quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Fundo reduz fortemente projeções para o Brasil

• Economista-chefe do Fundo atribui piora do cenário a impeachment

Henrique Gomes Batista - O Globo

-WASHINGTON- O cenário não poderia ser pior para o Brasil. As novas projeções do Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês), do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas ontem, indicam que a economia do país teve retração de 3,8% em 2015 e deverá recuar 3,5% neste ano, registrando crescimento zero em 2017. Assim, a tão esperada retomada da economia ficaria para 2018. Em outubro, a previsão era de recessão de 3% em 2015 e queda de 1% neste ano. O Fundo credita a piora das expectativas aos problemas políticos, e o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, cita o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O Brasil, com pior desempenho entre as nações destacadas nestes anos, é apontado como um dos responsáveis pela redução da expectativa de crescimento global para os dois anos. Segundo o FMI, a economia global avançou 3,1% em 2015 e terá expansão de 3,4% neste ano e de 3,6% em 2017 — estimativas um pouco abaixo das divulgadas em outubro.

“Sobre a composição dos países, as revisões podem ser atribuídas principalmente ao Brasil, cuja recessão (causada pela incerteza política em meio ao rescaldo das investigações sobre a Petrobras) está demonstrando ser mais profunda e prolongada que o esperado”, afirma o relatório, ressaltando que, como um todo, a América Latina sofrerá recessão em 2016, apesar do crescimento na maioria das nações da região. “Isso reflete a recessão do Brasil e de outros países em dificuldades econômicas.”

Banco vê recessão global
Em teleconferência, Obstfeld culpou a situação política brasileira pela crise econômica:

— A configuração política piorou com o início de um processo de impeachment e o crescente alcance das acusações de corrupção. Esta situação prejudicou a confiança, da mesma forma que ocorre com a contínua deterioração das perspectivas orçamentais. Há também uma maior depreciação (do real) e uma maior inflação, que são parte de uma resposta a esses fatores fundamentais, mas que também geram um efeito negativo.

Perguntado sobre o que o país poderia fazer, Obstfeld citou a governança:

— A solução depende do processo político local. Poderíamos dizer que há um ponto importante, que é o aumento da avaliação da necessidade do Brasil em melhorar sua governança. Se isso acontecer, será muito positivo.

Outro relatório divulgado ontem, do banco de investimentos Morgan Stanley, estima uma possibilidade de recessão global este ano em 20%, no pior dos cenários. O banco cita a fraca demanda do consumidor nos Estados Unidos e no Japão, a fraqueza nos mercados emergentes devido à queda dos preços do petróleo e a desaceleração da China. Uma definição de recessão global é o crescimento abaixo dos 2,5% necessários para a economia global acompanhar o crescimento da população.

O FMI também vê o risco de uma desaceleração mais forte que o previsto da China. Com relação ao preço do petróleo, projeta-se queda de 17,6% este ano, depois de recuar 47% em 2015.

Estimativas para a economia global

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