quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Cooperativa ligada ao PT é alvo de apuração na nova fase da Lava Jato

• Foi pela Bancoop que a mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa, adquiriu a opção de compra de um imóvel assumido pela empreiteira OAS

Andreza Matais, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

Cerca de 80 policiais federais cumpriram nesta quarta-feira, 27, 15 mandados de busca e apreensão, 6 mandados de prisão temporária e 2 mandados de condução coercitiva – quando o investigado é levado para depor e liberado – nas cidades de São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo e Joaçaba (SC), como parte da 22.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Triplo X.

Foram alvo de mandados de busca e apreensão a Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), a OAS e a Mossack Fonseca, empresa que teria montado offshores. Foi presa temporariamente (prisão válida por cinco dias) em São Paulo Nelci Warken, que consta como proprietária do Triplex 163-B no condomínio Solaris, da OAS, no Guarujá. O apartamento que seria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o tríplex 164-A, de cerca de 300 metros quadrados, na torre vizinha.

Além de Nelci Warken, foram detidos Ricardo Honório Neto e Renata Pereira Brito. Eliana Pinheiro de Freitas e Rodrigo Andrés Hernandez foram conduzidos coercitivamente. No exterior, com registro lançado no controle de fronteiras para identificação assim que entrarem no País, Maria Mercedez Quijano e Ademir Auada. Um investigado não foi localizado, Luis Fernando Hernandez Rivero.

Segundo o delegado Igor Romário de Paula, da força-tarefa da Lava Jato, o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, o lobista Mário Goes e o ex-gerente da estatal Pedro Barusco tiveram offshores abertas pela Mossack Fonseca.

Este mais recente desdobramento da Lava Jato apura “a existência de estrutura destinada a proporcionar a investigados na operação policial a abertura de empresas offshores e contas no exterior para ocultar ou dissimular o produto dos crimes de corrupção, notadamente recursos oriundos de delitos praticados no âmbito da Petrobrás”. A PF informou que a investigação apura a ocultação de patrimônio por meio de um empreendimento imobiliário.

Tesoureiro. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto presidiu a Bancoop de 2004 a 2010. Durante sua gestão, verbas destinadas à construção dos apartamentos dos cooperados teriam sido desviadas. Vaccari é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e estelionato em ação penal por desvio de R$ 70 milhões da Bancoop, na 5.ª Vara Criminal de São Paulo. Vaccari nega ilícitos em sua gestão na cooperativa, entidade criada nos anos 1990 por um núcleo do PT.

No mesmo ano em que passou a ser investigada, em 2010, a Bancoop quebrou. Com isso, empreendimentos inacabados da cooperativa foram negociados com outras construtoras.

Uma dessas obras incompletas era um condomínio na praia de Astúrias, no Guarujá, o Solaris. Quem concluiu o projeto, em dezembro de 2014, foi a OAS, que assumiu a obra em 2009. Entre os cotistas do Solaris estava a mulher do ex-presidente Lula. Em 2005, Marisa Letícia adquiriu a opção de compra de um imóvel após a conclusão da obra ou a restituição do capital investido.

Marisa teria desistido de ficar com o imóvel, mas, conforme indicam investigações do Ministério Público de São Paulo, chegou a acompanhar obras no local. O imóvel foi reformado recentemente pela atual proprietária, a empreiteira OAS.

Segundo o Instituto Lula, o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, “jamais ocultaram que esta possui cota de um empreendimento em Guarujá, adquirida da extinta Bancoop e que foi declarada à Receita”.

O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que “todos os apartamentos” do condomínio Solaris, no Guarujá, são alvo da investigação. Entre os imóveis investigados, disse Lima, estão alguns que podem estar relacionados a familiares de Vaccari, como a mulher dele, Giselda, e a cunhada, Marice. “A investigação tem um pé na busca de patrimônio (oculto).”

“Todo o empreendimento está sob investigação.” Lima disse que “nesse momento” a apuração aponta para imóveis que seriam de propriedade de familiares de Vaccari. “O empreendimento originariamente era da Bancoop e foi assumido pela OAS. Temos indicativos que todos os apartamentos, ou boa parte deles, podem ter sido usados para lavagem de dinheiro oriundo de contratos com estatais. Estamos analisando e aprofundando a investigação.”

O procurador respondeu a uma outra indagação sobre Lula ter declarado à Justiça eleitoral na campanha de 2006, quando reelegeu-se presidente, que sua família possuía um imóvel no condomínio do Guarujá, no valor de R$ 47 mil. “Existe até notícia de jornal que a família do ex-presidente estaria desistindo de exercer o poder de comprar esse imóvel. Estamos analisando essa questão mais a fundo.

Temos indícios de que um tríplex lá (no Solaris) vale R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão, valor bastante significativo.”

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