segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Compra de móveis foi fechada na OAS

Móveis para sítio em Atibaia e tríplex no Guarujá, atribuídos a Lula, foram negociados na OAS. Ex-presidente vai recorrer contra procuradores.

Compra de móveis para tríplex e sítio foi fechada na sede da OAS

• Fernando Bittar, um dos donos da casa de Atibaia, assinou contrato

Cleide Carvalho - Globo

- SÃO PAULO- As duas compras de móveis de cozinha planejados da Kitchens, para o tríplex do Guarujá e para o sítio em Atibaia frequentado pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram fechadas na sede da OAS em São Paulo. As negociações foram conduzidas pelo ex- executivo da empreiteira Paulo Gordilho. A Kitchens não teve qualquer contato com Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia e sócio de um dos filhos do ex- presidente Lula. O contrato, assinado por Bittar, foi entregue à loja pelo próprio Gordilho.

Em depoimento à Lava- Jato, Rodrigo Silva, ex- funcionário da Kitchens, afirmou que a empresa não precisou sequer tirar as medidas da cozinha do sítio, pois elas foram apresentadas por Gordilho, que alegou que o local de instalação, um imóvel em Atibaia, estava em obras. A compra ocorreu em março de 2014, e Gordilho chegou a pedir a Silva que fosse retirar o dinheiro do sinal na sede da OAS. A proposta não foi aceita pela Kitchens, e o próprio Gordilho foi até a loja com uma mala contendo cerca de R$ 200 mil — o dinheiro teve de ser levado a uma sala reservada, onde foi contado em sua presença e na de um gerente da loja.

A compra para o tríplex do Guarujá havia sido fechada em setembro de 2014, e um funcionário da Kitchens esteve lá para tirar as medidas. Os pagamentos foram feitos por meio de transferências bancárias da OAS Empreendimentos.

A revista “Veja” desta semana publicou uma troca de mensagens entre o dono da empreiteira, José Adelmário Pinheiro, mais conhecido como Léo Pinheiro, e Gordilho. Nela, eles discutem as reformas nos dois imóveis relacionados ao ex- presidente Lula que são investigados na Operação Lava- Jato.

Em uma parte da conversa, na época da reforma do sítio, Gordilho escreveu a Pinheiro: “O projeto da cozinha do chefe está pronto. Se ( puder) marcar com a Madame, pode ser a hora que quiser”. Pinheiro responde ao funcionário: “Amanhã, às 19hs. Vou confirmar. Seria bom também ver se o do Guarujá está pronto”. Gordilho replica: “Guarujá também está pronto”. Léo Pinheiro finaliza: “Em princípio, amanhã às 19h”.

A reforma do sítio de Atibaia, que acrescentou quatro suítes ao imóvel, teria sido feita pela Odebrecht, em 2010. Segundo as investigações, a OAS teria sido chamada depois, inicialmente para verificar a barragem do lago, porque o nível da água estaria baixo. Gordilho já havia trabalhado na construção de barragens e foi chamado por Léo Pinheiro para comandar a reforma no lago. Acabou supervisionando também obras na área da cozinha, que estava com infiltração.

O sítio passou a ser investigado pela Lava- Jato por suspeitas de que as melhorias tenham sido usadas como pagamento de propina em troca de contratos fechados pela empreiteira no governo. Há suspeitas de que Lula seja o real dono do sítio, que está em nome de Bittar e Jonas Suassuna, sócios de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha.

O depoimento do funcionário da Kitchens reforça os indícios de que a OAS pagou por reformas no sítio, apesar de Bittar ter figurado como comprador no pedido feito à empresa. Os investigadores suspeitam que os dois sócios do filho do ex- presidente atuaram como “laranjas” do petista na compra do sítio.

O vendedor confirmou ainda que um dos montadores afirmou ter ouvido que o apartamento pertencia ao ex- presidente durante a instalação da cozinha e dos armários no tríplex do Guarujá.

O GLOBO não conseguiu contato com representantes da OAS. Desde o início das investigações, o ex- presidente Lula nega ser o proprietário dos imóveis do Guarujá e de Atibaia.

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