quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Celso Ming: Lambuzada

- O Estado de S. Paulo

O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, está inaugurando novo jeito de lidar com os problemas da política e da economia. Deixou de lado a intransigência e o radicalismo que vêm caracterizando a atuação da direção do partido, grande parte das lideranças sindicais e os dirigentes dos movimentos sociais, para admitir as lambanças e trabalhar para o reparo delas.

No fim de semana, reconheceu ao jornal Folha de S.Paulo que o PT se lambuzou no exercício do poder. E, na última segunda-feira, veiculou pelo Twitter a afirmação de que o governo reconhece os erros que cometeu na economia e está trabalhando para resolvê-los.

O ministro não chegou a mencionar os erros de que falou, mas qualquer um que acompanhe a economia brasileira sabe do que se trata: erros de diagnóstico e outros ainda de execução de política econômica.

O governo Dilma não se deu conta a tempo de que acabou a fase de bonança, que se caracterizou pela alta das commodities. A política adotada, logo denominada de Nova Matriz Macroeconômica, baseou-se em incentivos subsidiados ao consumo, no pressuposto de que a oferta viria atrás. E adotou práticas distributivistas sem prover recursos suficientes para isso.

O grande furo não foram as despesas com o Bolsa Família, mas as benesses dadas aos empresários. As desonerações de contribuições trabalhistas, por exemplo, abriram um rombo anual de mais de R$ 100 bilhões e o BNDES foi encarregado de distribuir créditos de cerca de R$ 500 bilhões graças a injeções diretas do Tesouro.

Ao longo do primeiro mandato, com pedalada e tudo, os rombos das contas públicas se acumularam; os juros foram derrubados na marra; as tarifas de energia elétrica, dos combustíveis e dos transportes urbanos ficaram represadas; a Petrobrás foi dilapidada; todo o setor público ficou descapitalizado.

Aí estão alguns dos principais erros que o governo Dilma vinha negando. Os resultados vieram a cavalo: recessão econômica, inflação a mais de dois dígitos, desemprego que tende a saltar também a dois dígitos e a indústria em desidratação aguda. Tudo isso exige conserto.

No entanto, não há conserto quando se negam as avarias. A presidente Dilma parece hoje convencida de que é preciso dar prioridade ao saneamento das contas públicas, sem o que não haverá recuperação da atividade econômica nem criação de empregos.

É esta, também, a principal mensagem do ministro Jaques Wagner. No entanto, a ala reacionária do PT quer a volta do que deu errado, sob a alegação de que o remédio está matando o doente. Foi essa mesma ala que exigiu a demissão do ministro Joaquim Levy por sua insistência no ajuste e por ter vindo do Bradesco. Conseguiu alçar ao comando da economia seu nome predileto, o ministro Nelson Barbosa.

Mas as viúvas da Nova Matriz Macroeconômica continuam clamando por mágicas que trouxessem de volta a fartura de crédito subsidiado, dinheiro fácil e pacotes de bondades fiscais destinados a salvar seus empregos. É a estratégia de quem pretende aumentar o tamanho do buraco.

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