segunda-feira, 11 de julho de 2016

Centrão costura candidatura única na Câmara

Atendendo a apelos do Planalto, o centrão, maior grupo aliado do governo na Câmara, tenta hoje costurar consenso em torno da candidatura do deputado Rogério Rosso (PSD-DF) à presidência da Casa. O bloco tem oito postulantes. Os líderes partidários fecharam acordo para que a eleição seja na quarta-feira.

Aliados atendem governo e tentam consenso

• Após pedido do Planalto, centrão tenta fechar acordo em torno de Rosso e ataca candidatura de Rodrigo Maia

Leticia Fernandes, Eduardo Bresciani e Cristiane Jungblut - O Globo

-BRASÍLIA- Em um esforço para enxugar o número de candidatos da base do governo à sucessão de Eduardo Cunha, líderes dos partidos do centrão e do PMDB se reúnem hoje para tentar oficializar o nome do deputado Rogério Rosso (PSD-DF) para concorrer à Presidência da Câmara. A estratégia atende a pedido do Palácio do Planalto, que trabalha nos bastidores para evitar rachas na base. Até ontem, 15 deputados haviam anunciado a candidatura, a maioria de legendas que apoiam o governo.

Os principais articuladores do grupo dizem que Rosso parte de um piso de 170 votos e que, apesar das divisões internas, um gesto de união em favor dele afunilaria naturalmente a quantidade de candidaturas e o representante do grupo teria lugar garantido num eventual segundo turno da disputa. Como todos os partidos do centrão têm ao menos um candidato, os líderes vão conversar com suas bancadas durante o dia para reduzir esse número e fechar, no fim do dia, o apoio a um nome só.

— Quem tem mais densidade de voto é o Rosso, pelo trabalho brilhante na comissão do impeachment. Ele é ponderado, sem exageros. E parte tranquilamente de uns 170, 180 votos — afirma o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), que era cotado para a disputa também.

— Rosso é o nome mais forte que a gente tem. É um cara que tem credibilidade para conduzir nesse momento difícil — diz o deputado Paulinho da Força (SD-SP).

Rosso passou a semana negando a candidatura e disse que conversaria com sua família, que volta hoje do exterior. Questionado pelo GLOBO ontem sobre o que seria capaz de fazê-lo entrar na disputa, respondeu que “o mínimo de consenso” seria suficiente.

— (Precisa do) mínimo de consenso. O menor racha na base possível, respeitando sempre a legitimidade de qualquer candidatura colocada — afirmou, por mensagem de texto.

O movimento do centrão é também uma reação ao crescimento da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se viabilizou ao conseguir apoio de parte do PT e outros partidos de esquerda, além de ter interlocução com quadros do centrão e apoios nas legendas da velha oposição — DEM, PSDB e PPS. A aproximação com os petistas, porém, irritou o centrão, que passou a vinculá-lo à esquerda, chamando-o de “candidato do Lula e da Dilma”. Rosso, por sua vez, terá de disputar a eleição carregando a marca de ser aliado de Eduardo Cunha, o que ele nega veementemente. Seus aliados, porém, preferem ver o pleito como uma disputa semelhante à do impeachment.

—É a eleição do Temer contra Dilma. Mesmo que não tenha consenso a gente se junta no segundo turno e derrota o candidato dela — disse Jovair, tratando Maia como concorrente da oposição.

Em resposta às críticas do grupo, Maia diz que conversa com o PT porque “une as pontas” das correntes na Câmara. Ele ressalta, porém, que continua sendo oposição aos petistas e provoca:

— Nunca fui ministro da Dilma e nem do Lula, já o centrão esteve nos dois governos e ajudou a eleger a Dilma, não fui eu. Posso ter o apoio da esquerda, mas sempre fui oposição ao PT e continuo sendo. Quero coordenar os trabalhos da Casa, onde a maioria será respeitada mas a minoria não será triturada.

O Palácio do Planalto continua a trabalhar nos bastidores para reduzir o número de candidaturas entre os aliados, apesar de o presidente interino Michel Temer adotar o discurso de que o governo não vai se meter na eleição e cometer o mesmo erro do governo Dilma Rousseff.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ao GLOBO que a única preocupação do governo é evitar uma divisão na base depois do processo de escolha do novo presidente.

— A única preocupação do governo é que não se tenha nenhuma rachadura na base. Por isso, o melhor é que eles sentem e decidam o que vão fazer — contou Padilha.

Nos bastidores, há uma irritação de alguns ministros com a movimentação de Rodrigo Maia de buscar apoios do PT. Para contornar o mal-estar, Maia conversou com o próprio Temer, que teria dito que o deputado está certo em conversar com todos os lados. Mas ministros acreditam que o movimento do PT é uma forma de tentar dividir a base de Temer.

— Tudo que o Lula quer é dividir a base do Temer — criticou um interlocutor do Planalto.

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