quarta-feira, 13 de abril de 2016

Dilma chama Temer e Cunha de chefes do ‘golpe’ e da ‘traição’

• Presidente diz que vice ‘despreza o povo’ e acabará com conquistas sociais

Catarina Alencastro, Eduardo Barretto, Jeferson Ribeiro - O Globo

-BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff rompeu de vez com seu vice Michel Temer em um novo evento em defesa de seu mandato — o sétimo em três semanas — no Palácio do Planalto. Sem citar nomes, Dilma disse que Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, são conspiradores e ocupam respectivamente os postos de chefe e vice-chefe do golpe. Para a presidente, o vazamento do áudio do vice, prometendo arrumar o país pós-impeachment, foi uma “farsa premeditada”, e o gesto significa traição a ela e à democracia.

— Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa e a traição em curso, não há mais. Se havia alguma dúvida sobre a minha denúncia de que há um golpe de Estado em andamento, não pode haver mais. Os golpistas podem ter chefe e vice-chefe assumidos. Não sei direito qual é o chefe e qual é o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz, com desvio de poder e abusos inimagináveis, o processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse — discursou, para delírio da plateia repleta de estudantes e professores no salão nobre do Palácio do Planalto.

Dilma disse que a turma de Temer faz leilão de cargos num eventual futuro governo do PMDB e avisou à plateia que o vice sinalizou que se vier a ser presidente tirará conquistas sociais.

— Caluniam, enquanto leiloam posições no gabinete do golpe, no governo dos sem-voto — disse, completando que no áudio o vice manifesta hesitação sobre a continuidade dos programas sociais do governo petista. Nesse momento, a presidente, adotou um tom de ironia:

— Diz que é capaz de anunciar que está pensando em manter as conquistas dos últimos anos. Como se precisasse pensar se vai ou não manter conquistas sociais, e avisa que será obrigado a impor sacrifícios à população. Pergunto eu, que legitimidade há nisso? É uma atitude de arrogância e desprezo pelo povo, do qual certamente tentará retirar direitos.

Alerta sobre vazamentos
Em um recado a seus apoiadores, Dilma pediu “vigilância” nos próximos dias, quando os “golpistas” usarão “todos os artifícios possíveis” e a democracia estará mais ameaçada, de acordo com a presidente. Dilma disse que possivelmente “sofrerá” novos vazamentos, acusações, “calúnias e ataques desesperados”. A presidente fez um apelo por calma a seus simpatizantes.

— Estejamos atentos e vigilantes nos próximos dias. Os golpistas tentarão de tudo, tentando nos intimidar, tentando nos tirar das ruas. Usarão todos os artifícios possíveis. Muito possivelmente sofrerei novas calúnias e novos ataques desesperados. Fiquem atentos. Mantenham a unidade, não aceitem provocação. Nós não somos do ódio. Nós somos da paz — declarou.

Uma das mais aplaudidas oradoras do evento Encontro da Educação pela Democracia foi a estudante de Medicina do Prouni (programa de bolsas de estudo para estudantes de baixa renda) Suzane da Silva, que fez um discurso inflamado, no qual disse que está cansada de lutar contra os retrocessos. Negra, a estudante reclamou que já foi criticada por volumoso cabelo:

— Perguntaram se eu entraria no hospital com esse cabelo. Eu estou aqui pra dizer que eu não entro só no hospital, não, que eu entro no avião e entro no Palácio do Planalto.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, — já apontado como “pau mandado” de Eduardo Cunha e hoje fiel a Dilma — afirmou que ministros do PMDB — além dele, Marcelo Castro (Saúde) e Mauro Lopes (Aviação) voltarão a ocupar suas cadeira na Câmara dos Deputados para votar contra o impeachment.

— Eu votei numa presidente, e não num vice. Se não há fato determinado por que o impeachment, se não a disputa política? — questionou Pansera.

Hoje, Dilma dará entrevista aos principais jornais do país.

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