sábado, 17 de setembro de 2016

Comparação reprovada

• Declaração de Lula de que político ‘por mais ladrão que seja’ é mais honesto que concursado é recebida com críticas nas redes sociais e vista como ‘leviana’ por associação de apoio a concursos

“Soa muito mal para alguém que dirigiu um país fazer uma comparação leviana desta natureza” Marco Antônio Araujo Junior presidente da Associação Nacional de Proteção ao Concurso

Bernardo Mello - O Globo

O ex-presidente Lula causou polêmica ao dizer que um político, “por mais ladrão que seja”, tem que encarar o povo na rua, enquanto um servidor concursado tem “emprego garantido para o resto da vida”. O presidente de uma das maiores associações de apoio a concursos considerou a declaração absurda. Ao afirmar, em pronunciamento na última quinta-feira, que um político, “por mais ladrão que ele seja”, é mais honesto do que um concursado, o ex-presidente Lula tinha um alvo: os procuradores do Ministério Público Federal que o denunciaram na véspera. A declaração, contudo, repercutiu muito mal, principalmente entre funcionários públicos, e continuou sendo criticada ontem nas redes sociais e por associações de concursados.

— As pessoas achincalham muito a política, mas a posição mais honesta é a do político, sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado, não. Se forma na universidade, faz um concurso e tá com um emprego garantido para o resto da vida — disse Lula.

O presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Marco Antônio Araujo Junior, classificou a comparação do ex-presidente como “leviana” e “absurda”.

— Soa muito mal para alguém que dirigiu um país fazer uma comparação leviana desta natureza. Podemos dizer, com convicção, que os aprovados em concursos públicos são extremamente bem preparados, que dedicaram anos de estudo. Menosprezar a categoria para elevar a figura de um político que roubou é uma comparação absurda — criticou.

Para Araujo, o discurso de Lula estava direcionado aos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, e não aos concursados de modo geral. O presidente da Anpac, porém, questionou o discurso de perseguição sugerido pelo petista, argumentando que a equipe do MPF segue regras de conduta e responde a uma hierarquia.

— Os procuradores federais não têm poderes absolutos. Como qualquer concursado, eles podem ser punidos com a perda do cargo em caso de má conduta — explicou.

No Twitter, alguns internautas responderam a uma postagem do perfil oficial de Lula, que reproduzia a declaração polêmica, com críticas à comparação. “Tenho que discordar dessa frase infeliz. Não nos coloque no mesmo nível dos políticos, não merecemos essa ofensa”, escreveu um usuário. “Ele não sabe o quanto os concursados batalharam pra estudar e chegar onde estão agora”, pontuou outro internauta.

Para alguns usuários do Facebook, a declaração desmerece os esforços de quem estuda para passar nos concursos. “Num país onde a educação nunca foi prioridade, é no mínimo maldoso a falácia desse discurso”, criticou uma pessoa. “Valores invertidos! Quem tem diploma estuda anos, abre mão de muitas coisas, em detrimento de aperfeiçoamento”, destacou outra.

Colaborou Daniel Gullino

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