quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Operação preocupa, mas economia ainda é o grande temor

Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

A escalada de denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), incomoda e preocupa o Palácio do Planalto. Na avaliação de auxiliares da presidente Dilma Rousseff, os vazamentos de “pedaços” das delações premiadas têm o claro objetivo de esquentar o processo de impeachment.

Segundo auxiliares, Dilma ficou irritada com o depoimento do ex-diretor da área internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, um dos delatores da Operação Lava Jato. O delator é o mesmo homem que, de acordo com a presidente, produziu um relatório “falho” e “omisso” sobre Pasadena, nos EUA, com base no qual foi aprovada a compra da refinaria, causando um prejuízo de US$ 792 milhões à estatal.

A ordem no Planalto é desidratar todas essas acusações e não responder à maioria delas, sob o argumento de que são inconsistentes, vagas e não ficam de pé. Mesmo assim, auxiliares de Dilma admitem que os vazamentos são “preocupantes” porque surgem a cada tentativa do governo de levantar a cabeça.

Neste início de ano, com o Congresso em recesso, o Planalto esperava uma espécie de “trégua” política. Lula aconselhou Dilma a aproveitar o momento para lançar medidas de estímulo à economia e fazer acenos à base aliada.

Os petistas, porém, foram surpreendidos por mais delações e até mensagens de texto em celulares, citando Lula e seu entorno em esquemas de corrupção. A percepção de ministros próximos a Dilma e da cúpula do PT é a de que, a cada tentativa da presidente de obter protagonismo e emplacar uma agenda positiva, há vazamentos para alimentar a crise. O Planalto estima ter os 171 votos necessários para barrar o impeachment na Câmara, sem precisar da “mão amiga” de Renan no Senado. O maior receio do PT, porém, é que, mesmo sem essa faca sobre a cabeça, a governabilidade fique ameaçada, caso a recessão se aprofunde. Diante desse cenário, a frase que virou case de marketing eleitoral nos Estados Unidos – “É a economia, estúpido!” – parece se encaixar no figurino brasileiro.

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