segunda-feira, 3 de outubro de 2016

PT sofre a maior derrota eleitoral de sua história

Raymundo Costa – Valor Econômico

SÃO PAULO - O PT sofreu ontem a maior derrota de sua história, na primeira eleição de que participou após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Das 26 prefeituras de capitais em jogo, fincou bandeira em apenas uma, Rio Branco (AC). O desempenho do partido também ficou aquém das expectativas nas cidades com mais de 200 mil habitantes, nas quais se concentram mais de 54 milhões dos votos. A devastação só não foi pior graças ao desempenho do prefeito Fernando Haddad, em São Paulo, que na reta final da campanha levou o partido do quarto para o segundo lugar da disputa.

Apesar da derrota acachapante, o prefeito Haddad sai da eleição de domingo como uma possível renovação para o PT, um partido que precisa se reinventar e encontrar novas alternativas eleitorais. Ainda hoje o PT não tem Plano B para a eleição presidencial de 2018. Se tiver condições legais para concorrer, Luiz Inácio Lula da Silva é o nome. Até ontem, a possibilidade de um Plano B especulada por dirigentes da sigla era o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, atualmente filiado ao PDT.

O ex-presidente Lula, segundo as primeiras avaliações feitas no partido, foi tão ou mais derrotado que o PT. Em São Bernardo do Campo, berço do lulismo, o candidato do PT perdeu, apesar de Luiz Marinho, o atual prefeito, ter quase 70% de avaliação positiva, ajudado por investimentos maciços do governo federal, em seus dois mandatos. A presença de Lula em eventos de candidatos do PT e aliados, em São Paulo ou em outras cidades do país, também não ajudou.

No clima da derrota, o ambiente não é bom no PT. Uma das queixas recorrentes que dirigentes do partido continuam contando histórias sobre o petrolão, o mega-esquema de corrupção na Petrobras, que depois sãos desmentidas pelas investigações da Lava-Jato. O rosário de queixas chega também ao que se chama de "pragmatismo" que tomou conta do PT, desde que a sigla conquistou o governo. Muitas vezes o PT decide em função de interesses que não seriam os melhores para sigla. O PT, por exemplo, lançou menos candidatos do que poderia nos estados ontem têm o governador, apenas para atender a demandas locais dos partidos aliados.

Diante do cenário altamente desfavorável em São Paulo, onde o antipetismo é mais evidente, o "programa mínimo" do PT na capital paulista era ao menos chegar na frente da senadora Marta Suplicy (PMDB). O PT não perdoa Marta por ela ter justificado sua saída por considerar o PT um "partido de corruptos". Ao ser alertada que trocara o PT pelo PMDB, um partido que também tem acusados de envolvimento na Lava-Jato, a senadora não deu o braço a torcer e disse que as acusações afetavam apenas um ou outro dirigente pemedebistas - nas entrelinhas dizia que o PT todo era um partido corrupto.

Na véspera da eleição, a cúpula do PT percebeu o crescimento de Haddad e reforçou a militância nas ruas. Mas era realista: chegar ao segundo turno já seria uma grande vitória. Não deu, mas o desempenho de Haddad foi considerado razoável para um partido que tem vários dirigentes presos acusados de corrupção e vê o seu maior líder também ameaçado de condenação por envolvimento na Lava-Jato.

Na realidade, o PT regrediu a patamares dos fins dos anos de 1990. A média eleitoral de Lula na sua primeira eleição, grosso modo, foi de 32% dos votos, segundo cálculos feitos no partido. Na reeleição, a média ficou em torno dos 30%. Ontem à noite, sem que todos os resultados fossem conhecidos, calculava-se que a média nacional do PT ficou abaixo dos 20% do eleitorado. Péssimo sinal para 2018.

O PT sobreviveu à denúncia do mensalão e ao início do petrolão [o esquema de corrupção na Petrobras], mas atingiu o fundo do poço com o fracasso da política econômica do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A mudança do discurso de campanha quando Dilma assumiu o governo, em 2015, só agravou a situação do PT, que não tinha convicção de defender o governo. Ficou isolado no Congresso e nas ruas, sem condições de resistir à avalanche de pessoas que foram pedir o "Fora Dilma".

De acordo com a expressão de um dirigente, o partido já chegou às eleições caindo pelas tabelas. Feitas as contas, na realidade o PT já saiu menor na largada. Em 2012, o partido teve 1.763 candidatos, em todo o país. Neste ano, foram 971, uma queda de 45% no número de candidatos.

Esses foram os números para prefeito. A redução de candidatos a vereador ocorreu no mesmo ritmo - foram 38.525 nas eleições de 2012; ontem 21.293 candidatos a vereador do PT se apresentaram ao eleitorado. Com a redução natural do número de prefeitos e vereadores, a expectativa para a eleição de deputados estaduais e deputados federais, em 2018, também é de queda.

Na opinião do presidente do PT, Rui Falcão, os resultados de ontem servem para mostrar "cada vez mais que a esquerda precisa se reunir". O dirigente petista evitou deliberadamente dizer que a esquerda precisa se unir, o que o mapa das eleições municipais de 2016 mostrou ser uma tarefa quase impossível. O PT acha que foi vítima de um ataque especulativo de vários aliados de outras épocas, como o PSOL e o próprio PCdoB.

"A ideia que ganha força é a de uma frente que não seja só eleitoral, mas que tenha candidatos comuns", diz. O dirigente quer mais discussão interna e mais abertura para tendências menores. O risco é uma saída em massa do partido para a criação de outra legenda, o que já aconteceu no passado e pode se repetir agora, como ameaçam grupos mais insatisfeitos.

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