quinta-feira, 25 de agosto de 2016

‘Só tem um jeito: temos que ter esperança’, afirma Dilma

• Presidente afastada diz que lutará até o fim para ser absolvida no Senado

Catarina Alencastro - O Globo

-BRASÍLIA- Em sua última aparição pública antes do início do julgamento do impeachment, no “Ato em Defesa da Democracia” em Brasília, a presidente afastada, Dilma Rousseff, afirmou ontem que na próxima segunda-feira irá ao Senado “defender a democracia” e o projeto político que representa. Ela disse que tem esperança de reverter o impeachment e que continuará lutando.

— Só tem um jeito: nós temos que ter esperança. Nesse processo nós já ganhamos. Vamos ter que saber que vamos ter que continuar lutando. Podem contar comigo. Sei que eu sou a primeira mulher eleita presidente da República, sei que as mulheres têm se afirmado. Tenho certeza de que eu serei a primeira de muitas mulheres presidentas deste país.


Em seu discurso, Dilma destacou que “a única coisa que mata as parasitas antidemocráticas é o oxigênio do debate, da crítica e da verdade”. O ato começou com uma hora e 20 minutos de atraso. Os organizadores avisaram que a presidente só deixaria o Palácio da Alvorada rumo ao Teatro dos Bancários quando todos os 474 lugares estivessem ocupados. Na hora marcada, havia muitos lugares vazios, apesar de uma grande fila se formar na porta do local.

— O que eu vou fazer no Senado? Vou ao Senado defender a democracia, o projeto político que eu represento, defender os interesses legítimos do povo brasileiro e sobretudo construir os instrumentos que permitam que isso nunca mais aconteça em nosso país — disse.

Mais uma vez a petista afirmou que está em curso um “golpe”, mas argumentou que o atual é diferente do golpe militar. E os comparou com a derrubada de uma árvore. O golpe militar, disse, é como um machado que ceifa os direitos fundamentais das pessoas. E o “golpe” atual seria como se a “árvore da democracia” fosse invadida por parasitas.

Falando de improviso, Dilma disse que quem defende seu impeachment sempre quis que ela renunciasse. Mas, segundo ela, foi-se o tempo em que era preciso suicidar-se (em referência a Getulio Vargas) ou fugir para fora do Brasil (em referência a Jango) como instrumento de luta pela democracia.

— Hoje eu não tenho de renunciar, não tenho de me suicidar, não tenho que fugir para o Uruguai. É um outro momento histórico — disse, complementando mais tarde:

— Eles achavam que eu seria levada a renunciar. Não renuncio porque eu sou absolutamente incômoda. Como eu não cometi crime, como não recebi dinheiro da corrupção, podem me virar de todos os lados. A minha presença coloca de forma clara que há no Brasil uma ruptura democrática.

Antes de Dilma entrar, o jingle da campanha à reeleição foi ressuscitado: “Dilma, coração valente”. Ela chegou acompanhada de seus ex-ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal), Eleonora Menicucci (Secretaria das Mulheres) e Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência). Na plateia, representantes de CUT, MST, UNE, UJS (União da Juventude Socialista) e da organização Rosas pela Democracia. Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Moema Gramacho (PT-BA), Patrus Ananias (PT-MG) e Erika Kokay (PT-DF) também estavam; nenhum senador compareceu. Dilma agradeceu a Frente Brasil Popular, formada por CTB, PT, PCdoB, Marcha Mundial das Mulheres e Levante Popular da Juventude.

Vestida com uma blusa estampada em vermelho e preto e calça preta, Dilma chegou sorrindo, abraçou todos que estavam no palco, recebeu muitas rosas da plateia, tirou fotos e abraçou alguns. Foi recebida aos gritos de “Fica, querida” e “Fora, Temer”.

— Você nunca tem a democracia garantida. Eu achei em determinado momento da minha vida que nunca mais eu ia viver processos arbitrários, rupturas democráticas, golpes de Estado. Estou vivendo isso de forma bastante intensa. Quero dizer que na vida a gente sempre tem que lutar. Nunca tem um dia que a gente fala: agora acabou.

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