quinta-feira, 21 de abril de 2016

As guerras, externa e interna, do petismo - Jarbas de Holanda

Até o afastamento da presidência na primeira quinzena de maio, com a sequência do processo de impeachment por decisão da maioria simples dos senadores prevista como praticamente certa, Dilma Rousseff preservará (como preservou sob o impacto imediato da fragorosa derrota sofrida domingo último no plenário da Câmara) o respaldo da direção do PT à sua prioridade de defesa do mandato. Prioridade que, porém, já está agora sendo reavaliada e será progressivamente substituída pelas de agressivos ataques partidários ao “governo golpista e reacionário de Michel Temer” e de eleição para novo presidente da República. Em articulação com palavras de ordem e atos de invasão de terras, bloqueios de estradas, greve geral, ocupação de vias urbanas, por parte do MST, da CUT, do MSTT... – ameaças de improvável eficácia, usadas mais como tentativas de intimidação política e social. As duas frentes de tal guerra externa visando não o retorno da presidente afastada mas fragilizar, inviabilizar e “deslegitimar” (como Lula pregou ontem em São Paulo) o governo provisório de Temer, como parte da montagem de uma radical “Frente Brasil Popular”.

E essa guerra – ao longo do governo provisório e na transformação institucional dele em regular – será travada simultaneamente com outra, interna, no PT. Centrada na disputa entre as propostas de reafirmação do comando do partido pelo lulismo e as de diluição ou troca deste por meio de uma “refundação” da legenda ou criação de outra apoiadas numa retórica de volta à “pureza do passado”. Disputa que será influenciada pelo isolamento dos candidatos majoritários petistas nas eleições municipais de outubro, bem como pela desfiliação, já anunciada, de vários membros das bancadas federais do partido. Outra variável possível, de peso importante nessa guerra interna, será a dos desdobramentos da operação Lava-Jato sobre um ex-presidente Lula desprotegido de foro privilegiado.

Quanto à queda do peso do lulopetismo e da esquerda parlamentar por ele hegemonizada, cabe assinalar dois resultados significativos da decisão final da Câmara no processo de impeachment. Primeiro – o total de 87 deputados com votos contrários, do PT, do PCdoB, do PDT (que teve seis dissidentes) e do PSOL ultraesquerdista, ficou bem abaixo dos 109 da própria bancada do PT eleita em 1998 e ampliada nos pleitos nacionais de 2002, 2006 e 2010. Segundo – o placar da disputa em Minas Gerais em torno do impeachment foi de 41 votos a favor, inclusive dos 6 deputados peemedebistas, a 12 contrários. O que representou o desmonte da aliança Dilma/Fernando Pimentel, com um vice do PMDB, que teve papel relevante, senão decisivo, para a derrota no estado do oposicionista Aécio Neves no pleito presidencial de 2014.

A hora da verdade do neorreformismo do PMDB
A respeito dos desafios enfrentados pelo vice-presidente Michel Temer na montagem do novo governo à frente e na definição de suas prioridades, cabe destacar dois trechos do editorial de ontem do Valor – “Agora é preciso um programa que tire o Brasil da recessão”. Primeiro trecho: “A primeira medida é a divulgação para a sociedade dos dados sobre esse desastroso quadro, com toda a transparência. A população precisa tomar conhecimento da realidade fiscal para que possa entender e aceitar medidas impopulares que o governo seja obrigado a adotar...”. E o segundo, na conclusão do editorial: “Sobre o PMDB pesa o legado histórico do pouco apreço pelo equilíbrio fiscal e do fisiologismo, perfil claramente inadequado para as tarefas do presente. Essa talvez uma das mais difíceis e importantes mudanças que Temer terá de encarar, se quiser ser bem sucedido”.

Oposição – Reflete preocupações e cobrança semelhantes a “agenda emergencial” que o presidente do PSDB, Aécio Neves, está articulando na Executiva Nacional e junto aos governadores e principais lideranças do partido como contrapartida ao apoio ao governo Michel Temer. Cinco pontos dessa “agenda” antecipados por ele à imprensa: simplificação do sistema tributário; reformas da Previdência e política; fim do aparelhamento das agências reguladoras de serviços públicos, dos fundos de pensão e demais órgãos da máquina federal; compromisso com os programas sociais; completa mudança da política externa (com o fim da ideologização terceiro-mundista). Itens aos quais Aécio acrescenta um de caráter político-institucional relevante: a blindagem da operação Lava-Jato, com o pleno respeito à autonomia dos órgãos responsáveis pelas investigações.
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Jarbas de Holanda é jornalista (20/4/2016)

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