quarta-feira, 9 de março de 2016

Planalto teme confronto, e Alckmin veta ato do PT

• Ministros pedem a petistas que desmobilizem manifestações pró- Dilma

Governador de SP proíbe a militantes que apoiam Lula e o governo federal de protestarem no local já reservado por defensores do impeachment. Marco Aurélio disse temer ‘ um cadáver’

A preocupação com o risco de confrontos nas manifestações de domingo levou o governo a pedir a desmobilização da militância petista, que previa ir às ruas em defesa do ex-presidente Lula e do governo. O protesto fora inicialmente marcado por defensores do impeachment da presidente Dilma. “Ter um quadro de paz é fundamental”, disse a presidente ontem. O ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) pediu a parlamentares que convencessem a militância a escolher outro dia para se manifestar. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin vetou protestos de petistas na Avenida Paulista, local escolhido pelos manifestantes anti-Dilma. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse temer que surja “um cadáver” em confrontos no domingo.

Governo tenta esfriar ânimos

• Preocupado com violência, Planalto pede a apoiadores para não irem às ruas no dia 13

BRASÍLIA- A reação de petistas e da militância anti-impeachment aos protestos do próximo domingo preocupa o Palácio do Planalto e dirigentes do PT, que temem a ocorrência de confrontos violentos entre manifestantes pró e contra o governo Dilma Rousseff. Ontem, esse assunto dominou algumas reuniões, e ministros pediram a líderes do PT e da base aliada que parem de insuflar os militantes a irem às ruas no domingo, mesmo dia do ato contra o governo. Há um grande receio de que o próprio governo seja criminalizado pela eventual radicalização entre os manifestantes.

O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, fez o pedido a líderes do governo, em reunião no Planalto. Na véspera do encontro, o presidente do PT, Rui Falcão, já tratara do tema com ministros, e Berzoini começara a telefonar a alguns parlamentares para que não estimulassem militantes a um enfrentamento direto com opositores na rua e escolhessem outro dia para manifestarem- se.

Segundo os líderes aliados, Berzoini disse achar um erro manifestações opostas no próximo dia 13. O ministro disse que o PT não está convocando militantes para atos a favor do governo, e a própria presidente Dilma está ligando para petistas nos estados, sugerindo que façam manifestação em outro dia.

— O ministro disse que está ligando para os estados, e que o governo não quer passar a ideia de que está dividindo o país — contou o deputado Domingos Neto (PROS-CE).

Temor de criminalização
No Planalto, a avaliação é que, se houver protestos em defesa de Lula também no domingo, o ato pró- impeachment pode ficar ainda mais atrativo para quem reprova o governo. Além disso, há o receio de que, com ânimos exaltados dos dois lados, os confrontos ideológicos transformem-se em violência física. Isso criminalizaria o protesto do PT e desgastaria o governo.

— Imagine se tiver confusão, se alguém sair ferido. É uma possibilidade muito real com tudo o que está aí — afirmou um auxiliar de Dilma.

O risco de algum manifestante, seja do lado que for, sofrer algo mais sério, e até mesmo morrer, é a principal preocupação. A expressão “cadáver para jogar no colo do PT” foi ouvida ontem entre auxiliares de Dilma. A frase faz menção à declaração do teólogo Leonardo Boff, que publicou uma mensagem em seu Twitter na segunda-feira, republicada por Rui Falcão. “Nas manifestações de apoio a Lula e Dilma deve se evitar o confronto violento. Os golpistas buscam um cadáver para chamar as Forças Armadas”, escreveu Boff.

— Quanto mais estabilidade, melhor para o governo. Estamos desmobilizando para que as manifestações aconteçam em outro dia. É assim em uma democracia — disse um assessor do palácio.

Dilma Rousseff, em solenidade do Dia Internacional da Mulher, afirmou que os governos precisam de “paz”, principalmente para enfrentar crises.

— Ter um quadro de paz é fundamental. Os governos precisam de paz para que nós tenhamos condições de enfrentar a crise e retomar o crescimento — afirmou a presidente, que fez um apelo pelo diálogo e unidade do Brasil.

O governo alerta ainda que há uma outra preocupação que pode acirrar mais os ânimos: as decisões que o juiz Sérgio Moro possa vir a tomar até a data da manifestação.

— Nesse ritmo, o Moro pode colocar mais gente nas ruas. Decidir por condenações, vai insuflar os que são contrários ao governo. Por outro lado, pode também estimular os que defendem o governo. Acho que o melhor seria o juiz Moro aguardar esse dia 13 passar e depois anunciar suas decisões — disse um parlamentar ligado ao governo, que pediu para não ser identificado.

Pela oposição, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), solicitou ao Ministério da Justiça proteção policial aos manifestantes pró-impeachment.

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