quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Merval Pereira: Corrupção pornográfica

- O Globo

Bancoop é um escândalo dentro do escândalo. A Polícia Federal já é conhecida pela criatividade com que nomeia suas operações. Às vezes manda recados, como na Operação "Erga omnes" ( Vale para todos), em que prendeu os presidentes das maiores empreiteiras, incluindo Marcelo Odebrecht; ou adverte, como na Nessun Dorma (Ninguém Durma) da ópera Turandot de Puccini.

Aironia estava presente na Operação “Que País é esse?”, exclamação do ex- diretor da Petrobras Renato Duque ao ser preso, ou na Operação Passe Livre, que prendeu o amigo de Lula José Carlos Bumlai, que tinha passe livre no Palácio do Planalto.

Nada mais bem aplicado, porém, quanto o nome dado para a 22 ª operação, a Triplo X, que tanto pode ser lido como uma referência ao tríplex atribuído a Lula no Edifício Solaris, quanto à classificação dos filmes de pornografia pesada. Porque nada mais pornográfico do que esse escândalo dentro do escândalo envolvendo a Bancoop, denunciado no GLOBO pelo repórter Germano Oliveira, e que Lula tentou parar na Justiça, tendo sido derrotado em seu intento.

Uma cooperativa de trabalhadores presidida primeiro por Ricardo Berzoini e depois por João Vaccari Neto, a alta direção do PT, que quebrou devido à corrupção e deixou literalmente abandonadas mais de 3 mil pessoas que haviam colocado suas economias na arapuca desses sindicalistas que sempre trabalharam em proveito próprio.

Fundada em 1996 pelo ex-presidente do PT e atual ministro da Secretaria de Governo da Presidência Ricardo Berzoini, a cooperativa dos bancários é investigada pelo Ministério Público de São Paulo desde 2007, por crimes de lavagem de dinheiro, com desvio de recursos para o caixa dois do Partido dos Trabalhadores, que controla a máquina sindical dos bancários.

Os fundos de pensão controlados também por representantes do PT perderam muito dinheiro investindo na Bancoop, até que a empreiteira OAS assumiu o empreendimento a pedido de Lula, segundo denúncias que estão sendo apuradas. O fato é que apenas o edifício Solaris foi terminado, coincidentemente onde Lula e dona Marisa tinham apartamento, também João Vaccari Neto, parentes seus, e até Freud Godoy, ex- segurança de Lula envolvido no escândalo dos aloprados.

O tríplex de Lula, o 164 – A, foi incluído pela Polícia Federal entre os imóveis com “alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade”. As investigações já realizadas pela força-tarefa de Curitiba e também pelo Ministério Público de São Paulo indicam, segundo relatório oficial, que “manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores apontam que unidades do condomínio Solaris podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS em troca de benesses junto aos contratos da Petrobras”.

O Ministério Público do Estado de São Paulo considera que já tem provas suficientes para denunciar o ex-presidente Lula e sua mulher, dona Marisa, por ocultação de propriedade, e não é coincidência que a Operação Lava- Jato tenha chegado ao estágio em que chegou justamente na semana em que o Ministério Público de São Paulo anunciou sua decisão. As duas investigações estão sendo compartilhadas.

O promotor de Justiça de São Paulo Cássio Conserino foi apenas menos cauteloso que os procuradores da Lava- Jato, que ontem somente incluíram o apartamento atribuído a Lula na investigação quando perguntados diretamente, e mesmo assim deixando claro que todas as unidades que teoricamente pertencem à OAS serão investigadas.

Os promotores paulistas já têm depoimentos de pessoas que estiveram com o ex-presidente e sua família durante a reforma do apartamento, financiada pela OAS, e sabem até mesmo, como o site “O Antagonista” revelou, onde as cozinhas foram compradas, por quem, e quanto custaram, possibilitando um interessante cruzamento com um sítio em Atibaia que também é dito pertencer a Lula, mas está no nome de outros proprietários, provavelmente laranjas. As mesmas cozinhas foram compradas na mesma loja, pela mesma pessoa, ligada à OAS, no mesmo dia.

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