quinta-feira, 7 de abril de 2016

Planalto já mira no plenário como seu foco principal

• Governo esperava decisão desfavorável a Dilma do relator e avalia que colegiado deverá acompanhar voto dele pelo prosseguimento

Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo já esperava que o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) acolhesse a denúncia de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas avalia ter apoio para reverter o quadro no plenário da Câmara. Mesmo assim, a ordem é não baixar a guarda e intensificar a distribuição de cargos nos Estados, além de ampliar os contatos com os indecisos, principalmente do “baixo clero”, grupo formado por políticos pouco conhecidos.

Dilma está tão confiante na vitória que nesta quarta-feira, 6, deu sinal verde para os preparativos da viagem a Nova York e à Grécia, entre os dias 19 e 24, logo após a votação do impeachment. Na primeira parada, ela pretende participar de uma reunião na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre meio ambiente. Na Grécia, a programação prevê o recebimento simbólico da tocha dos Jogos Olímpicos.

Antes mesmo que Jovair terminasse de ler seu relatório de 128 páginas, Dilma se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), no Palácio da Alvorada. Fizeram as contas. Pelos cálculos ali apresentados, Dilma terá 200 votos no plenário. Para barrar o impeachment, ela precisa de no mínimo 171.

O mapa do Palácio do Planalto tem um balanço otimista do “varejo” político, hoje comandado por Lula, que, apesar da nomeação suspensa na Casa Civil, trabalha como se já fosse ministro. No diagnóstico do governo, mesmo com o rompimento do PMDB do vice-presidente Michel Temer, o partido dará a Dilma de 20 a 25 votos contra o impeachment. O balanço conta, ainda, com adesões avulsas de outras siglas que estão na oposição, como o PSB, e leva em conta mais divisões em legendas que ocupam ministérios, a exemplo do PP, PR e PSD.

Na reunião, Dilma, Lula e os ministros avaliaram como “acertada” a decisão de anunciar a reforma na equipe só após a votação do impeachment no plenário, que deve começar no dia 15 e ir até o domingo, 17, mas, num primeiro momento, houve divergências no Planalto sobre a estratégia, considerada de alto risco. O governo admite que Dilma pode perder na segunda-feira, quando a Comissão Especial, com 65 integrantes, analisar o relatório de Jovair, mas está certo de que ela ganhará no plenário.

Embora o Planalto queira passar a mensagem de que não está trocando ministérios por votos, na prática as negociações estão avançadas. Além disso, há vários cargos de segundo e terceiro escalões em barganha nos Estados para aliados que prometem votar contra o afastamento da presidente. “Nós também pedimos ao governo para não fazer a reforma ministerial agora. É inoportuno e não fica bem”, argumentou o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), que foi ministro das Cidades.

Análise. Nos bastidores, auxiliares de Dilma apontaram a estreita ligação do relator Jovair com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Na ânsia de demonstrar (...) algo que fundamente a conclusão de seu voto, o relator confirma a brilhante defesa do ministro da Advocacia Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, que deixou cristalina a verdade: não há crime de responsabilidade para justificar o impeachment”, disse Berzoini, em nota. “Confio que a maioria dos deputados fará Justiça.”

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