sábado, 23 de janeiro de 2016

Dilma volta a dizer que oposição é golpista

• Declaração foi dada dias depois de a presidente ter afirmado que chamaria os adversários para conversar

Após manifestar intenção de conversar com políticos da oposição, a presidente Dilma voltou a chamar os adversários de golpistas. Em reunião do PDT, ela comparou sua situação com a de Getulio Vargas e afirmou: “Não há base para o impeachment, e eles sabem disso, mas não ligam. Não gostam de ser chamados de golpistas, mas são.”

Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- Dois dias depois de conversar com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) sobre convidar a oposição para dialogar, a presidente Dilma Rousseff voltou a provocar os adversários e os chamou de “golpistas”. Dilma esteve ontem na reunião da Executiva do PDT e foi recebida com gritos de “guerreira do povo brasileiro” e “não vai ter golpe”. Em seu discurso, citou o expresidente Getulio Vargas para afirmar que a tentativa de golpe a ele foi um “prenúncio” da situação atual do país, com o processo de impeachment da petista aberto na Câmara dos Deputados.

— O impeachment que tentaram impor ao Getulio é um prenúncio do que acontece hoje no Brasil. Um governo pode ser julgado sim, e deve ser criticado sim, mas um governo não pode ser objeto de um golpe por razões políticas, nem relativas à moral nem ao uso indevido de dinheiro público, nem tampouco devido a qualquer outra interrupção da atividade de governo. Não há nenhuma base para o impeachment, e eles sabem disso, mas não ligam para isso, não gostam de ser chamados de golpistas. Mas são. Ela prosseguiu: — É absolutamente normal que a oposição critique, que qualquer um se manifeste, mas não podemos aceitar que as questões essenciais para o país não sejam objeto de uma ação conjunta visando a garantir que voltemos a gerar emprego e renda. Faremos a nossa parte. Tem gente que acaba com programa social porque acha que tem que acabar, nós, não. Nós asseguramos, reformamos programas sociais para melhorá-los e preservá-los.

Ainda durante o discurso, a presidente voltou a afirmar que nunca teve qualquer acusação sobre uso indevido de dinheiro público. Dilma repetiu também que não tem dinheiro no exterior, referência que já tinha feito ao responder o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando ele acatou o parecer de juristas sobre o impeachment, e que tem uma “vida absolutamente ilibada”.

— No caso do presidencialismo é necessário que tenha culpa formada. Não se pode tergiversar sobre isso, porque é politico, porque eu não gosto do governo, e isso é o que temos assistido aqui. Não tenho na minha vida, ao longo do tempo no PDT ou no PT, nenhuma acusação de uso indevido de dinheiro público. Não tenho dinheiro no exterior, tenho uma vida absolutamente ilibada e honro meus companheiros, porque sei que meus companheiros sempre combateram mau uso do dinheiro público, da corrupção, e fomos sempre nós que defendemos a democracia — completou a presidente.

PDT: contra o impeachment
Pouco antes da chegada da presidente, a executiva nacional do PDT aprovou por unanimidade posição contrária ao impeachment. O partido também fechou questão a favor do afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do cargo. O encontro ocorreu no dia em que o ex-governador Leonel Brizola, fundador do partido, faria 94 anos. De origem trabalhista, a presidente foi filiada ao PDT antes de migrar para o PT.

Liderada pelo presidente da legenda, Carlos Lupi, e com a presença de Ciro Gomes e do ministro das Comunicações, André Figueiredo, a reunião do PDT também confirmou candidatura própria da legenda em 2018. Quando Lupi anunciou que terão candidato a presidente, os militantes saudaram Ciro Gomes como “futuro presidente”.

Dilma chegou acompanhada do ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, e se posicionou entre Carlos Lupi e Manoel Dias, ambos seus ex-ministros do Trabalho. Ex-militante do PDT, Dilma se emocionou ao falar de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart.

— Na minha vida política um homem teve muita importância, e foi Leonel Brizola. A vida me permitiu duas coisas: trazer o corpo do Jango de volta, e a segundas foi conduzir Leonel Brizola entre os heróis da pátria. Acho importante um povo ter seus heróis — disse a petista.

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