domingo, 10 de janeiro de 2016

‘Época’: Dilma teria garantido empréstimo a empreiteira

• BNDES liberou verba para Andrade Gutierrez atuar em Moçambique

- O Globo

Reportagem publicada pela revista “Época”, na edição deste final de semana, revela como o governo teria atuado para assegurar que um investimento do grupo Andrade Gutierrez se viabilizasse em Moçambique, por meio de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com a revista, a presidente Dilma Rousseff, em viagem ao continente africano em março de 2013, recebeu pedido do presidente de Moçambique, Armando Guebuza, para permitir o financiamento de US$ 320 milhões ao empreendimento da empresa brasileira, para construção da barragem de Moamba Major. Porém, as regras do banco dificultariam a realização.

A reportagem da “Época”, afirma que, em setembro de 2013, em reunião da Câmara de Comércio Exterior, o então ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, fez prevalecer entendimento favorável à flexibilização de garantias para conceder o empréstimo. Pimentel é governador de Minas.

Doação de R$ 20 milhões
Em julho de 2014, durante a campanha eleitoral, diz a reportagem, o financiamento ao empreendimento na África foi concedido pelo BNDES. Segundo a “Época”, no mês seguinte à assinatura do contrato com o BNDES, no dia 20 de agosto, às 8h54m, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha presidencial à reeleição de Dilma, visitou Otávio Marques de Azevedo no escritório da Andrade Gutierrez, em São Paulo. Nove dias depois, a empreiteira realizou uma transferência no valor de R$ 10 milhões para a campanha de Dilma. Em seguida, do dia 23 setembro a 22 de outubro de 2014, a construtora doou ao todo mais R$ 10 milhões, em três parcelas. Entre as empreiteiras brasileiras, a Andrade foi a principal contribuidora da reeleição de Dilma, desembolsando quase o triplo do total repassado pela UTC.

Questionada por ÉPOCA a respeito da negociação, a Presidência informa, por meio de sua área de comunicação, que o governo Dilma sempre teve como estratégia expandir as exportações de produtos manufaturados e bens e serviços para os mercados da África e América Latina. “Seguindo essa diretriz, com total autonomia e sem nenhuma ingerência de qualquer instituição do governo, o Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, colegiado responsável por avaliar as condições de financiamentos do governo federal a operações de exportação) e a Camex tomam suas decisões”, diz a nota, que segue: “Cabe ainda ressaltar que as doações feitas à campanha de 2014 não tem nenhuma relação com as ações de governo.”

Em nota, o BNDES afirma que o controle na concessão dos créditos à exportação se baseia em critérios técnicos e tem permitido apoio às empresas brasileiras com uma inadimplência extremamente baixa. E também que “não é incomum que uma operação seja aprovada na Camex e depois transcorra, até a contratação, um prazo similar ao observado na operação”.

Também procurado pelo GLOBO, o Planalto reafirmou que as doações feitas à campanha de 2014 “não tem qualquer relação com as ações de governo”. E que a política de Comércio Exterior do governo Dilma foca na América Latina e na África.

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