domingo, 10 de janeiro de 2016

Samuel Pessôa: Olhando para a frente

- Folha de S. Paulo

A hipótese de trabalho do cenário para 2016 é que ele dependerá pouco de haver ou não troca de Dilma Rousseff por Michel Temer.

É possível que Temer tenha maior habilidade e consiga gerir melhor a política. No entanto, as enormes dificuldades estruturais que produziram a crise econômica –resultado fiscal que mantém a dívida pública em trajetória explosiva e a incapacidade da política em encaminhar o problema– sugerem que a troca de guarda no Palácio do Planalto não fará aparecer 4% do PIB no caixa do Tesouro. Nossos problemas continuarão.

A percepção do parágrafo anterior é agravada pela fortíssima divisão interna do PMDB criada pela agenda do impedimento. Será difícil o PMDB se aglutinar em torno de um polo de poder.

A queda provável de 3,6% da atividade em 2015 deixou um resíduo estatístico de -2% para 2016: se o crescimento for zero em 2016, a média de 2016 ante a média de 2015 será de -2%. Assim, o cenário com o qual trabalho é de crescimento de -3% em 2016. Esse número resultará de crescimento negativo no primeiro semestre e positivo no segundo semestre, além do carregamento de -2% de 2015 para 2016.

Tecnicamente nossa recessão deverá terminar em algum ponto do segundo semestre de 2016. No final de 2016, o PIB per capita será 9% menor do que em 2013.

O ajuste externo continuará bem. O deficit de transações correntes será de US$ 35 bilhões, representando redução de US$ 70 bilhões em 24 meses! O forte recuo do deficit externo deve-se à queda da atividade e a seu impacto sobre o investimento, à desvalorização do câmbio e, boa notícia, à ótima estrutura de nosso passivo contra o resto do mundo.

Nosso passivo, diferentemente das crises dos anos 1980 e 1990, encontra-se na forma de investimento estrangeiro direto e empréstimos denominados em nossa moeda e na nossa jurisdição (gringo colocando dinheiro aqui dentro para financiar o Tesouro Nacional). Sempre que o câmbio se desvaloriza, juros, dividendos e lucros enviados caem muito.

Para a inflação, os modelos indicam, com câmbio de R$ 4,6 em dezembro e inflação de administrados de 8,5%, uma taxa de 7,5% em 2016. Em vista da maior inércia que temos observado, e de prever para 2016 novas rodadas de aumento de alíquotas de impostos –PIS-Cofins, Cide e ICMS– em razão da penúria dos Tesouros da União e dos Estados, cravo 8,5% para a inflação em 2016.

A piora da inércia será reforçada pelo aumento de 11,7% no salário mínimo em janeiro, em um momento de queda do produto per capita.

Apesar de forte inflação, o prosseguimento da desaceleração econômica e a profundidade e a duração da depressão farão com que a taxa de desemprego seja em média de 11,5% em 2016, atingindo 12,5% no quarto trimestre. Teremos um ano de estagflação plena: o aumento do desemprego produzirá pequena queda da taxa de inflação, em razão da elevada inércia e de mais uma rodada de elevação de impostos.

Haverá piora contínua da economia sem ruptura. A elevada posição credora de reservas é uma força amortecedora que impede cenários extremos.

A realidade poderá ser melhor do que essa se o Executivo, com Dilma ou Temer, conseguir unir a base do governo e negociar com a oposição a aprovação de algumas medidas que tratem do nosso desequilíbrio estrutural do gasto público, como a reforma da Previdência, e melhorem as condições de eficiência da economia, como a reforma tributária, com vistas a reduzir o custo de observância da legislação tributária.

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