sábado, 16 de janeiro de 2016

Míriam Leitão: Número indesejado

- O Globo

A crise econômica produziu 2,5 milhões de desempregados no Brasil em apenas um ano, informou ontem o IBGE. O país tem agora 9,1 milhões de desocupados. A taxa de desemprego subiu pelo 10º mês e bateu recorde no trimestre encerrado em outubro, chegando a 9%. Para analistas, passará de 10% em 2016. O desemprego em 9% é apenas parte da notícia. O que houve em 2015 é que o indicador não seguiu a sazonalidade de aumento em começo do ano e queda nos meses finais. Em nenhum momento o índice caiu. O dado de ontem do IBGE foi o do trimestre terminado em outubro, medido pela Pnad em todo o país. Um estudo do Ipea mostrou que 30% dos que perdem emprego são chefes de família.

Os economistas projetam que o desemprego continuará aumentando. A previsão do Bradesco é que a taxa média suba para 9,7% este ano. Mas há estimativas mais pessimistas, como a da consultoria Rosenberg Associados, que prevê um número de 10,6%. O total de pessoas procurando emprego já chegou a 9,1 milhões no país, com um salto de 36,8% entre outubro de 2014 e outubro de 2015. Isso significa 2,5 milhões a mais de desempregados.

Esse aumento é consequência do que o Brasil tem vivido: recessão, inflação alta, incerteza em relação aos rumos da economia. Empresários não investem, consumidores não compram, atividade cai. Se a crise é passageira, as empresas mantêm o quadro de funcionários. Mas, quando a percepção é de que vai perdurar, as demissões começam a acontecer. É o caso agora. Já se tem noção de que a recuperação vai demorar.

Na visão de Carlos Henrique Corseiul, coordenador de estudos de trabalho e renda do Ipea, o que está refletido nos números é mais o aumento da busca de emprego do que exatamente o número de demissões. Quando há uma crise como a que o país está vivendo, mais pessoas da família vão ao mercado de trabalho, e isso eleva o número de desempregados. Isso acontece, por exemplo, por causa do aumento da inflação, que diminui a renda, e pela dificuldade de financiamento no ensino superior. Daqui para diante, no entanto, devem pesar mais as demissões.

Cezar Vasquez, diretor superintendente do Sebrae no Rio, contou que nunca há movimento no balcão do órgão na primeira semana do ano, mas em 2016 ele ficou lotado de procura por orientações sobre como iniciar seu próprio negócio. Sinal dos tempos, a busca de informações para abrir um negócio. Às vezes, é uma forma de a pessoa sem esperança de colocação no mercado encontrar uma alternativa. Segundo o Sebrae, mais da metade dos que vão ao órgão procurando informações técnicas sobre como iniciar um negócio por conta própria já trabalhou no mercado formal.

— Muitas vezes, a pessoa adquiriu uma habilidade no mercado formal, pensa em desenvolvê-la num negócio próprio e aproveita a perda do emprego para iniciar o projeto — diz Vasquez.

Mesmo que em muitos casos seja assim, uma oportunidade de realizar um antigo projeto, na maioria das vezes o desemprego cai como uma bomba sobre a pessoa demitida e sua família. Corseiul contou que, numa comparação que fizeram com a crise de 2008, ficou claro que o problema agora é grave.

— Queríamos saber como foi aquela crise e a atual no desemprego de chefes de família. Em 2008, não houve aumento expressivo, porque a crise foi curta, mas agora há crescimento do número de chefes de família desempregados. Dos que perderam emprego agora, 30% eram chefes de família. Para a pessoa, é um problema, mas quando acontece com o chefe da família é desestruturador — afirmou.

As demissões em grandes empresas chamam mais atenção, como as anunciadas pelas siderúrgicas e pelas montadoras de veículos. Mas preocupa muito o que está acontecendo no setor de serviços e no varejo. São demissões silenciosas, que também terão impacto sobre as famílias.

O Brasil está entrando numa conjuntura de queda da oferta de vagas, quando a economia, no mundo inteiro, está produzindo com uma geração de empregos cada vez menor pelo novo padrão de produção. Há uma fenômeno global de pouca demanda por mão de obra. Mesmo assim, países como os Estados Unidos e Alemanha estão com baixa taxa de desemprego. É possível, mesmo neste contexto, ter um nível maior de oferta de trabalho, mas o problema com o Brasil é a coincidência da tendência estrutural com uma conjuntura de recessão e paralisia de investimentos e demissões.

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