sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Difícil reversão - Míriam Leitão

- O Globo

O desemprego chegou a um nível recorde, mas se manteve estatisticamente estável, avisou o IBGE. Parece contraditório, mas nos índices a variação de um ponto percentual depois da vírgula é mesmo estabilidade. Só que nessa época é má notícia. Normalmente a taxa de desemprego cai nos últimos meses do ano e desta vez ela não recuou. O desemprego vai aumentar nos próximos meses.

No começo do ano o índice de desocupação sempre sobe pelo efeito do fim das contratações temporárias. As projeções são de que a taxa, em 11,9%, deve subir em 2017 e pode chegar a 13% ou 13,5%. O mercado de trabalho continuará se deteriorando neste que será o quarto ano da crise. O Brasil teve um tempo de estagnação em 2014, dois anos de recessão forte em 2015 e 2016 e vai para nova estagnação em 2017. Isso significa quatro anos perdidos em termos de crescimento, com um saldo de encolhimento forte do produto.

Já se sabia desde a campanha eleitoral de 2014 que o mercado de trabalho seria afetado pelas decisões econômicas tomadas pelo governo. O emprego naquela época estava estável porque esse indicador é o último a piorar. As empresas já sentiam a queda do nível de atividade, porém ainda seguravam o quadro de funcionários na expectativa de que a crise não fosse tão prolongada. O Brasil tinha 6,4 milhões de desempregados no fim de 2014, um ano depois tinha 9 milhões e agora tem 12,1 milhões. Em 12 meses até novembro, o país perdeu 1,5 milhão de empregos com carteira assinada, de acordo com dados do Caged.

O quadro é desanimador, até porque não haverá reversão no curto prazo. Esse indicador é também o último a melhorar. O empresário só voltará a contratar quando tiver certeza de que a economia mudou de ciclo. A proposta de mudança na lei trabalhista, por regras mais flexíveis, e normas negociadas, pode ajudar, mas enfrentará a oposição das centrais sindicais, defensoras de quem já está empregado.

O governo continua preparando medidas para tentar melhorar as expectativas. Em uma entrevista que fiz ontem com o ministro Dyogo Oliveira ele disse que o governo tomará medidas para estimular a economia, reduzir a burocracia, aumentar a eficiência do setor público. Segundo o ministro do Planejamento o governo continuará cortando gastos com medidas como a da auditoria do auxílio-doença. A análise dos casos mostrou que 80% das pessoas que vinham recebendo esse benefício há mais de dois anos não estavam mais doentes. Será reeditada uma Medida Provisória para continuar a fazer as perícias neste programa social. Ontem também o governo anunciou que extinguiu 4.689 cargos, 10% a mais do que a meta pretendida. Haverá ainda uma mudança nas compras governamentais em que primeiro se discutirá o preço, para que haja mais concorrência entre os possíveis fornecedores.

Tudo isso ajuda a melhorar o ambiente e as expectativas, mas a mudança do quadro econômico será lenta segundo a maioria das previsões dos economistas. Mesmo assim, o ministro, na entrevista que me concedeu na GloboNews, mostrou otimismo.

— Acho que 2017 será um ano de continuidade desse processo de ajustamento da economia. Nós vamos continuar apostando em ações na direção de melhorar a eficiência, criar condições para o crescimento. Haverá novas medidas. Vamos continuar com esse foco de melhorar a produtividade da economia. As condições macroeconômicas hoje são bastante melhores do que no início do ano e no início do novo governo. Já tem uma inflação baixa. As perspectivas para o lado externo estão completamente equilibradas, não temos nenhum risco do lado externo. Há já um início de um processo de flexibilização da política monetária. A nossa previsão oficial é de crescimento de 1% do PIB. Temos um ano inteiro para trabalhar.

Inflação menor, juros em queda e o governo tentando aumentar a eficiência econômica podem ter efeitos positivos na economia, porém a mudança no mercado de trabalho acontecerá, na melhor das hipóteses, no final do ano que vem e não será uma reversão rápida. Na agricultura haverá mais criação de emprego durante 2017, porque o agronegócio terá um bom ano. A indústria e o setor de serviços, no entanto, demorarão a criar vagas em quantidade necessária. O desemprego, infelizmente, permanecerá alto.

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