quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Juro cai pela primeira vez desde 2012

Por Alex Ribeiro, Silvia Rosa e Flavia Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou ontem a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano, a primeira redução desde 2012. O comitê mostrou estar mais confiante em relação à convergência da inflação para a meta de 4,5% entre 2017 e 2018. Ao mesmo tempo, atualizou os riscos que vê adiante para nortear suas decisões: mencionou "pausa recente" nos componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, uma referência aos preços dos serviços, e o ritmo de aprovação das reformas fiscais. Analistas ouvidos pelo Valor acreditam, porém, que o comitê deixou a porta aberta para acelerar a queda de juros na próxima reunião.

BC corta taxa básica para 14% na 1ª redução em quatro anos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou ontem a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano, promovendo o primeiro alívio monetário à economia em quatro anos, depois de ficar mais confiante em que a inflação vai cair para a meta de 4,5% entre 2017 e 2018.

A decisão, unânime, atendeu à expectativa da maior parte dos analistas econômicos, mas frustrou apostas de segmentos do mercado de que o Copom pudesse começar com mais ousadia o processo de flexibilização da política monetária, com uma baixa de 0,5 ponto percentual.

Os juros estavam estáveis em 14,25% ao ano desde julho de 2015, depois de subirem 7 pontos percentuais a partir de abril de 2013 para conter pressões inflacionárias na economia.

Mas o comunicado divulgado logo depois da reunião deixa em aberto qual poderá ser o tamanho da queda no encontro de novembro e nos seguintes. "A magnitude da flexibilização monetária e uma possível intensificação do seu ritmo dependerão de evolução favorável de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e 2018", diz a nota do BC.

O Copom cita, na nota, dois fatores que pretende examinar ao longo do tempo para nortear suas decisões. "Que os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada", diz o comitê, provavelmente se referindo à inflação de serviços.

O comunicado do Copom cita também "que o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia contribuam para uma dinâmica inflacionária compatível com a convergência da inflação para a meta". Nesse caso, o Copom se refere à reforma fiscal, incluindo a PEC do teto dos gastos e a reforma da Previdência Social, além de outras reformas econômicas.

O Copom divulgou projeções atualizadas sobre a inflação neste e nos próximos dois anos. Segundo o comitê, a inflação projetada para 2017 segue em cerca de 7% nos cenários de referência (que pressupõe os juros estáveis em 14,25% ao ano vigentes até ontem) e no cenário de mercado, com a trajetória de queda da Selic projetada pelos analistas para esta reunião e as próximas.

Para 2017, a projeção de inflação no cenário de referência caiu dos 4,4% divulgados no Relatório de Inflação para 4,3%. No cenário de mercado, a projeção de inflação para 2017 se manteve inalterada "em torno de 4,9%". Já a projeção de inflação para 2018 no cenário de referência subiu de 3,8% para 3,9%. No cenário de mercado, aumentou de 4,6% para 4,7%.

O Copom atualizou também os fatores de risco, ou seja, possíveis eventos negativos que podem fazer com que a inflação supere os valores projetados ou possíveis eventos positivos que possam fazê-la ficar abaixo do projetado.

Do lado negativo, o Copom citou: 1) "o processo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia é longo e envolve incertezas"; 2) "o período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta ainda pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação"; e 3) "há sinais de pausa recente no processo de desinflação dos componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, o que pode sinalizar convergência mais lenta da inflação à meta".

Já do lado positivo, mencionou: 1) "a inflação mostrou-se mais favorável no curto prazo, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário"; 2) "o nível de ociosidade na economia pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom"; e 3) "os primeiros passos no processo de ajustes necessários na economia foram positivos, o que pode sinalizar aprovação e implementação mais céleres que o antecipado".

Na breve descrição da evolução do quadro econômico, o Copom manteve a aposta de que está havendo uma estabilização da economia e de possível retomada gradual. "Os indicadores divulgados desde a última reunião do Copom sugerem atividade econômica um pouco abaixo do esperado no curto prazo, provavelmente em virtude de oscilações que normalmente ocorrem no atual estágio do ciclo econômico", diz o Copom.

Sobre a inflação, assinala que ela mostrou-se mais favorável do que o esperado, "em parte em decorrência da reversão da alta de preços de alimentos".

No lado externo, o Copom reafirmou que o quadro é de o que chama de "interregno benigno", ou seja, de um período de taxas internacionais baixas que favorecem economias emergentes.

O Banco Central já vinha preparando o mercado para um possível ciclo de afrouxamento monetário desde a sua reunião de agosto, quando o comunicado então divulgado deixou de afirmar que não havia espaço para flexibilização monetária e indicou que, para baixar os juros, dependeria de fatores que dessem maior confiança no cumprimento da meta de inflação de 4,5%.

A autoridade monetária estava acompanhando, em especial, três fatores que poderiam fortalecer o cenário de cumprimento das metas: a inflação de alimentos, o ritmo de alta dos preços de serviços e a implementação do ajuste fiscal. Os preços de alimentos registraram deflação e a inflação de serviços mostrou certo arrefecimento, enquanto a implementação do ajuste fiscal teve um passo importante com a aprovação na Câmara em primeiro turno da proposta de emenda constitucional (PEC) que impõe um teto para o crescimento do gasto da União.

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