quinta-feira, 2 de junho de 2016

PIB retrocede cinco anos

• Economia cai 0,3%, mas pior momento já passou • Taxa de investimento é a menor em 21 anos • Brasil fica na lanterna global, atrás até da Grécia

O PIB brasileiro caiu 0,3% no início deste ano, na comparação com o fim do ano passado. Frente ao início de 2015, o tombo foi ainda maior, de 5,4%, marcando o oitavo trimestre seguido de recessão. Com isso, a economia brasileira retrocedeu ao patamar de cinco anos atrás. O resultado deixou o Brasil na lanterna do crescimento global. A taxa de investimento, de 16,9% do PIB, foi a menor em 21 anos. Mas, diante da magnitude da crise, analistas dizem acreditar que o pior já passou e que, agora, a trajetória da economia começa a mudar. As projeções para o PIB deste ano foram revistas, e a retração deve ser inferior ao tombo de 3,8% de 2015. A retomada da atividade econômica, porém, dependerá de reformas e ajustes.

Queda livre do PIB perto do fim

• País retrocede 5 anos, mas recuo de 0,3% no 1º tri indica que pior momento da crise já passou

Lucianne Carneiro, Marcello Corrêa, Daiane Costa e Martha Beck - O Globo

RIO E BRASÍLIA - A economia brasileira reduziu seu ritmo de queda no início de 2016 e encolheu 0,3% no primeiro trimestre, frente ao fim do ano passado, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE. Com isso, a recessão brasileira chega a dois anos, com oito trimestres seguidos sem crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e volta ao patamar de produção do primeiro trimestre de 2011, há cinco anos. O resultado foi uma surpresa positiva para o mercado, que esperava recuo maior, em média de 0,8%, e levou uma boa parcela de economistas a considerar que o pior da crise já passou. Mesmo que se espere retração no segundo trimestre, a trajetória da economia começou a mudar, apontam os especialistas.


— O Brasil ainda está andando para trás, mas está afundando em um ritmo cada vez menor. A desaceleração mais suave no primeiro trimestre e o início da superação da crise política, que está em curso com a sinalização do ajuste fiscal, me fazem acreditar que o pior já passou — afirma o economista do Banco Votorantim Roberto Padovani.

Economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, destaca que o recuo de 0,3% é o melhor resultado desde o quarto trimestre de 2014, quando a economia avançou 0,2%:

— A queda foi bem mais modesta. Indicadores antecedentes mostram que o fundo do poço já chegou ou está muito próximo de ser atingido.

Mais cautelosa, a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, diz que “não houve melhora por enquanto” e que a conjuntura econômica se manteve parecida na comparação entre os dois trimestres.

— É um nível tão baixo que, embora seja uma mudança, não é tão animadora, principalmente porque investimento e consumo das famílias vêm de quedas fortes — afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator e professor da FEA/USP.

Frente ao primeiro trimestre de 2015, a queda foi mais forte, de 5,4%. O desempenho foi puxado principalmente pela demanda interna: sem a ajuda do setor externo, com o aumento das exportações de 13% e a queda da importações de 21,7%, a economia teria despencado 7,5%. O setor externo se beneficiou da desvalorização cambial e pela fraca demanda doméstico, que derrubaram as importações

Se o ano terminasse em março, o PIB teria recuado 4,7%. É o pior resultado acumulado em quatro trimestres desde o início da série histórica do IBGE, de 1996. Os dados mostram uma disseminação de taxas negativas.

Pelo lado da demanda, o consumo das famílias foi a surpresa negativa. Acelerou a queda e caiu 1,7% no primeiro trimestre, frente ao fim do ano, quase o dobro da taxa anterior. É a quinta perda consecutiva — a primeira vez que isso ocorre desde 1996. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, indicador de investimento) teve retração de 2,7%, a décima taxa negativa seguida.

O quadro não é muito diferente quando se olha pelo lado da oferta. A indústria recuou 1,2% — chegando a cinco trimestres seguidos negativos —, enquanto os serviços perderam 0,2%, também com cinco taxas negativas.

Fazenda: ‘maior recessão da história’
Diante do resultado do PIB, a equipe econômica do presidente interino, Michel Temer, criticou o governo Dilma Rousseff e promoveu as medidas de ajuste fiscal recém-anunciadas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Nota à imprensa atribui o resultado a “desenvolvimentos domésticos” que contribuíram para a maior recessão da História, deixando 11,4 milhões de desempregados.

O texto diz que, nos próximos trimestres, deve começar o processo de recuperação que está relacionado à “implementação tempestiva de iniciativas recentemente anunciadas”. A nota não cita as medidas. Na semana passada, Meirelles anunciou um conjunto de ações para reequilibrar as finanças públicas, sendo a principal delas a fixação de um teto para os gastos públicos, mas ainda não detalhou a medida. Taxa de investimentos, de 16,9% do PIB, é a menor em 21 anos, na página 20 Colaborou estagiária Júlia Cople, sob supervisão de Lucila de Beaurepaire

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