terça-feira, 12 de abril de 2016

A força do populismo – Editorial / O Estado de S. Paulo

A ideia de que existem soluções fáceis para os problemas da economia e de que basta ao governo ter vontade para que os pobres sejam conduzidos ao paraíso da classe média já deveria estar inapelavelmente desmoralizada. Afinal, o que não faltam são evidências de que essa irresponsabilidade populista, grande marca dos governos petistas, arruinou a economia nacional e, como consequência, anulou os eventuais ganhos que os pobres possam ter obtido, além de ter lhes comprometido o futuro. 

No entanto, quando se observa que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda aparece com cerca de 20% das intenções de voto para presidente e teve seu nome citado espontaneamente por 40% como “o melhor presidente da história do Brasil”, conforme pesquisa do Datafolha, constata-se que resiste, em parte da sociedade brasileira, um certo pensamento mágico, que atribui ao chefão petista a capacidade de transformar os fatos pela simples expressão de seu desejo.

Apenas o inegável talento de Lula não basta para explicar a sobrevida desse pensamento. Contribui para fortalecê-lo a incapacidade da oposição de expor aos eleitores o embuste lulopetista, segundo o qual “nunca antes na história deste país” os pobres foram tão valorizados e que “eles” – os que não votam no PT – “durante 500 anos não souberam cuidar desse povo”, conforme discursou Lula dia desses.

Graças à fraqueza da oposição, sustenta-se a mensagem de que foram os petistas – Lula à frente – os responsáveis por redimir os pobres, pela simples razão de que o PT detém o monopólio da sensibilidade social. Por esse motivo, os eleitores mais suscetíveis à demagogia petista continuam a atribuir apenas a Lula e ao PT os ganhos que, na verdade, só foram possíveis graças à estabilização da economia – uma conquista de todos os brasileiros, a partir do Plano Real e da Lei de Responsabilidade Fiscal, medidas contra as quais, é bom que se frise, os petistas lutaram com unhas e dentes.

O principal ativo lulopetista está, portanto, na crença de uma parte dos brasileiros de que os recursos do Estado são infinitos e de que todos têm direito a acumular cada vez mais benefícios às expensas do erário. É nesse atraso que Lula e a tigrada apostam para permanecer no poder.

Assim, Lula já mandou espalhar que, caso o impeachment não prospere, o governo será “refundado” em bases ainda mais populistas. Conforme noticiou o Estado, o chefão petista é o autor de um plano de “sobrevivência” da presidente Dilma Rousseff que inclui aumentar o Bolsa Família, expandir a oferta de crédito e investir em construção civil para gerar empregos. Ou seja, tudo o que Lula tem a oferecer ao País é a recauchutagem de um programa de governo já desacreditado pelo cotidiano desastroso da economia. O desemprego crescente, a inflação que só cai em razão da brutal recessão e a perda de confiança em todos os setores da economia são resultado direto das mesmas apostas erradas que Lula pretende agora dobrar.

Mas nada disso parece importar, nem para Lula nem para seus fanáticos simpatizantes. Lula acha que Dilma deve adotar imediatamente medidas que, em suas palavras, “ponham dinheiro na mão do pobre”, isto é, que façam com que as classes menos favorecidas tenham a sensação de que recuperaram poder de compra. “Deem para a gente seis meses de paciência e vamos provar que este país vai voltar a ser o País da alegria”, prometeu Lula no mês passado.

É preocupante que ainda haja quem acredite nessa impostura, mas as pesquisas estão aí para provar que o Brasil, embora tenha avançado muito, permanece vulnerável a esse tipo de discurso irresponsável. É por essa razão que se tornou imperativa a construção de uma oposição mais ativa e aguerrida, que não tenha medo de assumir a ingrata tarefa de convencer os brasileiros de que o ilusionismo populista como o de Lula condenará o País ao atraso crônico se não for desde já abandonado.

 Deve ficar claro para os eleitores que a única saída para o Brasil é austeridade e trabalho duro, com o sacrifício de todos, para reequilibrar as contas, recuperar a confiança e realizar as reformas que racionalizem os gastos do Estado.

Só assim haverá a verdadeira justiça social, sustentável e permanente, e não a miragem oferecida por algum mágico de fancaria.

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