terça-feira, 1 de março de 2016

Oposição e entidades policiais veem risco de interferência em investigações da Lava- Jato

• Já as associações de procuradores e peritos criminais elogiam a escolha de Wellington

Eduardo Bresciani, Isabel Braga Jailton Carvalho - O Globo

- BRASÍLIA- A oposição criticou ontem a saída de José Eduardo Cardozo do comando do Ministério da Justiça e avisou que não aceitará qualquer tipo de ingerência sobre a autonomia da Polícia Federal ou ameaças à Operação Lava- Jato. Para a oposição, a demissão expõe a pressão de petistas e do ex-presidente Lula sobre o governo na tentativa de controlar a PF, e enfraquece a presidente Dilma Rousseff. O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PTPE), negou que a troca seja decorrente de pressão do PT e disse que foi de rotina.

Pelas redes sociais, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, disse que “o país não aceitará qualquer tentativa de interferência na autonomia da Polícia Federal ou de cerceamento das nossas instituições”.

— O que o PT e Lula querem é que o ministro da Justiça controle as atividades da Polícia Federal e as investigações que atingem membros do governo e do partido. É inadmissível e condenável qualquer tentativa de interferência — disse o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA).
O líder do DEM, Pauderney Avelino ( AM), diz que ficará atento a qualquer tentativa de reduzir o orçamento da PF:

— Vamos ficar alertas e evitar o esvaziamento do orçamento da PF, que tem que manter sua independência. O governo pode agir promovendo a sufocação orçamentária do órgão.
Entidades sindicais divididas
Senadores governistas negaram pressão do PT para a saída de Cardozo. Humberto Costa disse que o ministro já tinha manifestado três vezes a intenção de sair, até por questão de saúde.

— O PT, que eu saiba, não tem feito pressões para frear as investigações. A marca do PT sempre foi o fortalecimento dos órgãos de controle e o novo ministro dará continuidade a esse trabalho — disse.

— Qualquer ministro que entrar vai ter a postura de José Eduardo Cardozo. Os delegados têm autonomia para instaurar inquéritos sem precisar de autorização — acrescentou Gleisi Hoffamnn (PT-PR)

Entidades sindicais da PF e do Ministério Público se dividiram sobre a troca de comando. A Associação Nacional de Delegados da PF (ADPF) e a Federação Nacional ( Fenapf ) criticaram a decisão de Dilma que, para dirigentes das duas instituições, pode abrir caminho para futuras interferências em investigações da polícia.

A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais elogiaram a escolha do novo ministro, Wellington César Lima e Silva, e acrescentaram que não há risco de ele restringir investigações criminais.

A ADPF reagiu. “Os delegados da Polícia Federal receberam com extrema preocupação a notícia da iminente saída do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em razões de pressões políticas para que controle os trabalhos da Polícia Federal”, diz nota divulgada pelo presidente da associação, Carlos Eduardo Miguel Sobral. A Fenapf elogiou o novo ministro, mas também se disse preocupada com mudanças.

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