quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

‘Nas delações, o grande prêmio é falar o nome do Lula’

• Ex-presidente diz que Lava-Jato quer chegar até ele, mas afirma que não teme a operação porque não conhece ‘viva alma mais honesta’; petista defende Dirceu e Vaccari

Jaqueline Falcão, Stella Borges - O Globo

SÃO PAULO - Em entrevista a blogueiros, ex-presidente Lula disse que não teme a Lava-Jato. Ele pediu solidariedade a Dirceu e Vaccari, petistas presos. Oex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que está “tranquilo” quanto às denúncias no âmbito da Operação Lava-Jato, e afirmou que “não tem neste país uma viva alma mais honesta” do que ele. Em encontro com blogueiros no Instituto Lula, em São Paulo, o expresidente afirmou que as delações só valem se citarem seu nome:

— Eu já ouvi dizer que nas perguntas, nas delações, o grande prêmio é falar o nome do Lula.

Lula também saiu em defesa dos companheiros de partido presos no esquema de corrupção na Petrobras e afirmou que o PT vai “ressurgir das cinzas mais forte”.

— Tenho endereço fixo, todo mundo conhece minha cara. Se tem uma coisa que me orgulho é que não tem, neste país, uma viva alma mais honesta do que eu (sic). Nem dentro da PF, do MP, nem dentro da Igreja Católica, nem da igreja evangélica e do sindicato. Pode ter igual, mas eu duvido — disse o ex-presidente.

Lula ainda defendeu o extesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-ministro José Dirceu, presos na Lava-Jato e pediu “solidariedade” aos companheiros de partido.

— Você acha justo o Vaccari estar preso sem ter sido julgado? O Zé Dirceu já estava condenado e agora está lá fazendo o quê? Não é porque o companheiro da gente cometeu um erro que temos que execrar ele. Espero que sejam julgados com lisura e isenção — disse.

O ex-presidente afirmou ainda que a partir de agora vai passar a processar jornalistas “para ver se retomamos a dignidade profissional da categoria”. Durante o encontro, lembrou ação que move contra jornalistas do GLOBO. No mês passado, a Justiça do Rio negou pedido de indenização por danos morais feito por Lula.

O ex-presidente admitiu também que o PT cometeu práticas que sempre condenou, mas disse que a sigla tem reconhecido seus erros e que “todos os partidos receberam dinheiro da mesma fonte”.

— Os empresários dão dinheiro para todos os partidos. Ninguém vai na favela pedir dinheiro. Agora, tentar passar a ideia de que propina só o PT? É como se o PT fosse imbecil. Os outros só iam no honesto e o PT só ia no errado? — indagou Lula.

O petista ainda disse que estará atuante nas eleições municipais de 2016, destacando que o partido “não está acabado”, e não descartou uma possível candidatura à Presidência da República em 2018.

Sobre a política econômica do país, Lula afirmou que a presidente Dilma Rousseff tem que ter como “obsessão” a retomada do crescimento, o controle da inflação e a geração de emprego. Para o expresidente, o governo também terá que anunciar mudanças que justifiquem a troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no comando do Ministério da Fazenda.

— Em algum momento se acreditou que fazendo um discurso para o mercado ia melhorar, não conseguimos ganhar uma pessoa do mercado. Nem o Levy, que era representante do mercado, ganhou. E perdemos a nossa gente. A Dilma tem um desafio, agora. Em algum momento neste mês vão ter que anunciar alguma coisa, até para explicar por que o Levy saiu, o que vai mudar.

Em Davos, o ministro Nelson Barbosa reconheceu que o ex-presidente é uma liderança importante para o governo, mas ressaltou que um plano de reequilíbrio da economia e recuperação do crescimento já foi traçado.

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