sexta-feira, 15 de abril de 2016

Oposição alcança votos suficientes na Câmara

• Afastamento de Dilma já tem apoio de dois terços dos deputados (342), o necessário para abertura do processo

Isabel Braga, Júnia Gama e Letícia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- O levantamento que vem sendo feito diariamente pelo GLOBO na Câmara dos Deputados indica que ontem a oposição alcançou os dois terços necessários para a aprovação do impeachment no plenário. Ao todo, 342 deputados se dizem favoráveis ao impedimento da presidente Dilma Rousseff. A posição de todos os 513 deputados foi colhida a partir de pronunciamentos públicos, entrevistas ou consultas aos gabinetes. Foram admitidas posições partidárias apenas quando foram tomadas por unanimidade.

Caso se repita a proporção de dois terços na votação de domingo, a Câmara terá aprovado o impeachment. O processo, em seguida, irá ao Senado, que, em julgamento previsto para o início de maio, vai decidir se acolhe ou não. Se o fizer, Dilma será afastada por 180 dias, durante o julgamento, e o vice Michel Temer assume.

Ontem, o governo sofreu novo revés com o anúncio feito pelo líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) — um dos mais fieis aliados do Planalto —, de que 90% da sua bancada votarão pelo impedimento de Dilma e que, por isso ele encaminhará o voto “sim” no próximo domingo. Picciani repetiu ontem, em diversas entrevistas e mesmo na reunião com os deputados da legenda, que votará contra o impeachment e que acredita que entre sete e 10 deputados da legenda poderão fazer o mesmo.

— A maioria ampla, cerca de 90%, é favorável. Como dever de líder, cabe vocalizar esta posição. Não houve fechamento de questão, não haverá sanção a posições divergentes — disse Picciani, para complementar — Foi aclamação simbólica. No domingo teremos um desfecho, e o PMDB precisa estar unido. Vamos comunicar a Temer a decisão.

Ministros garantem voto a favor de Dilma 
Picciani fez questão de levar, ao lado de outros peemedebistas, a decisão da bancada a favor do impeachment para Michel Temer. Segundo o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que esteve com Temer ontem pela manhã, o vice-presidente comemorou. A saída política para Picciani vinha sendo costurada pela cúpula do partido para não deixá-lo numa posição desconfortável.

Por outro lado, os ministros Marcelo Castro e Celso Pansera (apontado como “pau mandado” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha), que ontem foram exonerados de suas pastas para votar domingo, garantiram voto a favor de Dilma. Ao ser indagado se concordava com Dilma, que chamou Michel Temer de chefe do golpe, Castro tergiversou:

— Farei como vereador da minha terra: vou dar o calado (silêncio) como resposta.

Castro disse que apoiou e votou em todos os governos do PT, desde 2002, e que não poderia mudar de opinião em três dias, pois perderia o respeito por si mesmo. Já o ministro Pansera também foi enfático em pedir respeito à postura dele frente ao impeachment e disse que avisou a Temer ser contrário ao impeachment:

— Tenho muito respeito pelo Michel. Conversei com ele no dia 28 de março e disse que minha posição era consolidada.

Pansera, no entanto, disse que sua volta ao ministério de Dilma ou a participação em um futuro governo Temer era algo a ser conversado depois.

A situação do governo poderá se complicar ainda mais hoje. Após anunciar o desembarque do PP do governo e o apoio do partido ao impeachment da presidente Dilma, o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), deverá fechar questão sobre o tema em reunião da Executiva hoje, com punição para aqueles que desrespeitarem a ordem. A decisão é uma retaliação às negociações individuais que deputados do partido fizeram para dar seus votos contrários ao impeachment em troca de cargos no governo.

O que mais irritou a cúpula do PP foi o fato de o deputado Eduardo da Fonte (PE), junto a deputados da bancada baiana, ter indicado José Rodrigues Pinheiro Dória para o Ministério da Integração no lugar de Gilberto Occhi, que entregou carta de demissão um dia após o partido anunciar o rompimento com o governo. O grupo esteve na quarta-feira no Palácio do Planalto negociando com o governo e acertou que Dória seria nomeado ministro interinamente, mas este acabou rejeitando o convite.

— Passaram dos limites. É afronta indicar ministro um dia depois de o partido ter desembarcado. Quem não seguir a orientação da Executiva vai sofrer punições. Vai ter intervenção no estado e até expulsão — afirmou um interlocutor de Nogueira.

Nanicos anunciam voto pro-impeachment
O presidente do PP contabilizava, ontem, ter 42 dos 47 votos dos deputados do partido a favor do impeachment. O senador apoiava a presidente Dilma e resistiu em mudar de lado, mas, depois que a bancada na Câmara tomou a decisão majoritária, decidiu segui-la.

Além do PMDB, os presidentes de PTN, PHS, PEN, PSL e PROS também anunciaram que a maioria de seus deputados — que somam 30 parlamentares — é amplamente favorável ao impeachment. A presidente do PTN, deputada Renata Abreu (SP), disse ter 26 votos neste sentido. Porém, o líder do PTN, Aluísio Mendes (MA), reagiu e afirmou que a bancada está dividida:

— Se está tão consolidado como a oposição diz, por que a busca forte por criar fatos e anunciar fechamento com a posição pró-impeachment? No PTN a bancada está dividida. Temos cinco votos contra o impeachment, seis a favor e dois indefinidos — garante Mendes.

Segundo ele, também nas outras bancadas nanicas, há divisão a favor e contra o impeachment. (Colaboraram Evandro Éboli e Cristiane Jungblut)

Nenhum comentário: