sábado, 16 de janeiro de 2016

País já tem mais de 9 milhões de desempregados

Mais 2,5 milhões sem trabalho

• Desemprego no país sobe a 9%, o maior da pesquisa. Analistas preveem taxa acima de 10%

Marcello Corrêa - O Globo

A crise no mercado de trabalho levou mais 2,5 milhões de trabalhadores para fila de desempregados no período de um ano. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados ontem pelo IBGE, no trimestre encerrado em outubro passado, o número de pessoas que procuraram e não conseguiram trabalho deu um salto de 38,3% em relação ao mesmo período do ano anterior e chegou a 9,1 milhões de brasileiros. Resultado: a taxa de desemprego chegou a9%, a maior desde o início da pesquisa em 2012. E os economistas já preveem que o índice vai continuar subindo e chegará aos dois dígitos em meados deste ano.

Essa foi a décima alta seguida na taxa de desocupação. Em outubro de 2014, o desemprego no país estava em 6,6%, 2,3 pontos percentuais inferior ao de 2015. O número não chegou a surpreender os economistas diante do cenário econômico difícil, mas quebra uma tendência sazonal: tradicionalmente, outubro é um mês de alívio no mercado por causa da contratação de temporários. O que, por causa da recessão, não ocorreu dessa vez.

— A tendência de deterioração está se sobrepondo à sazonalidade que costuma ser favorável em outubro. É provável que, de janeiro a março, quando a retração costuma ser mais forte, a piora seja ainda mais rápida — avalia Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.

Thais prevê desemprego em dois dígitos em 2016 e taxa média de 10,5% ao ano. E não está sozinha. Para José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUCRio, o desemprego atingirá o pico de 13% ainda em meados deste ano e, se a crise econômica for mais branda no segundo semestre, recua para algo próximo de 11% ou 12% no fim do ano. Caso a recessão se intensifique, o ano voltará a ser de desemprego em alta constante, prevê Camargo.

Com o desemprego alto, a renda média real (já calculado o impacto da inflação) não avança. Em outubro, o salário médio do brasileiro foi de R$ 1.895, com queda de 1% em relação a igual período do ano anterior.

Emprego com carteira encolhe
O problema é que nem todos os indicadores da Pnad Contínua, pesquisa de abrangência nacional, estão em queda. Ou seja, ainda há espaço para piora, explica Camargo. O total de empregados, por exemplo, fator importante para a composição da taxa de desemprego, se mantém próximo do patamar de 92 milhões desde 2014. Segundo analistas, o desemprego aumentou porque mais pessoas estão procurando vaga e encontrando portas fechadas, já que a economia não cresce para absorver o aumento de pessoas que chegam ao mercado de trabalho.

— A queda no número de pessoas empregadas já começou a ser observada na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que se concentra em seis regiões metropolitanas. Em outubro, caiu 3,5% frente ao ano anterior. Não há dúvida que na Pnad Contínua a ocupação vai cair mais também. Provavelmente o que está acontecendo é que a recessão é mais forte nas regiões metropolitanas do que no interior do país — diz Camargo, para explicar a diferença de resultado das duas pesquisas do IBGE.

Um dos fatores que têm feito o grupo dos ocupados se manter estável, apesar das demissões crescentes, é a transferência de empregados formais e mesmo sem carteira para outras formas de trabalho. Quem é demitido e resolve abrir o próprio negócio, ainda que de pequeno porte e informal, por exemplo, não é considerado desempregado. E esse movimento tem se tornado uma tendência nos últimos meses. Em outubro, o número de empregados com carteira assinada encolheu 3,2%, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas, para 35,3 milhões de trabalhadores. Ao mesmo tempo, o número dos que trabalham por conta própria avançou 4,2%, atingindo a marca de 22,5 milhões de brasileiros, enquanto o ganho médio desse grupo caiu 5,2%.

Também preocupa especialistas o aumento do número de demissões em mais setores, além da indústria e da construção civil. O segmento chamado de outros serviços, que vinha registrando resultados positivos, teve a primeira queda estatisticamente relevante desde o início da pesquisa: retração de 4%.

— As demissões na indústria e no comércio até desaceleraram, mas isso foi compensado pela perda no setor de serviços. Esse movimento de ajuste deve continuar, de maneira até relativamente mais forte, no ano de 2016 — afirma Tiago Cabral, consultor sobre mercado de trabalho do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, que prevê desemprego em 11,7% em 2016.

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