segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Temer em Nova York põe comunicação em xeque - Angela Bittencourt

- Valor Econômico

• Imagem positiva supera pela primeira vez a de Dilma e Lula

A comunicação do governo Michel Temer estará em teste nesta semana e, se aprovada, poderá arregimentar aliados para a batalha que será travada pela equipe econômica, no Congresso, em defesa da integridade de projetos e medidas fiscais propostas pelo Gabinete. Duas são vitais para disciplinar as contas públicas e dar perspectivas positivas à economia brasileira que permanece em ponto morto: a criação do teto para despesas públicas e novas coordenadas para a Previdência. A proposta para o teto avança; a reforma da Previdência deverá chegar aos parlamentares no dia 30.

Michel Temer já está em Nova York, onde participará da 71ª Assembleia Geral das Nações Unidas e terá encontros com investidores. Acompanham Temer o secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) Moreira Franco e seis ministros: Alexandre de Moraes (Justiça), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Henrique Meirelles (Fazenda), José Serra (Relações Exteriores), José Sarney Filho (Meio Ambiente) e Maurício Quintela (Transportes, Portos e Aviação Civil).

Esta é a segunda viagem internacional de Temer como presidente efetivo do Brasil e, diferentemente do périplo até a China - ancorado por relações de governo -, em Nova York as reuniões com investidores serão o ponto alto da visita oficial.

A comitiva brasileira estará exposta a um elevado grau de assédio. As impressões que o governante brasileiro e pesos-pesados do seu Ministério passarão aos interlocutores provavelmente chegarão à imprensa ainda que os encontros, pautados sobretudo por opções de investimentos em infraestrutura, sejam restritos. Trocas de impressão são do interesse de todos, inclusive pela oportunidade de reforçar a imagem positiva que Michel Temer começou a conquistar junto aos brasileiros dias atrás.

Na esteira da denúncia do Ministério Público contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Temer teve sua imagem repaginada nas redes sociais e na imprensa convencional, ambientes em que já foi preterido pelo ministro da Fazenda.

Henrique Meirelles viaja para Nova York ainda hoje. Antes disso, porém, participará de dois eventos, em São Paulo, em que falará basicamente sobre um mesmo assunto: as perspectivas para a economia brasileira. Às 10h, o ministro participa de seminário promovido pela Fiesp; às 13h estará com o Grupo de Líderes Empresariais (Lide).

Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, também estará na capital paulista para a abertura do 2º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O presidente da República em exercício, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o principal convidado de um seminário da Associação Comercial de São Paulo.

Meirelles, Padilha e Maia deverão reforçar a mensagem do governo que elegeu o controle de gastos públicos como sua principal bandeira e manter fina sintonia com o presidente Michel Temer cuja imagem deu um saldo positivo na semana encerrada na quinta-feira passada. Pela primeira vez, Temer obteve um Índice de Positividade melhor que o da ex-presidente Dilma Rousseff e o do ex-presidente Lula que protagonizou relevante capítulo da história recente do Brasil: a denúncia do Ministério Público contra ele por corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro.

Lula inflamou os debates nas redes sociais que, somadas a artigos de Opinião na mídia tradicional, formam a base de pesquisa da consultoria. MAP que produz e monitora o Índice de Positividade Brasil (IP Brasil). Esse indicador reflete o impacto das informações que circulam por esses meios de comunicação.

Nada menos de 49% do debate nas redes foram dedicados ao ex-presidente. O período analisado é da semana encerrada na quarta-feira passada, dia da formalização da denúncia contra Lula. Essa audiência participativa do foro político desbancou os registros de debates de um episódio muito aguardado que foi a cassação do mandato de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados pelo PMDB-RJ.

A extraordinária mobilização dos internautas e articulistas assegurou à Política 76% de todos as discussões analisadas pela.MAP na amostra de quase 1 milhão de posts publicados nas redes e de 250 artigos na imprensa escrita. No entanto, essa forte exposição não trouxe resultados positivos para Lula.

O Índice de Positividade (IP) do ex-presidente ficou em 23%. O IP de Dilma Rousseff ficou em 32% - ainda favorecido pela discussão em torno da tese do "golpe" mas prejudicada por sua ausência no ato de defesa feito por Lula. O beneficiário do rebalanceamento de posições dos "ex" foi Michel Temer, cujo Índice de Positividade subiu a 44%. Essa marca não trouxe o presidente para a faixa positiva, acima de 50%, mas está muito próxima dessa fronteira.

Há poucas semanas, os debates mal incluíam Temer no jogo do poder e atribuíam ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a força da mudança e, portanto, do governo recém instalado. O "espetáculo", como muitos qualificaram a apresentação do Ministério Público sobre a denúncia contra Lula, teve repercussão, nem sempre positivas, mas sem fragilizar o apoio da população às investigações. Entre os temas mais citados no debate político: desvio de recursos e corrupção. O Índice de Positividade do Ministério Público foi a 77% e a referência às manifestações que pedem "Fora, Temer" não saiu de 18%. Essas manifestações não ganharam apoio.

O monitoramento das redes e da Opinião na imprensa escrita sugere ao atual governo __ com validade até dezembro de 2018 __ que este momento é decisivo para consolidar o apoio dos brasileiros. E cabe a pergunta: que instrumento o governo poderá usar para dar propulsão aos índices de confiança necessários para chamar investimentos?

A resposta rápida e sem contra indicações é fomentando o crescimento. Mas a resposta mais adequada na opinião dos investidores - por ter senso de realidade - é o veto do presidente a decisões que acarretem mais despesas. Surpreendendo na semana passada, o presidente vetou integralmente o projeto de aumento aos defensores públicos federais.

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