sábado, 27 de agosto de 2016

Impeachment tem mais um dia de baixarias

Pelo segundo dia, terminou em baixaria o julgamento do impeachment de Dilma no Senado. De novo, houve bate-boca entre Ronaldo Caiado e Lindbergh Farias, mas a confusão atingiu seu ápice com o presidente do Senado, Renan Calheiros. Além de dizer que a Casa estava parecendo um hospício, Renan quase levou os senadores às vias de fato ao criticar Gleisi Hoffmann e dizer que conseguira “desfazer” o indiciamento dela no STF. Presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski chegou a ameaçar usar seu “poder de polícia” para conter os ânimos.

Sanatório geral no Senado

• Renan diz que julgamento ocorre num “hospício” e, ao rebater Gleisi, que questionara moral da Casa, provoca bate-boca generalizado pelo segundo dia

Cristiane Jungblut, Eduardo Bresciani, Evandro Éboli, Isabel Braga, Júnia Gama, Leticia Fernandes, Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - O segundo dia do julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff conseguiu ter embates ainda mais acalorados do que o primeiro, a ponto de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, anunciar que poderia usar seu “poder de polícia” para conter os ânimos, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chamar a Casa de “hospício”.

— Vossa Excelência, constitucionalmente, está sendo obrigado a presidir um julgamento em um hospício! Fico muito triste, porque esta sessão é, sobretudo, uma demonstração de que a burrice é infinita — disse Renan para o presidente do Supremo.

Inicialmente, Renan estava fazendo um apelo para que todos tivessem bom senso. Mas ao falar do “hospício” e da “burrice infinita” e ainda chamar a lei do impeachment de “excrescência” foi cercado por petistas. O presidente do Senado partiu então para o ataque a Gleisi Hoffmann (PT-PR), que na véspera questionara a moral da Casa para julgar Dilma. Ontem, Gleisi reafirmou o que disse, mas se inclui entre os integrantes do Senado que estão sendo investigados.

— O Senado não tem moral para julgar ninguém porque boa parte dos senadores está sendo investigada. Como eu vou fazer esse julgamento? Aponto o dedo para uma pessoa e tem três dedos apontados para mim — disse Gleisi.

Renan, no entanto, não perdoou a senadora petista.

— Ontem, a senadora Gleisi chegou ao cúmulo de dizer aqui para todo o país que o Senado Federal não tinha moral para julgar a presidente da República. Como uma senadora pode fazer uma declaração dessa? Exatamente uma senadora que, há 30 dias, o presidente do Senado conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo que havia sido feito pela Polícia Federal — disse Renan, proclamando uma interferência no Judiciário em frente ao presidente do STF. Gleisi e outros petistas reagiram, aos gritos. — Não é verdade — disse Gleisi. — Que baixaria, Renan, trazer isso da Gleisi — interferiu Lindbergh Farias (PT-RJ).

Gleisi e Paulo Bernardo são investigados pela Polícia Federal. Em junho, Bernardo foi preso na operação “Custo Brasil” e depois liberado por ordem do STF.

Ao contrário do que disse Renan, o STF não anulou o indiciamento de Gleisi. O relator da Lava-Jato, ministro Teori Zavascki, arquivou o caso sem julgá-lo. Ponderou que a Procuradoria Geral da República já havia denunciado a senadora ao tribunal. Como a consequência jurídica da denúncia é mais ampla, não faria sentido examinar o indiciamento. Na época, a defesa de Gleisi pediu ao tribunal que anulasse o ato da PF, e o Senado apenas enviou à corte um parecer concordando com os argumentos da defesa.

Renan, que é alvo de oito inquéritos na Lava-Jato, foi diretamente para o gabinete da Presidência e disse a senadores que Gleisi havia “passado do limite”. Lewandowski, em meio a gritos, suspendeu a sessão.

Mais tarde, Renan fez um desabafo, queixando-se da “ingratidão” dos petistas, com quem disse sempre ter mantido boa relação.

— Vou propor o agravamento da pena de ingratidão — disse.

Pouco antes da confusão com Gleisi, Lewandowski tivera que conter os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lindbergh.

— Vou usar meu poder de polícia! Vou mandar desligar os microfones. Estamos sem áudio! Está suspensa a sessão!

Caiado também criticou Gleisi por ela ter contratado a servidora Esther Dweck, que já tinha sido dispensada como testemunha.

— Esse senador é um desqualificado! O que ele insinuou da senadora Gleisi é de uma covardia... — afirmou Lindbergh.

— (Lindbergh) É pior que o Beira-Mar. Tem mais de 30 processos no Supremo Tribunal Federal — rebateu Caiado.

— Cachoeira é quem sabe da sua vida — disse o petista.

— Tem uma cracolândia no seu gabinete — disparou Caiado.

Nos bastidores, líderes afirmaram que a briga serviu para dar um “freio de arrumação” e retomar apenas a oitiva de testemunhas.

No início da noite, ao responder reclamação de aliados da presidente afastada, Lewandowski desabafou:

— Quando você está pilotando um boeing e se depara com uma tempestade, você desvia. Eu me sinto aqui como um piloto de boeing que já desviou de várias turbulências.

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