quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Tucanos demonstram insatisfação com comando da economia

• Com aval de Aécio, senador José Aníbal critica Meirelles e tolerância com gastos

Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - A impaciência com o que chamam de frouxidão no comando da economia e a falta de espaço do líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), no núcleo duro do Palácio do Planato, além de movimentos em defesa da reeleição do presidente interino, Michel Temer, levaram os dirigentes do PSDB — aliados de Temer — a tornar pública a contrariedade do partido. Ontem, as críticas vieram na forma de ataques ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, visto como outro pré-candidato à Presidência em 2018.

Há dois dias, o Planalto vem desmarcando uma reunião para acertar os termos de coalização com a cúpula do PSDB. Os tucanos também não gostaram das declarações dadas no fim de semana pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-BA), que defendeu a reeleição de Temer.

Nota de Temer não convence
Essa desconfiança se manteve mesmo após Temer soltar nota na qual reitera, “uma vez mais”, que não cogita disputar a reeleição e que seus esforços estão voltados “exclusivamente” para garantir que o Brasil retome o crescimento econômico e seja pacificado.

Com o aval do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o senador José Aníbal (PSDB-SP) — suplente do ministro das Relações Exteriores, José Serra — subiu ontem à tribuna do Senado e, em discurso, fez duras críticas a Meirelles. Cobrou uma posição “inflexível” do ministro em relação a gastos e disse ter visto com surpresa sua declaração minimizando a flexibilização do projeto de renegociação das dívidas dos estados.

Aníbal disse que Meirelles deve melhorar sua comunicação. E lembrou que o projeto de renegociação e alongamento do pagamento das dívidas dos estados prevê, como contrapartida, limite de reajuste para servidores durante seis meses. Aníbal criticou recentes declarações de Meirelles:

— O ministro disse que são secundários os artigos que obrigam, dentro desse projeto, os poderes e órgãos estaduais a se enquadrarem em novas regras sobre limites de gastos com pessoal. E acrescenta: se essa discussão ficar para outro momento, não vai alterar a essência do ajuste fiscal. O ajuste fiscal é o teto (...) Não é o fato de se definir teto para o crescimento da dívida que vai resolver os problemas do profundo desequilíbrio das contas públicas que temos no Brasil — afirmou Aníbal.

Em defesa da LRF
O discurso foi acertado no gabinete de Aécio. O PSDB quer defender as bandeiras do partido, como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Para Aníbal, a flexibilização das regras de ajuste fiscal para alguns setores pode levar à redução de investimento em Saúde, Educação ou Segurança.

— Vivemos em uma situação em que as escolhas não são fáceis. São escolhas que nem sempre nos permitem compatibilizar os nossos desejos e os desejos fundados dos mais diversos setores que compõem o funcionalismo público. Os cidadãos que estão desempregados hoje, de uma forma ou de outra, continuam pagando impostos para que o país possa fazer face às suas despesas com pessoal, os seus investimentos com Saúde, Educação. Mas eles próprios estão sem renda alguma — completou.

Na mesma linha, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), alertou para a necessidade de o governo acelerar a votação das medidas econômicas, como a reforma da Previdência. Ele disse que, passada a votação do impeachment, o governo terá uma janela muito pequena de prazos entre a eleição municipal e o fim do ano para sinalizar concretamente a aprovação dessas medidas.

— Agem como se a situação econômica estivesse resolvida, e não está. A crise continua gravíssima. Se o governo encerrar o ano sem entregar essas duas coisas, o país vai para o espaço — disse Cunha Lima.

Em reuniões nos últimos dias, os tucanos avaliam que há uma frustração em relação à participação do PSDB no governo. Dizem que Serra seria ministro com ou sem o aval do PSDB e que o ministro das Cidades, Bruno Araújo, apesar de fazer um bom trabalho, não dá visibilidade ao partido.

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