sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Mulher de Santana falou do depósito de Eike na Suíça ao negociar delação

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A informação original de que Eike Batista pagou US$ 2,35 milhões em dívidas de campanhas do PT em 2013 está num dos anexos do acordo de delação que Mônica Moura negocia com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Essa delação ainda não foi homologada pela Justiça, mas o vazamento dessa informação levou o empresário Eike Batista a procurar os investigadores da Lava Jato e confessar em maio deste ano que fizera o depósito num banco na Suíça para o marqueteiro do PT, João Santana, e sua mulher, Mônica Santana.

Segundo Eike, o montante pedido era uma contribuição para a campanha da presidente Dilma Rousseff, sem especificar de que ano seria a disputa. O valor foi depositado numa conta na Suíça, que o casal mantinha no Heritage Bank.

A campanha de Dilma nega ter recebido recursos ilegais.

Eike prestou o depoimento aos procuradores em 20 de maio deste ano, mencionado que o valor fora pedido pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. A informação de que Mônica citara o dono da OSX como pagador de propina para o PT apareceu no jornal "O Globo" quatro dias depois. O empresário sabia que o "O Globo" detinha essa informação porque o jornal o procurara antes, para ouvir a versão do executivo sobre o depósito feito na Suíça.

Como Eike confirmou a informação que Mônica prestara na delação ainda não homologada, não há qualquer irregularidade no processo.

Em entrevista à imprensa, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima negou que tenha usados informações de Mônica Santana para deflagrar a operação desta quinta.

"Nós não usamos, quero deixar bem claro, qualquer informação de acordos de leniência ou de acordos de colaboração que não foram assinados. Isso é uma regra absoluta e pode ser percebida claramente na leitura da decisão [de prisão]", disse.

Segundo o procurador, a investigação partiu de "dados objetivos", apresentados pelo próprio Eike e por outros executivos da OSX que contribuíram com documentos e depoimentos.

Eike decidiu ir espontaneamente à força-tarefa para evitar que sua situação se complicasse ainda mais. Ele chegou a ser o oitavo homem mais rico do mundo, em 2012, com um patrimônio de US$ 34 bilhões, mas, com a quebra do seu grupo, hoje tem um patrimônio negativo de US$ 1 bilhão.

Além das perdas financeiras, Eike já foi condenado na Justiça por crimes como lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, formação de quadrilha e crimes contra o mercado financeiro. Ele também foi proibido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o xerife do mercado financeiro brasileiro, de ocupar por cinco anos cargos de administração ou no conselho de empresas que negociem ações na Bolsa de Valores.

Outro delator da Lava Jato, o operador Fernando Soares, o Fernando Baiano, havia relatado em seu acordo que Eike pagara R$ 2 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai para que ele defendesse os interesses de suas empresas junto à Sete Brasil.

A Sete Brasil foi usada pela Petrobras para contratar plataformas de petróleo. Lula teria participado de reuniões com o presidente da Sete Brasil, José Carlos Ferraz, nas quais os negócios com Eike teriam sido discutidos.

O Instituto Lula, Eike e Bumlai refutam a versão contada por Baiano.

João Santana e Mônica Moura foram soltos pelo juiz Sergio Moro no dia 1º de agosto, depois que aceitaram pagar fianças que somam pouco mais de R$ 31 milhões –R$ 28,5 milhões para ela e R$ 2,76 milhões para ele.

O casal já confessou que recebeu US$ 3 milhões da Odebrecht e US$ 4,5 milhões de um lobista da Petrobras chamado Swi Skornicki em contas fora do Brasil. Tanto a Odebrecht como o lobista negociam acordos de delação com procuradores da Lava Jato.

Colaborou Estelita Hass Carazzai, de Curitiba

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