segunda-feira, 2 de maio de 2016

No Dia do Trabalho, a volta do discurso do medo

• Ao anunciar reajuste no Bolsa Família, Dilma acusa Temer de querer acabar com programa

Sérgio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO- A presidente Dilma Rousseff retomou ontem o discurso do medo usado na eleição presidencial de 2014 ao falar no ato do Dia do Trabalho realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, e acusou o vice-presidente Michel Temer de planejar tirar 36 milhões de pessoas do programa Bolsa Família caso assuma o poder. No mesmo evento, a petista anunciou um pacote de bondades para a população que inclui, entre outras medidas, um reajuste de 9% no benefício médio do mesmo Bolsa Família e a correção de 5% na tabela do imposto de renda.

Alegando falta de voz, Lula não compareceu
A Polícia Militar não divulgou a estimativa de público. A CUT calculou que estiveram presentes cem mil pessoas, uma redução pela metade do público da manifestação de 17 de abril, dia da votação do impeachment na Câmara.

Escalado para dividir os holofotes com a presidente no ato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, na última hora, não comparecer. Sua assessoria alegou que ele estava sem voz. Mas o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou, na saída do evento, que a ausência do ex-presidente foi uma estratégia para garantir o “protagonismo” de Dilma.

A presidente não citou Temer nominalmente, mas disse que o impeachment irá “contra os interesses dos trabalhadores”. Dilma listou propostas que vêm sendo divulgadas como parte de um programa de governo do vice. Ao falar sobre o projeto do peemedebista de priorizar os 5% mais pobres no Bolsa Família, Dilma acusou Temer de planejar tirar do programa 36 milhões dos 47 milhões beneficiários.

— Vão acabar com o Bolsa Família para 36 milhões de brasileiros e brasileiras, que vão ser entregues às livres forças do mercado para se virar — afirmou.

A presidente adotou ontem, mais uma vez, a estratégia de classificar o processo de impeachment de “golpe” e atacou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ):

— Esse senhor chamado Eduardo Cunha foi o principal agente na história de desestabilizar o meu governo — disse Dilma, sendo interrompida pelo público aos gritos de “Fora, Cunha”.

Dilma ainda acusou Temer de planejar acabar com a política de valorização do salário mínimo, desvincular o reajuste dos aposentados do mínimo e transformar a legislação trabalhista brasileira em “letra morta”. Destacou ainda que o programa do PMDB prevê “privatizar tudo que for possível”. — A primeira vítima é o pré-sal — disse. Para uma plateia formada por integrantes de movimentos sociais, a presidente acrescentou haver risco também para o Minha Casa Minha Vida:

— Querem acabar com os movimentos de moradia.

Dentro do pacote de bondades, a presidente também anunciou a contratação de 25 mil moradias para o Minha Casa Minha Vida, a criação do Conselho Nacional do Trabalho, a ampliação da licença-paternidade para funcionários públicos de cinco para 20 dias e o Plano Safra para agricultura familiar.

Pelo país, houve ontem atos contra o impeachment em, pelo menos, 28 cidades de 19 estados e do Distrito Federal, de acordo com o site G1. Em Belém, manifestantes pró-impeachment que apoiam o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e grupos pró-Dilma ligados à CUT trocaram ofensas. A PM conteve os manifestantes, que foram orientados a se dispersar.

Em Porto Alegre, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do prêmio Nobel da Paz de 1980, participou de um ato contra o impeachment. Em Brasília, manifestantes fizeram cartazes com a palavra “golpe” em vários idiomas.

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