sexta-feira, 8 de julho de 2016

A dor virá depois - Ricardo Balthazar

- Folha de S. Paulo

Dias depois de anunciar que preparava medidas dolorosas para reerguer a economia, o presidente interino, Michel Temer, deu a entender que fará devagar as mudanças que considera necessárias.

Ao definir a meta fiscal de 2017, o governo fixou um deficit de R$ 139 bilhões. Ele é menor do que o previsto para este ano, mas ainda assim gigantesco. Ao fazer isso, Temer procurou reafirmar sua determinação de arrumar as finanças do país, mas deixou claro que o Orçamento continuará no vermelho por muito tempo.

É um sinal evidente das dificuldades que o presidente interino tem encontrado para viabilizar politicamente as medidas necessárias para equilibrar as contas do governo.

Já caiu a ficha para todo mundo que será difícil chegar a algum lugar sem aumentar impostos. A aprovação de medidas que podem frear a expansão das despesas do governo deve demorar, e qualquer plano de reforma da Previdência que vier a ser apresentado enfrentará obstáculos.

Temer e seus aliados também já perceberam que não têm força para convencer o Congresso a aprovar aumentos de impostos agora. A aposta do governo é que terá condições de fazer isso mais tarde, em agosto, depois que o processo de impeachment de Dilma Rousseff acabar e Temer puder pregar seu retrato na parede.

Mas trata-se de uma aposta, somente isso. Da disputa pelo controle da Câmara dos Deputados à ansiedade provocada pelos empreiteiros que decidiram a colaborar com a Operação Lava Jato, há inúmeros fatores que tumultuam o ambiente político e o tornam mais imprevisível.

O mais provável é que isso tornará o ajuste das contas do governo ainda mais custoso. Depois que Temer concedeu aumentos a funcionários públicos, socorreu governadores endividados e deu dinheiro para a Olimpíada, a fila à sua porta só aumentou. Para o país, a principal consequência desse processo deverá ser uma recuperação lenta e pouco vigorosa do crescimento econômico.

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