sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Temer ouvirá mais PSDB e Arminio

O governo ouvirá o economista Arminio Fraga, ex-presidente do BC e ligado ao PSDB, em busca de soluções para a economia do país. O presidente Temer decidiu ampliar o espaço do partido na formulação de alternativas para contornar a crise, informam Simone Iglesias e Júnia Gama.

Governo ouvirá Armínio e abrirá espaço ao PSDB

• Temer diz que ‘incidentes políticos’ prejudicaram confiança no país; medidas econômicas serão aceleradas

Simone Iglesias e Júnia Gama - O Globo

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Com o cenário econômico desfavorável, o governo busca medidas para superar a conjuntura negativa e decidiu ampliar o espaço do PSDB nesta formulação. Há previsão de ocorrer nas próximas semanas uma reunião entre técnicos econômicos do governo com o economista Armínio Fraga, principal nome do PSDB na área e que chegou a ser sondado para integrar o Ministério do governo de Michel Temer. O encontro está sendo articulado entre a cúpula do PMDB e do PSDB, como uma das apostas para tentar animar a economia “real”, evitando que a situação de desemprego e baixo crescimento derrube as perspectivas futuras de melhoras.

Para manter o apoio do mercado, do Congresso e de setores da sociedade, o governo pretende acelerar as medidas de recuperação da economia, com ações que tenham efeito mais imediato. A intenção é ouvir as propostas e incorporar ao plano econômico o que for possível. A maior preocupação é acelerar a implementação de medidas que tenham efeito no curto prazo para dar respostas à população e, assim, remediar o cenário de possível virada contra o governo. A presença de Fraga neste sentido será vital já que, na análise de assessores do Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vem “perdendo substância” devido à pouca efetividade das medidas tomadas até o momento, quase todas com viés mais estrutural que conjuntural.

— Meirelles era a âncora do governo, mas começa a perder substância porque as medidas implementadas até agora não surtiram efeito — justifica um auxiliar de Temer.

Após seis meses de gestão e com medidas de crescimento econômico ainda patinando, o presidente Temer expôs a aliados nos últimos dias ter uma preocupação adicional: a pauta de votações do Congresso. Em conversas com peemedebistas, o presidente considerou muito ruim a aprovação das medidas de combate à corrupção na Câmara na madrugada de quarta-feira, com várias distorções ao texto original que geraram forte reação popular, e disse que, dependendo do que o Senado fizer com o projeto, poderá partir para o veto.

Para Temer, a votação das medidas foi mais uma bomba que jogaram no seu colo. Ele pediu a aliados que, com o texto que chegou nesta quarta-feira ao Senado, seja feito um pente-fino no que foi aprovado pela Câmara. O ideal, segundo seus auxiliares, seria que o projeto passasse pela análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ser apreciado pelo plenário do Senado.

— O presidente está preocupado, quer ver o que tem no texto que foi aprovado pela Câmara — disse um interlocutor.

O presidente quer evitar que o tema volte à pauta neste ano e viu com alívio a decisão dos senadores de derrubarem requerimento de urgência colocado em votação pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A ação do senador, inclusive, pegou o presidente de surpresa, já que seus auxiliares diretos lhe haviam levado relatos de que Renan daria tempo aos colegas para conhecerem o texto antes de votá-lo.

Na iminência de manifestações contra seu governo e contra as recentes manobras no Congresso, pessoas próximas a Temer afirmaram que uma aprovação do Senado para dar seguimento ao pacote anticorrupção engrossaria o coro dos que irão às ruas neste domingo.

Um interlocutor presidencial disse que há um ar de “resignação” quanto aos protestos porque o governo conseguiu dar esperança ao mercado, mas não conseguiu ainda apresentar melhoras à população, que tem ampliado gradativamente seu descontentamento. Outro fator que, na avaliação do Planalto, colabora para intensificar as manifestações, foi o episódio que levou à queda de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo, uma crise considerada desnecessária internamente, mas que afetou ainda mais a imagem de Temer, até mesmo entre aliados do PSDB, do DEM e do PSB. O Palácio do Planalto espera que os protestos sejam pacíficos e sem registro de “vandalismos” como os que ocorreram na última terça-feira, em Brasília.

Em São Paulo, Temer considerou “natural” a queda de braço dos últimos dias entre o Congresso e investigadores da Lava-Jato. Em discurso a investidores em São Paulo, ele evitou ao máximo entrar no debate dos temas que colocam hoje em lados opostos parlamentares, magistrados e o Ministério Público. A única menção foi feita quando ele explicava que a confiança no país havia sofrido nova queda em novembro por causa de “incidentes políticos”.

— Reconheço que neste último mês a confiança caiu um pouco em face de incidentes políticos. A chamada anistia (do caixa dois) num dado momento e agora a responsabilidade de juízes e promotores (projeto em discussão sobre o abuso de autoridade) têm criado um natural embate em alguns setores e na própria opinião pública. Esses fatos todos criam certa instabilidade e os investidores põem o pé atrás — afirmou Temer. (Colaborou Silvia Amorim)

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