sábado, 12 de março de 2016

Cunha retoma impeachment

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, retomará o processo de impeachment na quinta-feira. O PMDB adiará por um mês a decisão sobre sua saída do governo.

PMDB espera fim rápido, e Cunha prepara rito para impeachment

• Presidente da Câmara calcula que pedido pode ser votado em 45 dias

Isabel Braga, Simone Iglesias e Júnia Gama - O Globo

Caso o Supremo Tribunal Federal resolva na próxima quarta-feira o rito do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prometeu ontem que levará o pedido rapidamente ao plenário, que poderá analisá-lo em 45 dias. Cunha é o autor do recurso contra a regra definida pelo próprio STF para a tramitação do pedido.

— Se você respeitar todo o cronograma estipulado na lei e no regimento, começando a partir de quinta-feira, se seguir o rito e os prazos, 45 dias é um prazo razoável. Vamos ver o que o Supremo decide. Não posso dizer que eu vou instalar (a comissão), quero ver o que o Supremo vai decidir. Mas, na quinta (se houver decisão do STF), o processo volta ao curso da continuidade — disse Cunha.

O presidente da Câmara, no entanto, disse que não é possível afirmar, com certeza, que o prazo será seguido, porque há fatores que podem influenciar a tramitação, como movimento de obstrução por parte dos deputados e recursos que possam ser feitos à Justiça. O próprio Cunha se vale de todo tipo de manobra para atrasar a análise do processo de cassação a que responde no Conselho de Ética, em decorrência das denúncias de recebimento de propina.

O desfecho rápido do processo — e do governo Dilma — não é esperado apenas por Cunha, adversário do Planalto. O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB-RJ), e outros caciques peemedebistas estão botando prazo de validade no governo petista. A cúpula do partido, que se prepara para a convenção nacional hoje, não acredita em reação de Dilma e chega a falar que o governo acabará dentro de um mês.

Em reunião com servidores e deputados, quarta-feira, Picciani, que se transformou em importante aliado do governo, afirmou: “O governo federal vai cair nos próximos três meses”.

Aproximação com tucanos
Em Brasília, o sentimento é de que o impeachment torna-se, a cada dia, mais fortalecido. A cúpula do PMDB avalia que a falta de perspectivas com Dilma levou o diretório do Rio a apoiar a reeleição de Temer a presidente do partido, por aclamação.

A mesma análise é feita sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros, que ensaiou dificultar a recondução de Temer, mas acabou recompondo. Internamente, peemedebistas apostam no prazo de validade de Dilma, variando de 30 dias a 5 meses.

Recolhido, Temer telefonou quinta-feira para o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para parabenizá-lo pelo aniversário. O tucano relatou a Temer uma conversa muito proveitosa em jantar com a cúpula dos peemedebistas no Senado, no dia anterior. Os dois combinaram de conversar “futuramente” sobre os rumos do país. No encontro, na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), integrantes dos dois partidos combinaram de “caminhar juntos” e buscar alternativas.

— Não podemos ficar paralisados vendo o país derreter — disse Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado.

Há 15 anos presidente do PMDB, Temer será reconduzido ao cargo, por aclamação, numa demonstração de unidade em torno do afastamento do governo. Sem poder romper formalmente, já que Temer é vice-presidente eleito, o partido sinalizará descontentamento com a petista e garantirá aos deputados e senadores independência em relação ao Planalto nas votações, inclusive sobre o impeachment.

Renan, considerado por Dilma um importante aliado, é um dos que está redigindo o documento que será aprovado na convenção e que dirá que o compromisso do PMDB é com o país, e não com o governo.

Serão apresentadas moções pelo rompimento com o Planalto por membros do partido na Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os peemedebistas deverão juntá-las em um documento único, dando ao diretório nacional prazo de 30 dias para aprovar o rompimento. A estratégia é esperar o avanço do impeachment.

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