensa maiores comentários a sucessão de erros que levou o país à crise econômica que estamos vivendo, que vão da redução forçada dos juros às “pedaladas fiscais”, passando pela desorganização do setor elétrico, pelas trapalhadas na política de concessões de infraestrutura e pelos sacrifícios impostos à Petrobras ao segurar o aumento dos combustíveis. Deixemos de lado, por enquanto, a vista grossa diante dos escândalos investigados na Operação Lava-Jato.

Na semana passada, a presidente da República cometeu dois erros quase fatais: anunciou a recriação da CPMF, o antigo imposto do cheque, sem consultar os aliados políticos e os empresários amigos, e depois encaminhou ao Congresso uma proposta de Orçamento da União com um deficit de R$ 30,5 bilhões, mesmo assim, segundo os analistas, subestimado. O rombo poderia chegar aos R$ 60 bilhões.

Dilma acendeu uma vela para o diabo. Provocou um afastamento ainda maior do vice-presidente Michel Temer, que foi atropelado pela proposta de recriação do imposto quando se reunia com empresários e, de bate-pronto, anunciou que a medida não teria a menor chance de ser aprovada no Congresso. E, por muito pouco, também não ficou sem o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que fora derrotado pela “turma do Palácio” na discussão sobre o Orçamento.

A “turma do Palácio” é formada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante; pelo secretário-geral da Presidência, Miguel Rosseto; pelo “faz-tudo” de Dilma, Giles Azevedo, que cerraram fileiras em torno do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, o pai da proposta orçamentária no vermelho. Esse grupo fez tudo o que podia para isolar Levy e forçá-lo a se demitir. O problema é que houve forte reação do mercado, principalmente dos pesos pesados da economia que apoiam a presidente da República.

Dilma foi obrigada a acender uma vela para Deus. Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional, falou com a presidente da República sobre a gravidade da situação e os riscos de perder Levy. O porta-voz do mercado financeiro foi o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que depois esteve com Dilma e advertiu a presidente da República dos riscos que a economia estava correndo por causa da proposta de orçamento deficitário. O primeiro sintoma de que algo mais grave estava para acontecer foi a disparada do dólar.

Para ficar de bem com Deus, Dilma precisa buscar o superavit de 0,7% do Orçamento de 2016 previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que até hoje não foi aprovada pelo Congresso. E promover um ajuste pra valer nos programas e subsídios do governo. Sem isso, o país não terá a menor chance de manter o grau de investimentos. Foi esse o teor da conversa de Dilma com Levy, cujas exigências foram aceitas para que permanecesse no governo.

Combinar com a base
Pode-se concluir que o pior já passou, mas não é o caso. A “turma do Palácio” não está só. O PT e seus aliados à esquerda, articulados aos movimentos sociais, querem a cabeça de Levy. Não concordam com o ajuste, já começam a mobilizar suas bases para se opor a ele. Apostam numa guinada populista de Dilma, que foi o que ela ensaiou na semana passada e voltou atrás. Ou seja, o ajuste está ainda por um fio.

Essa movimentação errática de Dilma na economia tem simetria com seus ziguezagues na política, onde a situação se complicou muito com a saída de Michel Temer da articulação política. O vice-presidente da República diz que não moverá uma palha para apear Dilma do poder, mas também não acredita que ela consiga terminar o mandato se mantiver os atuais índices de rejeição popular.

Ao tratar as coisas como elas são, sem subterfúgios, Temer começa a fazer um contraponto ao discurso da presidente da República, que minimiza a crise e continua a prometer saídas fáceis para a situação. Sinaliza um progressivo afastamento do PMDB, que somente não é maior por causa da Operação Lava-Jato, que investiga os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre outros caciques políticos.

As dores de cabeça de Dilma, porém, continuam por causa da possível rejeição das contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU), do julgamento dos gastos de campanha eleitoral pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, agora, por um pedido de impeachment apresentado pelo ex-deputado e jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, que pode receber apoio da oposição.

José Roberto de Toledo - Um vice loquaz

- O Estado de S. Paulo

Michel Temer é gênio. Ao menos na arte de converter ar, vibrações vocais e um ocasional perdigoto em manchetes. Desde que as verbas públicas para fazer varejão político acabaram, o vice-presidente dedica-se ao que todo vice faz e que ele, pomposamente, chamou de macropolítica. A atividade é complexa. Consiste basicamente em falar e, nos seus momentos desafiadores, ouvir. Despojado de caneta, o vice não decide nada, não manda em ninguém, mas declara uma barbaridade - no bom sentido gaúcho.

Para uma presidente emudecida pelas panelas e - reclamam os aliados - surda aos apelos de quem diz querer ajudar, é um contraste e tanto. O vice loquaz e a presidente muda. Desde que o fantasma do impeachment passou a assombrar o Palácio do Planalto, Temer produziu muito mais frases noticiosas, bem ao gosto do jornalismo declaratório, do que Dilma Rousseff. Fora uma mandioca presidencial ou outra, o vice peemedebista goleia.

Em janeiro, Temer chamou Eduardo Cunha de “nosso candidato” a presidente da Câmara - o do governo era outro. Em março, chamou de legítimas as manifestações contra Dilma. Em julho, antecipou que o PMDB lançaria candidato à sucessão presidencial em 2018. E, em agosto, pareceu candidatar-se: “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de unir a todos, de fazer esse apelo, e eu estou tomando essa liberdade de fazer este pedido”.

Na quinta, enquanto Dilma mobilizava meia Brasília para tentar segurar o ministro Joaquim Levy na Fazenda, Temer voltou às redes em São Paulo. Marcou outro gol em entrevista à presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, Rosangela Lyra. A hostess especializou-se em organizar via WhatsApp o que chama de “pocket actions” do seu “Acorda, Brasil”: micro manifestações em que senhoras de seu círculo social rimam slogans como “1, 2, 3, Dilma no xadrez” ou “Lula cachaceiro, devolve o meu dinheiro”.

O sucesso das “actions” de Lyra se mede pelo “pocket”. O que falta em multidão, sobra em PIB per capita. A ex-diretora da Dior no Brasil, tornada famosa como ex-sogra do futebolista Kaká, costuma desfilar suas performances para uma coleção de empresários no auditório do consultório do marido dentista. Ela entrevistou ali um Senado de fãs de Dilma: dos tucanos Alvaro Dias, José Serra e Aloysio Nunes Ferreira ao DEM Ronaldo Caiado.

Foi nesse cenário e para esse público que Temer topou exercitar mais uma vez sua retórica. Afinal, “a hora é de diálogo, de ouvir, reunificar a sociedade” - diz ele, na propaganda do PMDB.

Com desembaraço de procurador-geral de Justiça, segurança de chefe de polícia e discrição de maçom, soltou a frase que ganharia manchete: “Se continuar assim, vou dizer a você, com 7%, 8% de popularidade, fica difícil passar três anos e meio”.

Não há como não dar razão ao vice. Fácil é que não é. José Sarney, o presidente civil recordista na modalidade, passou três anos se afundando em taxas de impopularidade à la Dilma. Foi difícil, mas nem por isso o vice que chegou lá resolveu voltar mais cedo para o Maranhão. Ao contrário, Sarney fez que fez na Assembleia Constituinte e aprovou cinco anos de mandato para si mesmo. Fez tanto que levou os votos até de Temer e Aécio Neves.

Após a votação, em junho de 1988, o então ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, profetizou: “Cinco anos dará mais tempo para que Sarney execute seu plano econômico e entregue a economia em ordem ao seu sucessor”. Entregou com 82% de inflação ao mês.

Quem fala muito está sempre a uma palavra de falar demais. Numa definição tipo Romário, o momento poeta de Temer na quinta-feira foi depois que a entrevista acabou, quando o vice já caminhava para a porta. Abordado por uma mulher com câmera, ouviu dela que “não seria oportunismo se apoiasse o impeachment”. Riu e calou.

Valdo Cruz - Dilma contra o relógio

- Folha de S. Paulo

Dilma Rousseff tem a fama de ser lenta em tomar decisões, só que o momento demanda ações rápidas para, na visão de interlocutores da petista, evitar o pior.

Um deles cita três casos em que, na sua opinião, a lentidão presidencial custou caro para ela e para o país. As demissões de Guido Mantega e Graça Foster e as mudanças nas regras das concessões de rodovias.

Nos três exemplos, a demora resultou: numa economia em frangalhos, numa Petrobras endividada e paralisada e no atraso em investimentos essenciais para o país.

Agora, porém, não dá mais para sentar em cima de decisões. Até que, nas últimas semanas, ela procurou ser rápida no gatilho, porém...

Aprovou não antecipar o pagamento do 13º para os aposentados e recuou. Deu aval para a volta da CPMF e recuou. Concordou com a ideia do Orçamento de 2016 com deficit e já está recuando de novo.

Os contratempos recentes, contudo, não podem servir de justificativas para voltar àquela velha rotina de centralizar tudo e demorar uma eternidade para tomar decisões, marca de seu primeiro mandato.

Mesmo porque, ao contrário de antes, hoje Dilma corre contra o relógio. Apesar do discurso otimista palaciano, descolado da realidade, o risco é de piora das crises gêmeas –política e econômica– na virada deste ano para o próximo.

Um aliado resume esta percepção ao dizer que, se nada for feito e rapidamente, em breve "os coxinhas vão ganhar a companhia dos desempregados" nas ruas. O dinheiro do seguro-desemprego vai acabar e a insatisfação só irá aumentar.

Sem falar que será um Deus nos acuda na economia se o Brasil perder seu grau de investimento. O dólar vai disparar de vez, os juros terão de subir e a recessão se aprofundar.

Daí que a presidente tem sido aconselhada a dar uma virada em seu governo. Sem demora. Por pura questão de sobrevivência. Dela e de seu grupo mais próximo.

Marcus Pestana - Uma viagem sem bússola e sem destino

- O Tempo (MG)

Quem deu a senha foi o vice-presidente da República, Michel Temer: “... confesso que nem eu, nem o governo, temos uma estratégia”. Apertem os cintos, o piloto sumiu. Em Brasília, nos corredores, uma pergunta é recorrente: onde vamos parar? Qual é a saída para a presente crise? Lideranças políticas, empresariais, sociais, jornalistas e intelectuais assistem cada vez mais perplexos aos desdobramentos da crise. Há, na verdade, um impasse diagnosticado. Todos concordam que o governo Dilma perdeu as condições mínimas necessárias para governar. Não tem apoio na sociedade e no Congresso, não tem credibilidade e confiança junto ao mercado, não tem iniciativa, liderança e comando, não tem coordenação e estratégia claras. Mas as alternativas são complexas e delicadas.

Não bastando as graves facetas econômica, política e ética desse difícil momento nacional, o governo Dilma se esmera em produzir fatos adicionais negativos.

Além disso, a presidente, com seus arroubos verbais improvisados, imprecisos e confusos, com frases desconexas e que agridem a língua pátria, está transformando sua figura pública, que já detém a rejeição de 80% da população, em uma caricatura de si mesma. As pérolas retóricas de nossa presidente bombam nas redes sociais. Isso contribui para minar a autoridade presidencial ainda mais.

Agosto, que tem tradição de patrocinar más notícias no Brasil, terminou deixando uma herança nada saudável. Na economia, não houve notícia boa. Ficamos sabendo que a produção nacional recuou 1,9% no segundo trimestre. A agropecuária, que era exceção até então, teve desempenho negativo de 2,7%. A indústria continua ladeira abaixo na marcha da desindustrialização com um recuo de 4,3%. O consumo das famílias inverteu o sinal, fruto do endividamento excessivo e da inflação, caindo 2,1%. O investimento, motor do desenvolvimento, despencou 8,1%. Vamos dar uma marcha à ré em 2015 de cerca de 3%.

Para complicar mais o cenário econômico, o governo Dilma, no espaço de 72 horas, protagonizou um espetáculo digno dos três patetas. Anunciou de forma atabalhoada e sem coordenação o aumento de impostos por meio da volta da CPMF, e rapidamente voltou atrás, diante da reação do meio político e empresarial. Coisa de amador. Se, portanto, o governo Dilma não tem credibilidade, faz por merecer, com louvor.

Culminamos, na última semana, sabendo que o desequilíbrio fiscal do governo federal é mais grave do que já se imaginava. O governo Dilma mandou o Orçamento de 2016 para o Congresso Nacional, de forma inédita, com um déficit primário de mais de R$ 30 bilhões. Analistas do mercado acham que pode chegar a R$ 60 bilhões. Isso é fatal para um país que, em 2014, teve um déficit nominal (que soma as despesas financeiras) de 7% do PIB (mais de R$ 380 bilhões) e que está ameaçado de rebaixamento pelas agências internacionais de classificação de risco.

Como disse Temer, não há estratégia. Na verdade, estamos no mato sem cachorro, rumo ou bússola.
---------------------
Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)

Denis Rosenfield - Transparência

- O Estado de S. Paulo

A proposta de Orçamento da União, enviada com déficit ao Congresso Nacional, é, na verdade, uma afronta aos cidadãos deste país, que pagam altos impostos e contribuições e gostariam, com toda a razão, que o governo exercesse as suas responsabilidades. Manifestamente, o Estado brasileiro, tal como concebido pelo atual governo, não cabe dentro de sua economia.

Um cidadão comum deve, responsavelmente, fazer a conta de suas receitas e despesas, da mesma forma que qualquer empresa. Trata-se de um princípio básico da economia que vale – ou deveria valer – para uma entidade pública que vive de recursos alheios, sociais. A proposta da presidente Dilma Rousseff eximiu-se dessa responsabilidade básica e procurou transferi-la para o Congresso, o que só fez aguçar a crise política e abalar ainda mais a sua credibilidade.

Um dos argumentos utilizados é o de que a atual proposta orçamentária prima pelo realismo e pela transparência. Como assim? A proposta orçamentária de 2014 e sua execução teriam sido, então, obras de ficção? Como pode o mesmo governo defender a transparência neste ano e não no ano anterior? A lógica dependeria de mera conveniência política?

Isso significa que a proposta orçamentária de 2014 não se caracterizava pela transparência e teria obedecido a meros objetivos eleitorais, como se os recursos dos contribuintes pudessem ser utilizados arbitrariamente, ao sabor dos ventos.

Não deveria, portanto, surpreender que o Tribunal de Contas da União (TCU) se esteja debruçando com tanto rigor sobre essas contas, pois se houve irregularidades seus autores devem ser responsabilizados. A presidente Dilma encontra-se diante de um problema concreto de não aprovação de suas contas, com as consequências daí derivadas.

Para evitar qualquer tipo de mal-entendido, frisemos que tal questão não pode ser traduzida politicamente como um acerto eleitoral, do tipo terceiro turno. Trata-se tão somente de um princípio republicano, que demanda a sua correta aplicação. A transparência deve ser aqui o critério.

Não se pode politizar a transparência, sob pena de cairmos na autocracia e em governos que mascaram contas. Os cidadãos têm todo o direito de saber qual é o destino de seus impostos e contribuições. E a própria democracia que está em questão.

O governo defronta-se, agora, com o julgamento das pedaladas fiscais e do não contingenciamento de despesas que deveria ter sido feito. Para se ter uma ideia do montante envolvido, haveria um montante de R$ 104 bilhões cuja utilização deveria ser esclarecida.
O discurso eleitoral do ano passado apresentou uma realidade inexistente, enquanto a existente foi simplesmente mascarada. Não deveria, portanto, espantar que as crises econômica e política tenham alcançado a atual dimensão.

As pedaladas configuram operações de crédito disfarçadas, proibidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Houve, portanto, o adiamento de pagamentos do Executivo mediante a utilização de bancos públicos.

O objetivo do governo consistiu em ocultar um déficit fiscal, presente já naquele momento. E para isso não hesitou em infringir a lei (LRF). Logo, não tem o menor sentido o discurso da presidente de que apenas agora teria visto o alcance dos problemas enfrentados pelo País.

No caso de o governo ter deixado de fazer o contingenciamento de despesas, ele não seguiu o que estipula a lei, em clara transgressão – o que fez, aliás, igualmente em anos anteriores. E se deixou de o fazer, é porque seu motivo era político – as eleições –, e não a obediência aos princípios republicanos.

Sabendo, por exemplo, que a arrecadação seria menor do que a esperada, além de não contingenciar recursos da ordem de R$ 28,5 bilhões, liberou R$ 10,1 bilhões sem autorização do Congresso, mediante decreto presidencial. A legalidade não foi seguida. Prejudicou sobremaneira a governança pública, ocultou os dados e desprezou o princípio público da transparência.

Ou seja, estamos diante de uma esculhambação voluntária das contas públicas!

Nesse sentido, o relatório do ministro João Augusto Nardes (TCU) é da maior importância por reafirmar um princípio de discussão republicana das contas públicas. Se o governo se sente acuado, é porque não soube exercer a responsabilidade que lhe incumbiria. O relator concedeu amplo direito de defesa ao Executivo para que esclareça as decisões tomadas. A questão é técnica, republicana, e não partidária. Querer partidarizar essa discussão significa privatizar a República.

Procurar denegrir o trabalho do TCU significa um imenso desserviço à Nação. A governança pública tornou-se uma das principais diretrizes da atuação desse tribunal, preocupado igualmente em verificar a legalidade e a conformidade dos atos dos gestores públicos.

Com tal fim houve uma remodelação de sua estrutura administrativa, tendo como orientação uma maior coordenação e especialização de suas unidades técnicas. Seu corpo de funcionários é altamente capacitado. Trata-se da exigência mesma de um País moderno, atento ao uso de seus recursos.

A corrupção nasce do descontrole e da falta de transparência na utilização dos recursos públicos. Se os atos dos gestores não forem fiscalizados, o desvio de recursos e vários outros tipos de crime serão a consequência. Se o País vive hoje uma crise em que a corrupção explodiu, por assim dizer, é porque foi escondida e, segundo alguns, justificada por um bem social/partidário maior.

Note-se que tão logo a Justiça Federal do Paraná liberou as informações relativas à Operação Lava Jato, o então presidente da Corte, ministro Nardes, determinou a instauração de um grupo de trabalho para analisar toda a documentação. Houve, assim, uma coordenação entre instituições republicanas, num claro indício do amadurecimento institucional do nosso país, em que pesem todas as forças políticas que se insurgem contra essa nova institucionalidade. O futuro do País disso depende!
----------------------
*Denis Rosenfield é professor de filosofia na UFRGS