domingo, 10 de janeiro de 2016

Caciques do PMDB estão em pé de guerra a dois meses da convenção

• Senadores articulam substituição de Temer da presidência do partido

Maria Lima e Cristiane Jungblut - O Globo

Insuflados pela movimentação promovida pelo Palácio do Planalto para garantir apoio contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os caciques do PMDB estão em pé de guerra, divididos entre os grupos do vice-presidente Michel Temer, beneficiário direto do impedimento de Dilma, e o de Renan Calheiros (AL), presidente do Senado e visto como fiel da balança contra o processo de cassação de Dilma.

Além das negociações para a recondução de Leonardo Picciani (RJ) à liderança do partido na Câmara, os três principais caciques do Senado — Renan, o líder Eunício Oliveira (CE) e o segundo vice-presidente da Casa, Romero Jucá (RR) — já fecharam um acordo que dá a Eunício a vaga de presidente do Senado, no lugar de Renan, a partir do ano que vem; e a Jucá a vaga de Temer na presidência do partido já em março. Mas, para tal, será preciso derrotar o vice-presidente, que reina soberano no comando do partido desde 2001.

— Já combinaram com os russos? O líder mais forte hoje no partido é o Michel. A unidade é incondicional nesse momento. Hoje, mais de 80% do partido, que olha além dos interesses da Câmara e do Senado, quer unidade. Discussão de nomes é para depois — diz o secretário geral do PMDB, o ex-ministro Eliseu Padilha, principal articulador do grupo de Temer.

A guerra desembocará na convenção nacional do PMDB, em março, quando serão eleitos os novos dirigentes do Diretório e da Executiva Nacional. Temendo um impacto negativo das fraturas na eleição municipal deste ano, decisiva para o fortalecimento do projeto do partido para as eleições de 2018, os peemedebistas apelam para que o racha seja evitado. Em público, o discurso das principais lideranças do PMDB é que o instinto de sobrevivência e o projeto de candidatura própria ao Planalto em 2018 exigem consenso, mas a guerra fria é clara.

— Não há disputa dentro do Senado. Temos um acordo: eu, Renan e Jucá sobre presidência do Senado. Sobre a presidência do partido eu não estarei na disputa. O melhor caminho, e eu defendo isso, seria o entendimento geral na questão da liderança da Câmara e na sucessão da direção do partido — diz Eunício.

Críticas ao Vice
Mas o líder do PMDB no Senado lembra que os diretórios têm pesos diferentes na eleição do presidente do partido.

— Cada estado é uma célula — ressalta Eunício.

Temer enfrenta um PMDB do Senado coeso, irritado com as decisões do vice-presidente dentro da Executiva do partido. A reclamação é que Temer estaria agindo em apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que tentou mudar regras sobre a filiação de novos deputados para interferir na disputa pelo cargo de líder do partido na Câmara. Na ocasião, Renan reagiu e chegou a chamar Temer de “coronel”.

O grupo contra Temer, liderado pelo PMDB do Senado, se articula e acredita que hoje o vice não teria votos suficientes para se manter no comando do partido. Mas os próprios senadores sabem que, no PMDB, a negociação ocorre até o final.

Jucá diz que é “cedo” para se falar da convenção. Nos bastidores, o grupo que deseja a renovação admite que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN), seria uma alternativa do lado do bloco pró-Temer, mas a operação da Polícia Federal em sua residência tornou a manobra difícil. Do lado dos rebeldes, Jucá, mesmo sendo investigado pela LavaJato, é apontado como o mais conciliador. O grupo de insatisfeitos também têm alguns deputados.

Janela partidária
A primeira reação do grupo do Senado será na volta ao Congresso após o recesso. Renan vai promulgar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que abre uma nova janela de 30 dias para filiações partidárias. A PEC foi aprovada pelo Senado em dezembro. O prazo de 30 dias passa a contar assim que a PEC for promulgada. Os peemedebistas dizem que será um “troco” para a decisão sobre os suplentes que poderiam entrar na bancada da Câmara como forma de mudar novamente os votos sobre o líder.

As divergências explodiram no caso da destituição e recondução de Picciani. No dia 17 de dezembro, após a volta de Picciani à Função, Renan saiu de sua postura discreta e saiu atacando Temer:

— E essa decisão da bancada é a demonstração de que, por mais que o Michel tentasse, quisesse ser coronel, não conseguiria, porque tem que decidir sobre a vontade das pessoas. Não bastar distribuir cargos para isso. A volta do Picciani é a confirmação de que quem tentou ser coronel no PMDB não conseguiu. A tentativa de setores de ser coronéis do PMDB fracassou. O PMDB é um partido democrático, sem dono, sem coronel.

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