domingo, 17 de abril de 2016

Desafios que aguardam Temer

• O primeiro é formar um governo capaz de garantir governabilidade sem fazer concessões ao fisiologismo

José Álvaro Moisés, cientista político – O Estado de S. Paulo

Michel Temer terá de formar um novo governo se o Senado confirmar o impeachment de Dilma Rousseff. O pano de fundo é a mais grave crise enfrentada pelo País desde a democratização. Multidimensional, a crise afeta a economia, a política e o sistema de valores e de direção da sociedade, e cada uma dessas dimensões retroalimenta as demais. Uma de suas faces mais dramáticas é a aparente inexistência de líderes com perfil de estadista para responder à crise.

• Talvez, por isso, 92% de entrevistados de pesquisas de opinião afirmem que todos os políticos são ladrões, enquanto 89% não consegue apontar alguém capaz de tirar o país da crise. Temer será a resposta a isso?

Três são os desafios que ele enfrentará. Primeiro, formar um governo capaz de garantir a governabilidade sem fazer concessões ao fisiologismo. O País não aguenta mais a cultura do toma-lá-dá-cá para formar a maioria governativa.

Acordos e negociações podem e devem ser feitos com transparência, abertos ao público, definindo com clareza, não só cargos, mas o papel exato de cada partido em programas de governo. Segundo, ele e o PMDB terão de apresentar rapidamente um plano de governo para responder à recessão, ao desequilíbrio fiscal e à perda de empregos, sem esquecer da crescente demanda popular por mais serviços públicos de qualidade, em especial, nas áreas de saúde, educação e segurança pública. Para isso, a interlocução com a sociedade civil é indispensável: com o mercado, os movimentos sociais e as associações profissionais e científicas.

Finalmente, Temer terá de ser suficientemente claro quanto à sua posição sobre o combate à corrupção. A sociedade não tolera mais ver os partidos e os políticos envolvidos em mal feitos. Temer tem de definir sua posição quanto à Operação Lava Jato, e mais do que isso, tem de dissipar as dúvidas sobre suposto acordo para salvar Eduardo Cunha de denúncias e acusações que pesam sobre ele.

O roteiro parece simples, mas, executado, talvez faça surgir um novo estadista no Brasil.

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