quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Luiz Carlos Azedo: O último cartucho

• Lula tangenciou a crise ética protagonizada por seu partido: “É verdade que erramos, mas acertamos muito mais e podemos melhorar muito mais ainda”

- Correio Braziliense

Estrela do programa do PT que foi ao ar ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gastou ontem seu último cartucho para preservar a própria imagem, que vem sendo corroída pela Operação Lava-Jato, que apura o envolvimento do PT no escândalo da Petrobras, e pelo fracasso do governo Dilma Rousseff. Dirigido pelo publicitário Edinho Barbosa, que substituiu o marqueteiro João Santana, o programa defendeu a “união do país” ao falar da crise econômica e criticou o que chamou de “ódio e intolerância” ao PT. Mesmo assim, provocou intenso “panelaço” contra a legenda nas principais cidades do país.

Mais uma vez, o PT culpou a crise mundial pelo fracasso do governo Dilma na economia. O vídeo cita a crise de 1929 nos Estados Unidos, a crise mundial de 2008 e os empréstimos pedidos pelo Brasil ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para defender a nova matriz econômica de Dilma Rousseff, que resultou num desastre: “No passado, não era assim. Ao sinal de qualquer problema na economia, quem pagava a conta era o povo. Nenhuma medida econômica pode ser boa se deixar para trás as pessoas. País mais forte é pais mais justo”, sustenta o presidente da legenda, Rui Falcão.

As investigações relacionadas ao ex-presidente foram tratadas no programa como ataques que “caluniam” e “desrespeitam” Lula. E a oposição foi acusada de tentar ganhar no tapetão, numa alusão ao pedido de impeachment de Dilma Rousseff e a ação do PSDB que pede a cassação de seu mandato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ex-presidente da República tangenciou a crise ética protagonizada por seu partido: “É verdade que erramos, mas acertamos muito mais e podemos melhorar muito mais ainda. Temos tudo para voltar a crescer e seguir no caminho do desenvolvimento para ser cada vez mais o Brasil de todos os brasileiros”.

Lula buscou proteção no velho ufanismo nacional: “Parece que virou moda falar mal do Brasil. Hoje tenho muito mais confiança no Brasil do que eu tinha quando tomei posse em 2003. Pessoas que falam em crise repetem isso todo santo dia, ficam minando a confiança no Brasil, mas nós continuamos sendo gigantes no agronegócio mundial, somos o terceiro maior exportador de aviões do mundo e, entre as 10 maiores economias, o Brasil é a que tem a matriz energética mais limpa. Continuamos sendo o sétimo maior mercado consumidor do mundo. Nosso povo está muito mais forte”.

O programa do PT foi a última grande oportunidade para defender a imagem do ex-presidente em cadeia de rádio e televisão neste ano; agora, só restam os programas eleitorais dos candidatos a prefeito do PT, mesmo assim, se os candidatos petistas avaliarem que sua presença pode favorecer a vitória. O melhor exemplo de que tentam se desvincular do PT é o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, um “poste” cuja eleição é atribuída ao prestígio de Lula, mas que agora faz tudo que pode para se descolar da rejeição eleitoral ao PT.

A vida do ex-presidente da República não anda mesmo nada fácil. Ontem, o conselheiro Valter Shuenquener, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que havia sustado seu depoimento no Ministério Público de São Paulo sobre o tríplex do Guarujá, votou pela manutenção da investigação a cargo do promotor Cássio Conserino, que anunciara que já tinha elementos para denunciar o petista por suposta ocultação de patrimônio. A proposta foi aprovada por unanimidade.

Mais preocupante, porém, foi a prisão na Suíça do funcionário da Odebrecht Fernando Migliaccio da Silva, que teve prisão decretada na 23ª fase da Lava-Jato. A prisão foi executada com base em ordem do Ministério Público Federal daquele país, que notificou as autoridades brasileiras por ofício, nesta terça. A prisão aconteceu na semana passada e não tem relação com o mandado expedido no Brasil, que era desconhecido pelas autoridades estrangeiras. Documentos que revelam que ele gerenciava contas usadas pela Odebrecht no exterior para pagar propinas para autoridades do Brasil e de outros países.

Segundo a Polícia Federal, Migliaccio mudou-se para o exterior logo após as buscas e apreensões feitas na empresa, em junho de 2015. A Lava-Jato investiga possíveis transferências de recursos desviados da Petrobras pela Odebrecht para contas de João Santana, marqueteiro do PT nas últimas três campanhas presidenciais, e sua mulher e sócia, Monica Moura, que chegaram ontem da República Dominicana e foram presos. Voltaram da viagem sem celulares e laptops, que a Polícia Federal pretendia apreender. A prisão de Santana deslocou o foco das investigações da Operação Lava-Jato para as campanhas eleitorais de Lula, em 2006, e de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. Na cúpula petista, a maior preocupação é com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem foro privilegiado e é investigado pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.

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