quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Governo avalia que votos estão consolidados e não deve haver surpresa

• Ponto alto do julgamento deverá ser presença de Dilma no Congresso, na segunda-feira

Júnia Gama, Cristiane Jungblut e Eduardo Bresciani - O Globo

-BRASÍLIA- Apesar do cuidado no governo para não ser surpreendido por reviravoltas de última hora, as contas no Palácio do Planalto são otimistas sobre a cassação do mandato de Dilma Rousseff. Auxiliares do presidente interino, Michel Temer, dizem já ter recebido a garantia de que 61 senadores votarão a favor do processo.

Esses auxiliares creem que, a esta altura, há pouco a se fazer para mudar votos, contra ou a favor do impeachment. A bancada do Maranhão, por exemplo, decidiu que votará unida, o que significa dizer a favor de Temer: Edison Lobão, Roberto Rocha e João Alberto.

— Não tem mais muito o que fazer. Os cargos que o governo podia negociar, as nomeações que podiam acontecer, as conversas que tinham para ter já ocorreram nesses meses. Agora, é só monitorar — afirmou um assessor de Temer.


Crise com tucanos preocupa
Os cem dias de governo do presidente interino, Michel Temer, foram intensivos em negociações de cargos e acertos em troca de votos. Para evitar turbulências, ontem o presidente interino e seus auxiliares atuaram para abafar os desentendimentos e postergar para depois do impeachment a crescente crise com tucanos e democratas em função dos reajustes de servidores.

Temer intensificou as conversas com a base nas últimas horas. Ele recebeu senadores ontem e anteontem, para garantir votos, sobretudo da bancada do Nordeste, onde os governos petistas têm seus maiores índices de aceitação.

Lewandowski abrirá sessão
Hoje, a sessão será aberta pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do processo de impeachment, ministro Ricardo Lewandowski, às 9h. Nesta primeira fase, serão ouvidas as testemunhas: duas de acusação e seis de defesa, a começar pelo procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Julio Marcelo. Esta fase só deverá terminar no sábado, mesmo com o esforço dos líderes governistas de reduzir o número de perguntas.

O ponto alto do julgamento está previsto para segunda-feira, quando Dilma se defenderá pessoalmente no Senado. Ela ficará sentada à mesa da sessão, ao lado de Lewandowski. Do outro lado do ministro, estará o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), que mantém mistério sobre seu voto, mesmo com todas as sinalizações de que abandonou a petista e embarcou no governo Temer. A presidente afastada poderá usar a tribuna para falar, se quiser, e, em seguida, responderá a perguntas.

Na base aliada de Temer, a ordem é resistir a provocações e fazer o máximo para evitar que Dilma saia como vítima no processo. O tratamento, quando ela estiver presente, será com “delicadeza na forma e dureza no conteúdo”, segundo o líder do governo, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Os debates dos parlamentares devem começar terça-feira, dia 30, e poderão se estender pela madrugada do dia 31. Cada senador poderá falar por dez minutos. Mesmo com a intenção de Temer de embarcar para a China a tempo de participar da abertura do G-20, os senadores da base concluíram que, neste momento, será difícil abreviar a sessão, já que todos querem deixar seus registros neste momento histórico.

Senadores batem boca
O clima entre os senadores deverá ser tenso. Uma amostra disso foram as rusgas entre base e oposição na sessão de ontem. Num desses momentos, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) discursava para um plenário esvaziado, criticando os cem dias de Temer na Presidência. O senador José Medeiros (PSD-MT) reagiu:

— Cem dias são muito pouco para consertar o estrago de uma bomba de Hiroshima.

— Lá na sua região, se tem uma coisa que se abomina, é a traição — rebateu Fátima.

Em outro momento de confronto, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) leu trecho da carta testamento de Getulio Vargas e disse haver semelhanças com o momento atual.

— Hoje, é dia 24 de agosto, data do suicídio de Getúlio Vargas. E amanhã vamos começar tragicamente o julgamento da presidente Dilma — afirmou.

Senadores da base aliada reagiram.

— Getúlio Vargas fundou a Petrobras e Dilma Rousseff a afundou — disse o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB).

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