quinta-feira, 16 de junho de 2016

Novo degrau – Editorial / Folha de S. Paulo

Decerto alguns políticos são honestos —e seria injusto com eles afirmar que não sobra ninguém ileso depois da delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. A sensação, no entanto, é precisamente essa.

Não que os mais de 20 nomes implicados por Machado componham um número sem precedentes para a Operação Lava Jato. Vale lembrar que o Ministério Público Federal obteve autorização para investigar mais de 50 autoridades nas últimas instâncias judiciais.

Com sua colaboração, contudo, o ex-presidente da Transpetro não só traz à cena personagens que pretendiam se distanciar do petrolão como também acrescenta novos detalhes a um esquema do qual se beneficiaram diversos partidos (são mencionados membros de PMDB, PT, PP, DEM, PSDB, PSB e PC do B).


Legitimado pelo fato de ter permanecido durante 11 anos no cargo ao qual chegou em 2003 por indicação do PMDB, Machado não decepcionou quem esperava muito de seus depoimentos.

No trecho mais explosivo, afirmou que o presidente interino, Michel Temer (PMDB), acordou o repasse de R$ 1,5 milhão à campanha de Gabriel Chalita (ex-PMDB) à Prefeitura de São Paulo, em 2012.

Segundo Machado, estava claro, pelo contexto da conversa, que o pedido envolvia a busca de recursos ilícitos de empresas que mantinham contratos com a Transpetro. O dinheiro, depois, seria registrado na forma de doação oficial.

Do ponto de vista dessas companhias, o sistema era perfeito. As contribuições eleitorais asseguravam negócios com o poder público, e tais negócios, devidamente corrompidos, garantiam verbas para distribuir às campanhas.

Transações desse gênero teriam rendido, na gestão de Machado, cerca de R$ 100 milhões a políticos do PMDB, entre os quais o ex-presidente José Sarney (AP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Romero Jucá (RR).

Para espanto geral, o delator disse que a Petrobras, que tem a Transpetro como subsidiária, era "a madame mais honesta dos cabarés do Brasil". Suas regras internas, explica Machado, inibiam as práticas menos ortodoxas que vicejam em inúmeros organismos estatais.

Como sempre num acordo de delação premiada, as revelações dependem de comprovação —e todos os citados refutam as acusações.

Ainda assim, a narrativa de Sérgio Machado indica o quanto o governo de Michel Temer pode se enfraquecer diante da Lava Jato. Nem mesmo políticos agora aliados e há tempos afastados da máquina federal, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), passaram incólumes.

É cada vez mais difícil imaginar quem escapará quando as empreiteiras Odebrecht e OAS resolverem de fato contar tudo o que sabem.

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