domingo, 25 de setembro de 2016

Principal tendência do PT contesta posição de Lula sobre eleição na sigla

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Maior força interna do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil) está contestando, formalmente, seu mais ilustre integrante: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Após uma série de reuniões internas, dois representantes da corrente divulgaram um documento em que acusam de caciquismo os autores da proposta de realização de um congresso interno para a escolha da nova direção do partido.

A ideia foi apresentada pelo presidente do PT, Rui Falcão, há 15 dias, com o endosso da esquerda do partido. Segundo petistas, Lula está entre seus apoiadores e não rejeitou a proposta quando discutida em reunião, em Brasília, com senadores e deputados petistas. O ex-presidente prega a "oxigenação" do PT.

Pelo modelo proposto por Falcão, o partido convocaria um congresso com poderes para troca de comando da sigla no primeiro semestre de 2017.

Hoje maioria na estrutura partidária, a CNB insiste na realização de eleições diretas. Falcão enfrentou ataques assim que sugeriu a fórmula ao partido. Criticado por não ter consultado a CNB, ele chegou a pedir desculpas por sua atitude intempestiva.

Um militante de esquerda disse a Falcão, porém, que suas melhores decisões são as impetuosas.

A receita de Falcão conta ainda com apoio da esquerda partidária sob o argumento de que a eleição direta privilegia os detentores da máquina do partido.

Assinado pela secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente, e por Jorge Coelho, um dos vice-presidentes da sigla, o texto da CNB prega a eleição direta e associa a "capas pretas" os idealizadores do congresso. Usa ainda a expressão "mandonismo" para qualificá-los.

"A concepção que está subjacente ao fim das diretas do PT é retirar o direito do voto de um filiado ter o mesmo valor do voto do chamado capa preta", diz o documento.

"Hoje os filiados votam nas direções e presidentes locais, estaduais e nacional. Com o fim das diretas do PT, o filiado só votaria na direção local, ficando a nobre tarefa de eleger a direção estadual aos iluminados do Estado, e apenas os nobres, nobilíssimos, ungidos escolheriam a direção e o presidente nacional."

Presidência
A corrente também rejeita nomes cogitados por Lula para a presidência do partido, como o senador Lindbergh Farias (RJ) e o ex-ministro Jaques Wagner (BA). Os comandantes da CNB afirmaram a Lula que seu nome é o único capaz de unificar a sigla.

Apesar de temer retaliações após escolha do ex-presidente para o comando do PT, como retenção de recursos do fundo partidário para sigla, os dirigentes da CNB disseram a Lula que a indicação de outro nome requer o crivo da tendência.

A CNB sofreu baixas com a explosão da Operação Lava Jato. Para manter seu poderio, preserva o nome de dois ex-tesoureiros do partido e hoje presos –João Vaccari Neto e Paulo Ferreira– na lista de membros do diretório nacional. Agora, tenta se reorganizar para não perder essa hegemonia.

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