quinta-feira, 10 de março de 2016

Em busca de blindagem contra investigações, Lula vai a Brasília

• Ex- presidente pode se tornar ministro para evitar risco de prisão

Alvo da Lava- Jato, o ex-presidente Lula recebe abraço do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele passou o dia em sucessivas reuniões em Brasília, em busca de blindagem, e recebeu do Planalto oferta para que ocupe um ministério, que teria recusado. Chegou a ser cogitado para a Fazenda, a Casa Civil, as Comunicações ou a Justiça. O posto lhe daria foro privilegiado e o livraria da jurisdição do juiz Sérgio Moro.

Júnia Gama, Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Evandro Éboli Eduardo Barreto - O Globo

- BRASÍLIA- Em busca de blindagem contra as investigações da Operação Lava- Jato, o ex-presidente Lula manteve ontem negociações com a presidente Dilma Rousseff e ministros. Ao fim de sucessivas reuniões no Palácio da Alvorada — e também na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), onde compareceram cerca de 20 senadores aliados —, o Palácio do Planalto abriu as portas para que ele se torne o mais novo integrante do governo.

Com status de ministro, Lula obteria foro privilegiado e se livraria do juiz federal Sérgio Moro, que está à frente das investigações da Lava- Jato na primeira instância da Justiça, e de um eventual mandado de prisão. Sua entrada no governo seria ainda uma forma de a administração petista tentar superar a crise política e econômica.

No entanto, interlocutores do ex-presidente afirmam que ele resiste à ideia por dois motivos: o temor de parecer covarde ao fugir de uma possível prisão e a necessidade de ter autonomia total como ministro, o que poderia parecer uma “renúncia branca” de Dilma. Isso, dizem auxiliares da presidente, ela não se mostra disposta a aceitar.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, a nomeação de Lula para um ministério é uma “unanimidade” e depende somente de sua concordância. Lula apenas escolheria a pasta a comandar para exercer duas importantes funções: organizar uma frente contra o impeachment e ajudar na aprovação de medidas que recuperem a economia.

Para Planalto, Lula dirá “sim”
A denúncia contra Lula apresentada ontem pelo Ministério Público de São Paulo foi mal recebida pelo Planalto e fez aumentar a chance de Lula aceitar o cargo de ministro. A avaliação no Planalto é que a denúncia “foi muito política”, principalmente por ocorrer a quatro dias dos protestos. No governo, é dado como certo que Lula vai dizer “sim”.

Ministros, senadores e deputados petistas têm feito apelos para que Lula seja indicado ministro. Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, defendeu a proposta:

— Quem não quer Pelé jogando no seu time?

No entanto, há no PT dúvidas se essa seria a melhor opção para Lula e o partido.

— É melhor Lula ser preso e fazermos barulho, vigília na cadeia, do que ele ser acusado de covarde. E, para salvar a economia, Dilma teria que dar carta branca para Lula tomar decisões. Acho que ela não topa — afirmou o deputado Reginaldo Lopes (PT- MG).

Crítico do governo Dilma, o senador Lindbergh Farias ( PTRJ), que esteve com Lula de manhã na casa de Renan, disse que o ex-presidente não descarta assumir um ministério:

— Concordo que ele vá para o governo, desde que o governo mude. Entrar para continuar como está aí é virar sócio de uma experiência fracassada. Pode ser uma boa opção para ele ter um julgamento isento no Supremo, porque a Justiça do Paraná está cometendo ilegalidades para condená-lo artificialmente. Mas é algo que tem de ser bem analisado.

O líder do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), propôs que Lula assuma o papel de coordenador político, mas fora do governo:

— Seria uma coordenação macro, com o objetivo de unir os componentes da aliança.

Durante todo o dia, diversas opções de ministérios para Lula foram avaliadas. Além de Fazenda, Casa Civil, Secretaria de Governo e Relações Exteriores, falou- se na possibilidade de elevar o status do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Assim, Lula teria a estrutura necessária para negociar com a sociedade civil, o empresariado e o Congresso.

Segundo auxiliares palacianos, Lula tem dito a Dilma que ainda não se decidiu porque considera polêmico assumir um ministério e enfrentar o desgaste de ser acusado de usar a máquina pública para escapar da Lava- Jato. Mas, no governo, a avaliação é que haverá desgaste tanto se ele entrar no governo quanto se for preso.

Pressa para a decisão
Há um sentimento de urgência sobre a decisão, devido ao temor de que um mandado de prisão contra Lula seja expedido em breve. No Planalto, teme-se que isso aconteça esta semana, antes das manifestações de domingo. Por isso, cresceram as pressões para que ele integre o governo.


Preocupado com o que chamou de ilegalidades na Lava Jato, o deputado Wadih Damous (PT- RJ) disse que estuda apresentar um projeto de lei que restabeleça o foro privilegiado a ex- presidentes.

Já a oposição reagiu à possibilidade de Lula se tornar ministro de Dilma.

— Nenhum homem público está acima da lei. Se isso se consagrar e ele assumir o ministério, acho preocupante no que diz respeito às investigações — disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

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