terça-feira, 24 de maio de 2016

A fila anda - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Quando um ministro precisa dar mais explicações sobre seu prontuário policial do que sobre os planos que tem para a pasta, é porque já perdeu as condições políticas de exercer o cargo. A permanência de Romero Jucá à frente do Planejamento ficou insustentável após a divulgação da fita de áudio em que ele, um investigado na Lava Jato, aparece mantendo diálogos suspeitos sobre a operação.

Michel Temer precisava livrar-se de Jucá rapidamente, a fim de tentar transmitir a imagem de que seu governo não tem o propósito de deter as investigações policiais. Não fazê-lo ou demorar muito daria a impressão de que sua gestão veio exatamente para parar a Lava Jato -o que seria um desastre de relações públicas.


Até aqui, a estratégia de Temer era clara. Inundou o primeiro escalão de sua administração com políticos influentes no Congresso, com o objetivo de assegurar a maioria necessária para aprovar as medidas de ajuste econômico que terá de apresentar, e reservou o segundo para quadros mais técnicos, que teriam a missão de efetivamente tocar o governo.

O cálculo, a meu ver correto, é o de que não existe solução para a crise que não passe pelo Legislativo. Na prática, Temer assumiu de vez as feições parlamentaristas de nosso presidencialismo de coalizão e pôs no poder um gabinete que procura refletir no governo o espaço que cada partido aliado tem no Legislativo.

Em condições normais, isso poderia até funcionar, mas, em tempos de Lava Jato, fica mais difícil. Além de Jucá, há outros ministros implicados nas investigações, sem mencionar várias das principais lideranças partidárias que já foram citadas por envolvidos, incluindo o próprio Temer.

Se, por um lado, o caso Jucá mostra que ainda não se vislumbra um final para a crise política, ele também sugere que a operação policial já atingiu uma dinâmica tal que não basta a vontade de governantes para paralisá-la. E é assim que precisa ser.

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