terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Miriam Leitão: Custo imediato

- O Globo

A conta chegou rapidamente. A tibieza do Banco Central na semana passada fez saltar as expectativas de inflação. A pesquisa Focus mostrou isso. As projeções já vinham aumentando, mas não é comum uma alta tão forte em apenas uma semana: saiu de 7% para 7,23%. Pior do que a mediana do mercado é a visão dos cinco que mais acertam. O grupo prevê perto de 8% em 2016 e mais de 7% em 2017.

Oque eleva a expectativa de inflação não é apenas a política monetária, mas o conjunto. Como se pode ver no gráfico, a previsão para 2016 estava em um nível dentro do intervalo de flutuação da meta, até agosto do ano passado. Quando o governo mandou o orçamento deficitário para o Congresso, em 31 de agosto, o país entrou numa crise de confiança que só se agravou até agora.

Logo depois, vieram o rebaixamento e a perda do grau de investimento. Por causa disso, o dólar disparou, e o câmbio ajudou a realimentar a inflação. O desequilíbrio fiscal, exibido na decisão insensata de mandar o Orçamento deficitário, fez as expectativas piorarem e iniciou uma fase ruim. O BC não é responsável pela deterioração de todo o quadro, mas na semana passada, ao conduzir a reunião do Copom que decidiu pela manutenção dos juros, passou a ideia de que estivesse cedendo à pressão política. Há uma convicção de que houve erro na comunicação. Haverá chance de diminuir o estrago com a divulgação da ata esta semana.

Diante desse quadro de inflação, o governo ainda não tem resposta. Ele também demonstra não saber como lidar com a recessão. Tudo o que disseram até agora sobre medidas que vêm sendo pensadas pelo ministro da Fazenda não parece muito viável. Tentar estimular o crédito quando está claro que não falta oferta de crédito, mas sim demanda por empréstimos, ou seja, pessoas e empresas não estão muito interessadas em se endividar no atual contexto. Essa falta de noção do que fazer atinge muitas vezes o setor privado. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, dias depois de dizer que a procura por novos empréstimos estava muito baixa, propôs que houvesse liberação de compulsório. Medida expansionista no meio da inflação alta e expectativas se elevando não é recomendável. Quando a demanda por crédito é baixa, a medida é inútil.

O Tesouro divulgou ontem outra notícia ruim. O aumento na dívida pública de um ano para o outro. O governo está mais endividado e com um perfil pior. A dívida pública federal saltou 21,7% em termos nominais, ou seja, sem descontar a inflação, e chegou a R$ 2,8 trilhões. Já o custo para rolar os papéis disparou com o aumento da Selic e com a piora da percepção de risco. O custo médio da dívida chegou a 16,07% em 2015.

A participação de títulos pré- fixados diminuiu, de 41,6% para 39,4%, e aumentou a de papéis com taxas flutuantes, de 18,7% para 22,8%. Isso quer dizer que diminuiu a previsibilidade sobre os custos da dívida, porque eles vão oscilar dependendo da inflação, da Selic e do dólar. Ainda esta semana o Banco Central vai divulgar os números finais do setor público consolidado. O país fechará o ano de 2015 com déficit primário, déficit nominal e um forte aumento do endividamento bruto.


O ano de 2016 começou com as expectativas de inflação bem acima do teto da meta e já se projeta inclusive aumento para 2017. Os cinco que mais acertam as previsões deram um grande aumento nas projeções de inflação para o ano que vem, de 5,50% para 7,19%. O cenário previsto pelo mercado é de que o país terá mais dois anos de recessão com inflação alta.

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