terça-feira, 26 de julho de 2016

Opinião do dia – Ulysses Guimarães

É claro que a política não é o ofício da bagatela, a pragmática da ninharia. Quem cuida de coisas pequenas, acaba anão.

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Ulysses Guimarães (1916-1992)

Temer prepara lançamento de programa de governo

• Medidas devem ser anunciadas após julgamento do impeachment

Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Passado o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, no Senado, o presidente interino, Michel Temer, planeja lançar o programa de seu governo no fim de agosto. Nas duas eleições como candidato a vice-presidente, ele foi coadjuvante das propostas petistas. Assumindo definitivamente o comando do país, Temer quer apresentar um plano de sua autoria e de sua equipe.

No plano de voo apresentado pelo peemedebista, ele se comprometerá com as reformas trabalhista e da Previdência Social, que deseja deixar de legado. Anunciará ainda medidas de reequilíbrio fiscal, de manutenção de programas sociais e de um modelo de privatizações, com foco na parceria entre governo e iniciativa privada.

Temer está aproveitando o recesso do Congresso para se dedicar ao programa de governo. Semana passada, pediu aos seus ministros que apresentem num prazo de 15 a 20 dias medidas voltadas ao crescimento econômico e à geração de empregos. Elas integrarão o documento em construção.

— Ele fará as duas reformas, que são bem polêmicas, apesar das resistências. Está disposto a enfrentar manifestações nas ruas, desgaste com a base, porque quer que elas sejam seu legado — disse um auxiliar presidencial.

Ampliação do Minha Casa Minha Vida
Para isso, Temer buscará “desobstruir os canais” com a oposição, conversando com todos os atuais aliados de Dilma. Também quer envolver nas discussões das reformas trabalhista e da Previdência o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Na reforma trabalhista, o governo pretende mudar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e regulamentar a terceirização. Esses pontos deverão constar do programa em elaboração por Temer e seus auxiliares. Um interlocutor do presidente interino disse que ele considera a CLT anacrônica.

Sobre a reforma da Previdência, Temer defende a unificação dos regimes, com as mesmas regras para o setor privado e funcionários públicos, além da adoção da idade mínima — mantendo uma diferença de dois ou três anos a menos de trabalho para as mulheres.

Aconselhado por empresários, Temer ampliará o Minha Casa Minha Vida, porque, além do viés social, o programa pode reaquecer a construção civil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

O governo também quer testar um modelo de privatização parcial, espécie de parceria público-privada em várias estatais como os Correios, Transpetro e Infraero. O formato ainda está em discussão, já que não é atrativo para empresários ficarem sem o controle da empresa e sem o direito de gestão.

Outra preocupação de Temer é com o ambiente de negócios e atração de investimentos. Ele autorizará a venda de ativos e terras para estrangeiros. Pediu ainda que sejam melhoradas as regras de concessões de rodovias.

O programa de Temer dará atenção ao comércio exterior, com foco em países como a China, país escolhido por Temer como destino de sua primeira visita oficial, em agosto. A retomada do pleno emprego e a reconquista do grau de investimento do país também são prioridades.

Há a possibilidade de um pronunciamento em cadeia nacional para a apresentação do programa. Outra hipótese é Temer fazer uma declaração à imprensa e apresentar o documento.

Projeção para o PIB de 2016 volta a cair

Por Ana Conceição - Valor Econômico

SÃO PAULO - Depois de nove semanas entre estabilidade e ascensão, a expectativa dos analistas para a atividade econômica brasileira voltou a cair, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) saiu de queda de 3,25% para recuo de 3,27%, após três semanas consecutivas em alta. Antes disso, as estimativas ficaram estáveis em uma semana e subiram nas demais. A última queda de projeção antes da atual ocorreu em 13 de maio, quando saiu de -3,86% para -3,88%. A pior projeção para o PIB de 2016 foi registrada em 29 de abril (-3,89%).

As estimativas passaram a subir de forma mais consistente após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, que caiu 0,3% ante um recuo esperado de 0,8% sobre o último trimestre de 2015. Depois, sucessivas altas nos indicadores de confiança dos consumidores e do setor privado consolidaram um viés mais positivo para o PIB.

Em junho, o BC passou a estimar queda de 3,3% no PIB deste ano, ante projeção anterior de baixa de 3,5%, Na sexta-feira, ao divulgar o relatório bimestral de receitas e despesas, o Ministério do Planejamento informou trabalhar com expectativa de recuo de 3,1% - antes era estimada queda de 3,8%.

As projeções para a inflação deste ano e de 2017 melhoraram. A mediana das estimativas para o IPCA de 2016 caiu de 7,26% para 7,21% e, de 2017, de 5,3% para 5,29%. Em 12 meses, foi de 5,7% para 5,63%. Entre os analistas Top 5, contudo, a mediana para o IPCA de 2016 subiu de 7,18% para 7,2%. A de 2017 recuou de 5,33% para 5,29%.

Montadoras e metalúrgicos pedem socorro ao governo

Por Marli Olmos – Valor Econômico

SÃO PAULO E SÃO BERNARDO DO CAMPO - Montadoras e metalúrgicos do ABC se uniram para pedir socorro ao governo. Esperam apoio para encolher jornadas de trabalho já reduzidas e, assim, segurar trabalhadores especializados até que as vendas melhorem. A crise se estendeu mais do que o previsto e já não basta trabalhar um dia a menos por semana.

Montadoras e empresas de autopeças operam com 52% de ociosidade. Na indústria de caminhões, sobram 75% da capacidade. O governo já acenou com apoio. O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, anunciou a intenção de tornar permanente o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), uma reivindicação dos fabricantes. A crise não está sendo tão passageira como se pensou em novembro de 2015, quando o PPE foi criado para durar só até dezembro de 2017.

PPE e "lay-off" são ferramentas usadas para evitar ou adiar demissões. Usam recursos públicos para complementar salários do empregado que é obrigado a ficar em casa. No "lay-off", o trabalho é suspenso temporariamente e no PPE, reduz-se a jornada em um dia por semana.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, espera que o governo também aumente a quantidade de recursos na complementação salarial caso seja preciso diminuir ainda mais a jornada. É uma necessidade que ele tem percebido nas conversas com empresários. Desde 2011, a base que Marques comanda diminuiu de 107 mil para 79 mil metalúrgicos.

Hoje, 26 mil empregados do setor participam de PPE ou "lay off", mais de 23% de todo o efetivo. "Evitamos dispensar mão de obra especializada porque apostamos na recuperação", diz o presidente da associação das empresas do setor, a Anfavea, Antonio Megale.

Para driblar a ociosidade, a Ford optou por saída inédita no setor, a sinergia. Vai juntar operários das linhas de carros com os de caminhões. As duas equipes serão treinadas para produzir automóveis numa parte da semana e veículos pesados na outra. A Volkswagen abriu programa de demissões voluntárias. Há um excedente de 3,6 mil empregados, mais de 30% do seu efetivo no ABC.

Montadoras pedem ajuda para encurtar jornada
Montadoras e metalúrgicos do ABC decidiram unir-se para pedir socorro ao governo. Esperam a mão do poder público para encolher jornadas já reduzidas e, assim, segurar trabalhadores especializados até as vendas melhorarem. A crise se estendeu mais do que o previsto e já não basta trabalhar um dia a menos por semana. Mas ao contrário de outros momentos ruins, desta vez não adianta só esperar mudanças pontuais, como o aumento da oferta do crédito. A recuperação econômica ajudaria a resolver os problemas de hoje. Mas o futuro exige uma indústria afinada com novas tendências de locomoção em centros urbanos que já colocam em xeque a opção do carro como transporte individual.

Montadoras e autopeças operam com 52% de ociosidade. Na indústria de caminhões, sobra 75% da capacidade. O governo já acenou com apoio. Recentemente o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, anunciou a intenção de tornar permanente o Programa de Proteção ao Trabalho, uma reivindicação dos fabricantes de veículos. A crise não foi tão passageira como se pensou em novembro de 2015, quando o chamado PPE foi criado para durar só até dezembro de 2017.

PPE e "lay-off" são as ferramentas mais usadas para evitar ou adiar demissões na indústria automobilística hoje. Ambos usam recursos públicos, do Fundo de Amparo ao Trabalhador, para completar salários do empregado que é obrigado a ficar em casa. No "lay-off" o trabalho é suspenso temporariamente enquanto que no PPE reduz-se a jornada em um dia por semana.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, espera que o governo também aumente a quantidade de dinheiro publico na complementação salarial caso seja preciso diminuir ainda mais a jornada. É uma necessidade que ele tem percebido nas conversas com empresários. Desde 2011, a base que Marques comanda diminuiu de 107 para 79 mil metalúrgicos. "A crise foi uma paulada no emprego", diz.

Hoje 26 mil empregados da indústria automobilística participam de PPE ou "lay off". Equivale a mais de 23% de todo o efetivo do setor. "Evitamos dispensar mão de obra especializada porque apostamos na recuperação", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale. Por enquanto, o consumidor tem evitado dívidas. Total de 48,2% dos carros novos vendidos no país em junho foram pagos à vista.

Para driblar a ociosidade, a Ford optou por uma saída inédita no setor. Nos próximos dias, vai juntar operários da linha de carros com os de caminhões. As duas equipes da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) serão treinadas para produzir automóveis numa parte da semana e veículos pesados na outra. Já a Volkswagen abriu programa de demissões voluntárias. Há um excedente de 3,6 mil empregados, mais de 30% do seu efetivo no ABC, segundo o sindicato.

A crise não é, porém, o único obstáculo no caminho das montadoras. Uma clara mudança de hábitos, sobretudo nos centros urbanos, reduz cada vez mais o uso do carro para o transporte individual.

O professor titular da Universidade de São Paulo, Glauco Arbix, decidiu deixar seu carro na garagem no dia a dia e passou a usar o uberPOOL, uma versão do uber que permite dividir viagem e custos com outras pessoas que vão na mesma direção.

"Essa indústria enfrenta obstáculos de naturezas distintas. O mais sensível é o desaquecimento da economia. Mas há um mais recente, flagrante e menos compreendido pelo setor, que é o surgimento de novas alternativas de locomoção", afirma Arbix, pesquisador do Observatório da Inovação.

Para ele, empresas gigantescas, determinantes na política industrial do século XX, se deparam hoje com um consumidor disposto a compartilhar viagens e que se pergunta se vale a pena investir na compra de um carro veloz para circular em cidades congestionadas.

"Além disso, se observarmos quem está na vanguarda do desenvolvimento de softwares para os carros que funcionam sem motorista, encontraremos empresas que nada têm a ver com a indústria automobilística, como Google ou Facebook ", diz.

Recentemente a Fiat Chrysler associou-se à Google para desenvolver um carro autônomo. A montadora entregará à empresa de tecnologia 100 unidades da versão híbrida da minivan Pacifica, que será testada para funcionar sem motorista. O presidente da Fiat Chrysler Brasil, Stefan Ketter, diz que o grupo aposta na união com quem já entende desse tipo de tecnologia. "Desse jeito ambos ganhamos", destaca.

O presidente da Anfavea concorda que existe uma tendência mundial de o carro ganhar mais importância pelo uso e menos como propriedade. Para Megale, falta, porém, ainda muito tempo para o consumidor perder o prazer em dirigir. "E mesmo quando a tendência do compartilhamento se confirmar alguém terá de produzir os veículos", diz. O dirigente discorda que as montadoras precisam aproximar-se das empresas de tecnologia. "Temos gente para desenvolver inovações", afirma.

O professor titular do departamento de engenharia de produção da USP, Mario Salerno, diz que o Brasil está pouco envolvido nas pesquisas que tendem a transformar o carro numa integração eletro-eletrônica, o que agrava as dificuldades do setor no país. "Além de ter muitas marcas, muitos modelos e muitas fábricas, o que reduz escala, o Brasil está fora da pesquisa do carro elétrico, que domina metade do desenvolvimento mundial dos veículos hoje", diz.

Ninguém põe em dúvida o peso de uma indústria que emprega 9 milhões de pessoas em todo o mundo. Por outro lado, o papel do carro nunca foi tão questionado. A crise estrutural pode deixar marcas muito mais profundas do que a desaceleração econômica em um país como o Brasil, sétimo mercado de veículos do mundo. As palavras de um executivo revelam que no fundo os dirigentes do setor estão preocupados: "antigamente era só pedir redução de IPI e as coisas se resolviam…..."

Berzoini teria pedido propina, afirma ex-executivo da Andrade

Por Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em depoimento ao juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, o executivo Flávio Gomes Machado Filho, ligado a Andrade Gutierrez, mencionou on cobrança de propina que teria sido feita pelo ex-ministro Ricardo Berzoini. O petista, conforme o relato de Machado, pediu 1% de todos os contratos entre a empresa e o governo federal, inclusive para obras já realizadas.
A cobrança teria ocorrido em um encontro no escritório da Andrade Gutierrez, na capital paulista, em 2008, que reuniu o então presidente da companhia, Otávio Azevedo, Berzoini, o tesoureiro do PT na época, Paulo Ferreira, e João Vaccari Neto.

"Nessa reunião, Berzoini fez essa colocação, que gostaria que todo e qualquer contrato da Andrade Gutierrez junto ao governo federal tivesse o pagamento de vantagens indevidas no valor de 1%", disse Machado, que ligou o pagamento a projetos da Eletronuclear e a um empréstimo do BNDES para uma construção na Venezuela.

Segundo o delator, foi uma conversa desagradável, já que os executivos da empresa não achavam que deveriam fazer o pagamento porque não tinham nenhuma vantagem "especial" do PT.

"Senti claramente a reação do Otávio Azevedo. Ele, inclusive, se resguardou para que desse uma posição final mais à frente em outra reunião", contou Machado, acrescentando que Berzoini adotou uma postura "incisiva e além do tom" ao cobrar a propina.

O executivo sugeriu que a empresa poderia sofrer retaliação caso não efetuasse o pagamento. "Veladamente deu para perceber que poderia haver algum tipo de situação desconfortável para nós. Entendemos como sendo uma pressão. Não foi uma solicitação: 'pode aceitar ou não aceitar'. A gente achou quase que como uma imposição", explicou.

Outros dois executivos da Andrade Gutierrez também prestaram depoimento a Moro. Tanto Elton Negrão como Pedro Campelo confirmaram a pressão para o pagamento de propina e a existência de cartel para obras da Petrobras desde 2000.

"O Rogério [de Sá Nora, presidente da holding] me falou que, em uma conversa do PT com o Otávio [Azevedo] acertou percentual [de propina] e que a empresa ia cumprir. Ele disse que tinham decidido aumentar as contribuições oficiais para diminuir a pressão por pagamentos", afirmou Negrão. A reportagem não encontrou Berzoini até o fechamento desta edição.

Berzoini exigiu 1% de propina sobre ‘todo e qualquer contrato da A.Gutierrez com governo federal’, diz delator a Moro

• Flávio Machado, executivo ligado à segunda maior empreiteira do País, afirmou ao juiz da Lava Jato que solicitação foi feita durante reunião em 2008 e ideia era que pagamentos fossem retroativos

Julia Affonso, Fausto Macedo e Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

O executivo Flávio Machado, ligado à Andrade Gutierrez, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro em depoimento nesta segunda-feira, 25, que, em 2008, o então presidente do PT Ricardo Berzoini pediu 1% de propina sobre ‘todo e qualquer contrato da Andrade Gutierrez junto ao governo federal’.

Flávio Machado prestou depoimento em ação penal na Operação Lava Jato. Ele é um dos ex-dirigentes da empreiteira que fecharam delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, também é delator.

O executivo citou os ex-tesoureiros do PT João Vaccari Neto e Paulo Ferreira. João Vaccari está preso na Lava Jato desde abril de 2015 e Paulo Ferreira está custodiado na Operação Custo Brasil – esta, uma investigação sobre desvios de R$ 100 milhões de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, gestão Paulo Bernardo.

“O João Vaccari não era o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores àquela época. O tesoureiro, se eu não estou enganado, era o Paulo Ferreira. Fui apresentado ao João Vaccari que era um assessor direto do presidente do Partido dos Trabalhadores, o Berzoini, Ricardo Berozini, quando então o João Vaccari me solicitou que eu conseguisse agendar uma reunião com o presidente Otávio Azevedo com a presença do presidente Ricardo Berzoini. Essa reunião, eu não sei precisar exatamente a data, ocorreu em 2008 no nosso escritório que era a sede da Andrade na época, em São Paulo”, declarou o executivo.

Perante o juiz Moro, o ex-dirigente da Andrade Gutierrez afirmou. “Nessa reunião, participaram pela Andrade, Otávio e eu, pelo Partido dos Trabalhadores, o presidente Berzoini, o João Vaccari e o Paulo Ferreira. Nesta reunião, o presidente do PT à época, Ricardo Berzoini fez essa colocação que gostaria de todo e qualquer contrato da Andrade Gutierrez junto ao governo federal tivesse o pagamento de vantagens indevidas no valor de 1%. Isso foi uma conversa entre eles, nós outros 3 ficamos praticamente calados.”

Flávio Machado declarou que a conversa foi ‘muito desagradável’.

“Senti claramente a reação do Otávio Azevedo. Ele, inclusive, se resguardou para que desse uma posição final mais à frente em outra reunião, alguma coisa nesse sentido. Ele tinha que internalizar essa colocação. Essa reunião realmente ocorreu, e eu estava presente”, disse.

“Os desdobramentos, até onde eu sei, o próprio Otávio Azevedo procurou o presidente à época, Rogério Nora de Sá, da construtora, para colocar essa colocação. Foi uma reação muito desagradável dentro da empresa. Não se achava, os executivos envolvidos em diversas áreas não achavam que isso seria devido, porque não tinha nenhuma ajuda especial, não tinha nada. O que até onde meu conhecimento que isso aí foi “aceito” no processo daí pra frente, porque a ideia era retroagir os efeitos para outros contratos que ainda não tivesse recolhido. Foi uma conversa entre Rogério Nora e Otávio Azevedo, não participei dessa conversa.”

A reportagem não conseguiu contato com a assessoria de Berzoini. A assessoria do PT informou que não tem o contato de Berzoini.

PT recebia propina de 1% dos contratos, confirma delator

Renato Onofre e Tiago Dantas - O Globo

-SÃO PAULO- Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Andrade Gutierrez, voltou a afirmar que, em 2008, o PT pediu propina de 1% dos contratos que a empreiteira mantinha com o governo federal, e não só com a Petrobras. Ele associou os pagamentos a projetos da Eletronuclear e a um empréstimo do BNDES destinado a uma obra na Venezuela. Disse ainda que parte dos pagamentos foi por doação oficial.

Ontem, foi a primeira vez que os executivos prestaram depoimento ao juiz Sérgio Moro após acertarem um acordo de delação premiada com a Justiça Federal. Antes, haviam ficado calados.

Machado afirmou que, em reunião na sede da empresa, em São Paulo, em 2008, o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, pediu que a empreiteira pagasse ao PT 1% de todos os contratos que tinha com o governo. O pedido envolvia obras já realizadas. Além dos dois, estavam na reunião o então tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, João Vaccari Neto, e o então presidente da companhia, Otávio Azevedo.

— Nessa reunião, Berzoini fez essa colocação, que gostaria que todo e qualquer contrato da Andrade Gutierrez junto ao governo federal tivesse o pagamento de vantagens indevidas no valor de 1% — disse Machado. — Foi uma conversa muito desagradável.

Questionado por Moro se a empresa foi ameaçada caso não pagasse, o ex-diretor respondeu que a situação era “desconfortável”:

— Não foi uma solicitação, que você pode aceitar ou não. A gente achou que foi como uma imposição.

Apesar disso, segundo Machado, “muito do que foi solicitado não foi efetivamente cumprido”. O executivo lembrou de pelo menos duas situações em que foi cobrado por Vaccari de pagamentos que deveriam ser feitos ao PT, relacionados à Eletronuclear e ao BNDES. Nas duas situações, os repasses foram feitos “através de doações oficiais”.

O ex-diretor da Andrade Gutierrez Elton Negrão afirmou a Moro que, entre 2009 e 2010, seus funcionários da área comercial sofreram pressão para pagar propina:

— O Rogério (de Sá, ex-diretor da empreiteira) me falou que, em uma conversa do PT com o Otávio (Azevedo), acertou percentual (de propina) e que a empresa ia cumprir.

Já o ex-executivo Pedro Campelo voltou a confirmar a existência do cartel para as obras da Petrobras.

O GLOBO não conseguiu contato com Berzoini. No início do ano, ele negou as acusações e se disse indignado.

Ex-presidente do BNDES pedia doação ao PT, diz empreiteiro Ricardo Pessoa

Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirmou aos procuradores da Operação Lava Jato que o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho pediu a ele que procurasse o então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição, Edinho Silva, para fazer doações.

Pessoa fez as afirmações em uma complementação de sua delação premiada.

Segundo o depoimento de Pessoa, feito no mês passado, a conversa aconteceu em 2014, quando Coutinho ainda era presidente do BNDES.

Ele foi o presidente mais duradouro da entidade, permanecendo no cargo de maio de 2007 a maio de 2016.

O empresário relatou aos investigadores que teve uma reunião com Coutinho e outros executivos da UTC na sede do BNDES em São Paulo para tratar do projeto do aeroporto de Viracopos, na região de Campinas (SP).

A UTC integra o grupo que controla o empreendimento e que contou com um empréstimo do banco estatal de R$ 1,5 bilhão aprovado em dezembro de 2013.

Ao final da reunião, segundo o depoimento de Pessoa, o então presidente do BNDES pediu para que os executivos que estavam no local saíssem da sala e que permanecesse apenas os sócios da UTC.

A sós com o grupo, Coutinho teria dito, segundo o delator, que a partir daquele momento deveriam procurar Edinho para tratar de doações para a campanha da presidente Dilma de 2014.

Edinho, que após a reeleição de Dilma se tornou ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, atuou como tesoureiro da campanha de reeleição.

Compromisso
Para os investigadores, o depoimento do dono da UTC pode ser um indício de que Coutinho obtinha o compromisso de doações eleitorais entre empresários que tinham financiamentos junto ao BNDES.

Participantes do comitê da campanha de Dilma relataram à Folha que Coutinho tinha a função, juntamente com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, de apresentar Edinho aos empresários, já que quem transitava entre eles era o ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto.

Segundo a Folha publicou em maio, Marcelo Odebrecht relatou, ao negociar sua delação, que Coutinho e Mantega cobravam de empresários financiados pelo BNDES doações para Dilma em 2014.

Nesta segunda (25), o ex-diretor da Andrade Gutierrez Flávio Machado reafirmou que foi instado a doar ao PT após a empresa ser beneficiada por empréstimo do BNDES.

Delator
O dono da UTC fechou um acordo com a Procuradoria-Geral da República que foi homologado em junho do ano passado no STF.

Acusado de ser o coordenador do cartel das empreiteiras vigente na Petrobras, Pessoa começou a dar depoimentos no primeiro semestre de 2015 e continua a colaborar esporadicamente. Este ano, foi chamado para fazer complementações sobre fatos de que não havia falado.

Além de relatar a reunião com Coutinho, Pessoa também falou de acertos para a campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo em 2010, incluindo pagamento de caixa dois.

Outro lado
Coutinho afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que nunca se envolveu em questões ligadas a doações eleitorais.

No ano passado, ele confirmou em depoimento à CPI da Petrobras que se reuniu com Pessoa, mas negou que tenha indicado que ele procurasse Edinho.

"Não tratei de doações eleitorais com Ricardo Pessoa. No encontro que tivemos, no qual também estavam outras pessoas, tratamos apenas sobre projeto do aeroporto de Viracopos", relatou a época.

Edinho não quis comentar o depoimento de Pessoa. A defesa de Pessoa não retornou os contatos da reportagem.

Doação por pressão
Delator volta a mencionar campanha de Dilma

Ricardo Pessoa
(dono da UTC e Constran)
Afirmou em delação que foi "persuadido" por Edinho Silva a contribuir mais para o PT, por sua empresa ter grandes contratos com a Petrobras. Disse que o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho lhe pediu para procurar Edinho

Outras delações que citam campanhas de Dilma

Zwi Skornicki
(lobista)
Diz ter pago, a pedido de ex-tesoureiro do PT, US$ 4,5 milhões para o marqueteiro de Dilma, João Santana

João Santana e Monica Moura
(ex-marqueteiro do PT e sua mulher)
Confirmaram que pagamento de Skornicki era caixa dois da campanha de Dilma

Marcelo Odebrecht
(ex-presidente da Odebrecht)
Nas tratativas da delação, advogados adiantaram que ele deve dizer que houve pagamento de caixa dois na campanha de reeleição

Otávio Marques de Azevedo
(ex-presidente da Andrade Gutierrez)
Afirmou que a empreiteira fez doações legais às campanhas usando propinas de obras superfaturadas

Dilma muda versão sobre caixa dois

• Agora, presidente diz que repasse foi após a campanha e, por isso, não a atinge

Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- Após ter dito semana passada que, se houve caixa dois em sua campanha, isso ocorreu sem seu conhecimento, a presidente afastada, Dilma Rousseff, adotou ontem nova resposta para a delação de seu ex-marqueteiro, João Santana. Em depoimento na última quinta-feira, o publicitário e a mulher dele, Mônica Moura, admitiram ao juiz Sérgio Moro que os depósitos de US$ 4,5 milhões feitos pelo empresário Zwi Skornicki na conta do marqueteiro na Suíça eram para pagar dívidas da campanha presidencial de 2010 sem declaração à Justiça Eleitoral, ou seja, caixa dois.

Em entrevista à Rádio França Internacional, Dilma alegou que, como o caixa dois teria ocorrido após eleição, ele não atingiria sua campanha:

— Querida, nem o João Santana nem a mulher dele acusaram a minha campanha. Eles se referem a episódios que ocorreram depois de encerrada a campanha, e depois que o comitê financeiro da minha campanha foi dissolvido, dois anos depois. Então não há nenhuma afirmação que atinja a mim e a minha campanha. E é público e notório que eu jamais autorizei caixa dois na minha campanha.

A cerca de um mês do julgamento do impeachment no Senado, Dilma disse esperar que senadores votem “corretamente”. E disse que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF), se condenada no Congresso:

— O Ministério Público Federal não viu crime de responsabilidade e arquivou o processo. A perícia do Senado mostra que não há dolo em momento algum. Usam essa alegação pela completa falta de argumentos para me acusar. Assim sendo, eles inventaram um não crime. Estou sendo acusada e julgada por um não crime. E não sou eu que digo isso, são órgãos insuspeitos e institucionais do país.

Movimentos pró-impeachment agendam protesto para nova data

- Folha de S. Paulo

DE SÃO PAULO - Parte dos movimentos que defendem o impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff adiou os protestos que faria neste domingo (31) para o dia 21 de agosto. O objetivo é que os atos sejam feitos em data mais próxima à da votação no Senado, prevista pelos militantes para acontecer no fim do mês que vem.

MBL (Movimento Brasil Livre), Revoltados Online e Nas Ruas estão entre os que vão às ruas apenas em agosto. O Vem Pra Rua, por outro lado, preferiu manter o protesto para o último dia de julho.

Segundo Kim Kataguiri, líder do MBL e colunista da Folha, os movimentos avaliaram que a data anteriormente acertada dificultaria a mobilização de um número grande de pessoas.

"Temos recebido reclamações porque dia 31 será fim das férias escolares e por causa da manifestação marcada pelos grupos petistas para a mesma data", afirmou.

Já Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, minimizou a desistência dos aliados e negou que o protesto deste domingo, na avenida Paulista com a alameda Pamplona, será esvaziado.

"Estamos firmes com praticamente todos os movimentos, foram só uns 2 ou 3 que saíram. Todos [os manifestantes] estão sabendo dessa data e até agora é o nosso 2º evento com mais convidados [no Facebook] dentre todos, atrás apenas do de 13 de março", disse Chequer.

Também acontece neste domingo uma passeata contra o impeachment da Frente Povo Sem Medo, que reúne movimentos sociais e sindicatos de esquerda. Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), afirmou que o ato está mantido, mesmo com a mudança no protesto dos adversários políticos.

Dilma não vai à Olimpíada, mas se mudar de ideia terá espaço disponível

• Para deixar petista à vontade, ala que ela poderá ocupar não será batizada de "local destinado aos ex-presidentes"

Tânia Monteiro e Vera Rosa - Coluna do Estadão

Já está confirmado que Michel Temer irá à abertura dos Jogos Olímpicos acompanhado de sua mulher, Marcela, e de seu filho, Michelzinho. A presidente afastada Dilma Rousseff, por sua vez, decidiu que não irá.

O Palácio do Planalto reservou um espaço no andar de baixo ao que será usado por Temer caso Dilma mude de ideia. Para deixar a presidente mais à vontade, a ala onde ela ficará não será mais batizada de “local destinado aos ex- presidentes”, mas “tribuna de honra”.

Com menos interesse pela política, número de jovens eleitores cai 20%

• Em outubro, 2,3 milhões de pessoas entre 16 e 17 anos poderão votar


André de Souza - O Globo

BRASÍLIA - O interesse dos jovens pela política está em queda. Diminuiu em 20,4% o número de eleitores com 16 e 17 anos que se interessou em tirar o título de eleitor para estar apto a votar em outubro, na comparação com 2012. Nesta faixa etária, a votação é facultativa. Em todo o país, estão inscritos para votar 2,3 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos, segundo dados divulgados ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O que aumentou (em 12,9%) foi o número de idosos eleitores. Ao todo, serão 11,4 milhões de eleitores com 70 anos ou mais. As mulheres, que já eram maioria, aumentaram ainda mais a diferença. Em outubro, elas serão 52,21% do eleitorado brasileiro. Em 2012, eram 51,89%. Os números divulgados pelo TSE não incluem os eleitores de Distrito Federal, Fernando de Noronha e cidades do exterior, onde os brasileiros não votam para prefeito e vereador.

De acordo com o levantamento, haverá 144,1 milhões de brasileiros aptos a votar para prefeito e vereador em todo o país. Trata-se de um crescimento de 4% em relação aos 138,5 milhões de eleitores em 2012. A faixa etária com mais eleitores vai dos 30 aos 34 anos: 11,23% do total.

A cidade de São Paulo continua sendo o maior colégio eleitoral, com 8,88 milhões de eleitores. O menor é Araguainha, em Mato Grosso, com 954 eleitores.

O número de municípios com mais de 200 mil eleitores, em que pode haver segundo turno (caso nenhum candidato tenha mais de 50% dos votos válidos), aumentou de 83, em 2012, para 92, em 2016.

As nove cidades que passam a poder ter segundo turno são: Boa Vista (RR), Caruaru (PE), Caucaia (CE), Governador Valadares (MG), Praia Grande (SP), Santa Maria (RS), Santarém (PA), Suzano (SP) e Taboão da Serra (SP).

Anulação de eleições
Em 1.540 municípios, todos os eleitores terão que passar por identificação biométrica (pelas impressões digitais). Em outras 840 cidades, onde a biometria ainda não é obrigatória, a checagem das digitais será feita apenas no caso de eleitores com dados já coletados. Esses 2.380 municípios reúnem 39,4 milhões de eleitores.

O presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, voltou a avaliar que haverá mais eleições para prefeito anuladas e, em consequência, mais eleições suplementares. Um dos motivos é que não será mais possível o segundo colocado vencer a disputa em caso de anulação da candidatura do primeiro. Haverá necessariamente nova eleição.

Outra mudança na legislação que contribui para isso é que o prazo para registro de candidaturas foi adiado de 5 de julho para 15 de agosto. O objetivo, segundo Gilmar, foi baratear as eleições, mas haverá outra consequência: a Justiça Eleitoral começará a analisar mais tarde as impugnações. Assim, o julgamento poderá se estender para depois do resultado da eleição, levando à anulação de votações já realizadas.

O TSE estima que a eleição custará R$ 600 milhões.

Erros em cálculos
Na semana passada, o TSE divulgou o cálculo do teto de quanto os candidatos a prefeito e vereador poderão gastar em cada município. Dependendo do caso, o limite de despesas varia entre 30% e 70% dos maiores gastos declarados na eleição anterior. Mas houve distorções. Um erro na prestação de contas de um candidato a vereador em Manaus em 2012 chegou a permitir que os candidatos ao cargo gastem até R$ 26,7 milhões. Um recibo de 2012 no valor de R$ 2.850 foi computado como sendo de R$ 28,5 milhões.

Ontem, descobriu-se que a inclusão do número do CNPJ de comitês partidários na coluna errada estava permitindo gastos milionários aos candidatos a vereador de Paranaguá (PR) e Castanhal (PA). Na cidade paranaense, o teto de despesas seria de R$ 15,13 milhões. Na paraense, de R$ 13,23 milhões.

O ministro defendeu a diminuição do número de partidos. Há 35 siglas registradas, 27 com representação no Congresso.

— Há partidos que estão comprando helicóptero, jatinho, avião com fundo partidário. Isso precisa ser superado — disse Gilmar.

Reforma por conveniência

• Falta de verba pode dar impulso a projeto que reduz partidos e eleva recursos dos que sobrarem

Isabel Braga - O Globo

BRASÍLIA - A dificuldade para financiar campanhas deve impulsionar a aprovação da cláusula de desempenho, que reduziria o número de partidos e, assim, aumentaria a fatia do fundo partidário de cada sigla. -BRASÍLIA- A dificuldade que os partidos enfrentam para financiar as campanhas eleitorais sem as doações de empresas deve impulsionar o debate sobre dois pontos polêmicos da reforma política: o fim das coligações para eleições proporcionais (de deputado e vereador) e as cláusulas de desempenho para acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda política na TV e no rádio. Os dois pontos são há muito debatidos no Congresso, e ganharam a simpatia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Sem perspectiva de retomar o financiamento empresarial, parlamentares avaliam que esse será o caminho escolhido para os partidos tentarem ampliar sua fatia do Fundo Partidário, reduzindo o número de concorrentes.

A cláusula de desempenho exige que um partido obtenha um percentual mínimo de votação para deputado federal para ter direito aos benefícios. Já as coligações proporcionais fazem com que um eleitor vote em um candidato, mas, na prática, eleja outros unidos a ele. O mecanismo ficou conhecido como “efeito Tiririca”, que, com enorme votação em 2010, acabou garantido uma cadeira a outros três deputados coligados.

— O Fundo Partidário ganhou muita importância. É um bolo, e a divisão com mais ou menos partidos faz diferença. Há unanimidade em avaliar que o sistema político brasileiro faliu, não há parâmetro com essa quantidade de partidos. Temos que estabelecer quem tem legitimidade de acesso ao Fundo. Ninguém quer inibir a existência de partidos, mas um Congresso com 35 partidos é ingovernável — diz um dos autores da nova PEC que trata do fim das coligações proporcionais e da criação das cláusulas de desempenho, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

O senador tucano defende como estratégia para a aprovação dos dois pontos a criação de uma comissão especial de senadores e deputados para debater os temas. Ele afirma que a ideia da PEC foi criar regras de transição para viabilizar a aprovação e que ela é um ponto de partida para o debate sobre os dois temas. Para Ferraço, o ambiente político está mais propício, com o presidente interino, Michel Temer, sinalizando real interesse em ajudar na aprovação. Em telefonema esta semana, Temer sugeriu a inclusão da possibilidade de criação de federações partidárias como alternativa aos partidos menores.

A federação de partidos prevê que partidos que disputam juntos a eleição se mantenham unidos, atuando como um bloco, durante os quatro anos da legislatura. Os partidos atuam juntos, mas as legendas continuam existindo separadamente.

De acordo com a PEC, que também tem entre os autores o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, as coligações proporcionais estariam proibidas só a partir de 2020, e a cláusula de desempenho começaria com 2% em 2018 e só chegaria a 3% em 2022, dando prazo aos partidos para se adaptarem. E os eleitos por partidos que não alcançassem a cláusula de desempenho poderiam migrar, sem perder seus mandatos para outras legendas.

O PT, maior partido da nova oposição, está aberto ao debate de pontos da reforma política, mas vai pressionar também para incluir entre eles a discussão sobre financiamento das campanhas. Para o petista Carlos Zarattini (SP), o tema com maior chance de ser aprovado é o fim das coligações nas eleições proporcionais. Mas não acredita que a cláusula de desempenho passe na Câmara.

— A sociedade não aguenta mais tanto partido e pressiona pela redução, por isso é mais fácil aprovar o fim das coligações. Mas também, por questões operacionais, temos que enfrentar o debate sobre o financiamento público das campanhas. O Supremo proibiu e não colocou nada no lugar, o que privilegia os candidatos ricos e celebridades — afirmou o petista.

Integrante de um dos partidos que criticam o fim das coligações, Orlando Silva (PCdoB-SP) diz que está aberto para debater todos os pontos da reforma política, desde que ela não se restrinja apenas aos interesses dos grandes partidos e que seja feito o debate sobre o financiamento das campanhas.

— Isso de que o problema do Brasil é ter muitos partidos é cortina de fumaça. Os principais escândalos são vinculados aos grandes partidos. Reconheço que existem partidos cartoriais, mas há os ideológicos — disse Silva.

O tucano Marcus Pestana (MG), que participou comissões que tentaram, nos últimos anos, aprovar uma reforma política, diz que vê condições de levar adiante esses dois pontos, mas acrescenta que isso não é o suficiente para corrigir os problemas do sistema político brasileiro:

— São dois pontos importantes, mas não corrigem o problema central, a distância abissal entre a sociedade e seus representantes. Por isso defendo que temos que mexer no sistema eleitoral.

A maior resistência é em relação à criação de cláusulas de desempenho. Os partidos sustentam que a matéria já foi julgada e considerada inconstitucional pelo STF. O PSOL, que concorda com o fim das coligações, resiste às cláusulas que dificultem o acesso dos pequenos partidos ideológicos ao Fundo Partidário e ao tempo de TV.

— O fim das coligações dará uma enxugada enorme, e o resto terá decantação natural. A cláusula de barreira é antidemocrática, os pequenos nem poderão sobreviver — avalia o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

O professor da Fundação Getulio Vargas George Avelino diz que, na comparação com outros países onde o sistema eleitoral é proporcional, o Brasil tem quase o triplo de partidos que influenciam nas decisões. Segundo ele, a fragmentação partidária excessiva — são 27 com representação no Congresso e 35 registrados, e outros na fila para serem criados — prejudica a escolha do eleitor e a capacidade de agregação da elite política.

Eleições municipais terão mobilização da sociedade como jamais se viu no País, diz Freire

• Em entrevista à AllTV, presidente nacional do PPS afirma que impeachment modificou o cenário político do país e projeta forte impacto da Lava Jato sobre os principais partidos

Fábio Matos/Assessoria do Parlamentar- Portal PPS

O pano de fundo das eleições municipais será de intensa mobilização da sociedade brasileira e consequências ainda imprevisíveis da Operação Lava Jato sobre o sistema político. A avaliação é do deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, que participou nesta segunda-feira (25) do programa “Gente Que Fala”, exibido pela AllTV e transmitido pela Rádio Trianon AM (740 KHz).

“Viveremos uma situação inédita nesta eleição. Será a primeira sem financiamento privado, o que já está causando um grande impacto nas campanhas”, afirmou o parlamentar durante a atração comandada pelo jornalista Zancopé Simões. “O país, do ponto de vista político, mudou substancialmente. O impeachment gerou uma mobilização da cidadania brasileira como nunca se viu em nossa história.”

Outra variante a ser considerada e que pode influenciar nas disputas municipais é o avanço da Lava Jato sobre políticos e partidos. “Assim como a Lava Jato no Brasil, houve na Itália a Operação Mãos Limpas. A primeira eleição depois dela provocou uma verdadeira hecatombe em alguns partidos, que desapareceram da cena política. Não digo que acontecerá o mesmo aqui no Brasil, mas haverá impacto”, comparou Freire.

Olimpíada
Além do presidente do PPS, participaram do programa o secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, José de Lorenzo Messina; a presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina, Delegada Rose; e o presidente da Associação de Pequenas e Médias Empresas da Construção Civil do Estado de São Paulo (Apemec), Luiz Alberto de Araújo Costa.

Ao comentar os problemas na organização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Freire criticou duramente a ausência de uma política esportiva no Brasil. “Há a falência completa do Ministério do Esporte. O Brasil, com a capacidade que tem, com a população que tem, desperdiçou oportunidades nessa área”, afirmou. “Infelizmente, o Ministério do Esporte não tem um planejamento sério. Teremos agora a Olimpíada. Vamos aguardar para ver como será o desempenho esportivo, além de todas as questões de organização.”

Apesar das críticas, o deputado disse que agora o momento é de torcer para que os Jogos se desenvolvam de forma satisfatória. “Lá atrás, eu não patrocinaria essa Olimpíada. Mas já que ela está aí, esperamos que transcorra bem e seja um sucesso para o Brasil.”

Morrendo pela boca - Merval Pereira

- O Globo

O prefeito Eduardo Paes é um exemplo típico de político promissor que pode se perder pela boca, e, na falta de líderes que nos assola, tomara que encontre o justo balanço entre a desejável popularidade e o reprovável populismo.

Na reação imediata que teve diante da reclamação da equipe australiana sobre as condições precárias dos alojamentos dos atletas daquele país na Vila Olímpica, Paes não resistiu a uma piada, dizendo que estava pensando até em colocar alguns cangurus para que os australianos se sentissem em casa.

Só depois de receber uma resposta à altura de sua inaceitável postura — “não precisamos de cangurus, mas de encanadores” — o prefeito Eduardo Paes assumiu a condição de um administrador responsável, e admitiu que são necessários reparos urgentes nos alojamentos, e não apenas no da Austrália.

À vergonha de não entregar em condições habitáveis os alojamentos dos atletas soma-se a arrogância de nossas autoridades, que não aceitam as críticas mais banais. O presidente do Comitê Organizador Brasileiro, Carlos Nuzman, teve a pachorra de afirmar que a Vila Olímpica é a melhor e mais bem montada de todas as Olimpíadas já realizadas no mundo.

Como se não soubesse dos problemas que o seu COB está tendo para até mesmo colocar produtos de limpeza nos alojamentos, no que foi providencialmente ajudado pelo prefeito do Rio.

Cada quarto tem aparelhos transmissores de TV a cabo, mas não os televisores que estavam previstos. Por falta de dinheiro, há agora uma televisão por andar, mas provavelmente o COB está pagando os pontos de retransmissão de TV a cabo nos quartos.

É claro que a cidade do Rio é das mais bonitas, se não a mais bonita, do mundo, e as transmissões para os bilhões de espectadores do mundo inteiro terão deslumbrantes visuais. Mas não é possível esquecer, e os meios de comunicação do mundo inteiro não estão deixando isso acontecer, a poluição da Baía da Guanabara, que desafia governos seguidos há anos, e nem mesmo saber da realização da Olimpíada com sete anos de antecedência serviu de estímulo a um trabalho mais sério.

É inevitável que as competições sejam atrapalhadas pelos entulhos jogados no mar, e a repercussão internacional não será boa. E não vai adiantar achar ruim com os jornalistas internacionais, pois só estarão mostrando a triste realidade que não conseguimos superar. E nem dizer que a questão é federal ou estadual, não municipal.

Assim como é inadequado, para dizer o mínimo, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, tirar o corpo fora dizendo que esse problema da Vila Olímpica não tem nada a ver com o governo federal. Não tem mesmo, mas o governo Temer não escapará das críticas se alguma coisa der errado.

Paes é provavelmente o melhor prefeito que o Rio já teve nos últimos anos, superando em criatividade e realizações seu mentor, o ex-prefeito Cesar Maia. Mas se excede na maneira artificialmente descontraída com que se comunica. Alguém precisa dizer a ele que ser carioca não quer dizer ser ligeiro nos comentários, nem piadista fora de hora. Essas são, na verdade, características negativas do carioca, que não devem ser valorizadas.

Espera-se de um líder justamente o exemplo de comportamento, e não a leviandade de gestos e atitudes que o ex-governador Sérgio Cabral gostava de exibir, e da qual agora Eduardo Paes perigosamente se aproxima. Sua melhor versão é a de ontem, quando tratou a sério dos problemas da Vila Olímpica, e não aquela que ficou na conversa telefônica com o ex-presidente Lula, por exemplo, em que desandou a fazer comentários ligeiros sobre tudo e todos, querendo ficar à altura do político popular que é Lula.

O mesmo já havia acontecido com o ex-governador Sérgio Cabral, flagrado em um vídeo ao lado de Lula tratando mal um adolescente de uma comunidade que reclamava uma quadra de tênis. Cabral menospreza o desejo, dizendo que tênis era um esporte burguês. Os dois, diante do líder popular, exibiram posturas supostamente populares, e só foram banais.

Mesmo que essa Olimpíada não seja o trampolim para impulsionar Paes da prefeitura do Rio para a candidatura presidencial, como chegou a ser aventado em algum momento, ela pode vir a ser o coroamento de uma gestão arrojada e competente que levará o prefeito do Rio a uma carreira política promissora.

Desde que deixe de lado essa busca da popularidade fácil.

Olimpíada e aflição - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Num ambiente tenso e polarizado como o atual, nada mais compreensível que a reação à prisão de 12 suspeitos de serem potenciais terroristas tenha ido de um extremo ao outro: muitos concluíram precipitadamente que eles são mesmo terroristas e haverá atentados na Olimpíada, outros tantos, ao contrário, estão convencidos de que as prisões foram uma grande palhaçada. Como tudo na vida, é melhor o bom senso, o meio-termo.

Há mais de um ano os órgãos de inteligência vêm monitorando tentativas de cooptação de “lobos solitários”, via internet, e o sinal amarelo brilhou com intensidade quando o Estado Islâmico (EI) passou a traduzir suas mensagens para o português. O Brasil está fora do radar de terroristas, mas a Olimpíada não é brasileira, é um evento internacional sediado no Brasil.

Como o seguro morreu de velho, o governo não teve outra alternativa senão prender os suspeitos para ouvi-los, tirar dúvidas, confrontar versões. Se os Estados Unidos tivessem sido mais diligentes quando o sinal amarelo acendeu, pelo menos as 49 mortes de Orlando poderiam ter sido evitadas. Os rastros do assassino foram negligenciados.

Evidentemente, nenhum dos 12 alvos da Operação Hashtag tem qualquer culpa até que se prove o contrário e ninguém pode ser acusado ou virar suspeito por professar a religião muçulmana, ou qualquer outra crença. Mas, se houve troca de mensagens, conversas, encontros ou sinais de que podem representar algum perigo, eles precisam ser investigados.

Com algumas coisas não se brincam, ainda mais com essa sensação desconfortável de que o tsunami está chegando: Paris, Orlando, Nice, Istambul, Cabul... O Brasil está inserido num mundo em que atentados e lobos solitários deixaram de ser peças de filmes de ação e passaram a ser estratégia de grupos sanguinários como o EI.

Em conversas com o ministro Raul Jungmann (Defesa), os generais Eduardo Vilas Boas (Exército) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), o brigadeiro Nivaldo Rossato (Aeronáutica) e o prefeito Eduardo Paes (Rio), todos eles repetem a mesma coisa: não há nenhuma evidência de risco, mas não se pode descartar a probabilidade. Ou seja: é preciso ficar alerta.

Agora, diante das prisões, o tom de Jungmann foi um, o do também ministro Alexandre de Moraes (Justiça) foi outro. Talvez tenha faltado coordenação, ou combinação. Talvez não, tenha sido simplesmente proposital. Sabe o morde e assopra? Ou a tática policial do “bonzinho versus o malvado”? Pois é...

Para Jungmann, que é político e vem de muitos anos no Congresso e sabe da importância de tranquilizar a população, as delegações e os turistas que estão de malas prontas para a Olimpíada, convém reduzir os 12 presos à condição de “porras-loucas”. Para Moraes, que é da área de segurança e menos sutil, é preciso mostrar firmeza, pecar por excesso, não por omissão.

A nosotros, que olhamos tudo com perplexidade e um certo temor, vale ficar um pouco com a versão de Jungmann, outro tanto com a de Moraes e torcendo para que as prisões tenham sido, sim, uma bravata brasileira, ou uma palhaçada mesmo. Melhor mais um vexame, entre muitos, do que uma real possibilidade de atentados.

O fato é que a Olimpíada nem começou e já coleciona prisões, suspeitos de serem terroristas potenciais, autoridades batendo cabeça, o grito de desaprovação da delegação da Austrália e até o prefeito Paes reconhecendo, naquele seu jeitão, que as instalações dos australianos são ruinzinhas mesmo.

Bilhões de telespectadores pelo mundo estarão vendo os jogos e espiando de rabo de olho para o Brasil, para suas virtudes e mazelas. É por isso que a Olimpíada vai começar com muito brasileiro torcendo para acabar logo, para essa aflição passar rápido, junto com o medo de atentados e de vexames.

Campanhas vão passar a pão e água - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A eleição para prefeituras e câmaras municipais deste ano será atípica. Deveremos ter campanhas bem mais modestas que as verificadas em pleitos anteriores.

São dois os motivos para o redimensionamento. O primeiro é a decisão do STF que baniu doações de empresas. Em condições normais, esse tipo de medida teria eficácia parcial. Proibições raramente resultam no fim da atividade que se deseja banir. No mais das vezes, elas fazem com que a prática procure outros caminhos. No caso, seriam as doações de pessoas físicas, que continuam legais, ou o caixa dois. Não é do meu feitio comprar pelo valor de face declarações de marqueteiros, mas acredito em João Santana quando diz que 98% das campanhas no Brasil usam caixa dois.

Este ano, porém, as coisas tendem a ser diferentes. A Lava Jato, nosso segundo motivo, não apenas faz com que autoridades fiquem muito mais atentas às doações como também colocou em sérias dificuldades financeiras várias das empresas que tinham o hábito de despejar grandes somas em candidaturas.

Há razões, portanto, para acreditar que, desta vez, as campanhas terão mesmo de adequar-se a orçamentos franciscanos. E eu penso que isso é bom. É verdade que candidatos enfrentarão maior dificuldade para fazer-se conhecer pelo eleitor e para apresentar suas ideias. Os programas do horário gratuito também tenderão a ficar menos interessantes, o que talvez faça com que o cidadão vote com menos informação.

Apesar disso, acho que vale a pena tentar impor campanhas substancialmente mais baratas. Fazê-lo tende a diminuir a influência do poder econômico sobre políticos, o que me parece mais importante do que promover o tal de voto consciente, que não passa de uma quimera mesmo.

A má notícia é que em 2018 a conjunção de fatores que leva à seca de doações já deverá ter enfraquecido e as coisas estarão voltando ao normal.

Alvos no Rio – José Casado

• Pedido de partilha de provas expõe dezenas de agentes públicos, meia dúzia de empresas estatais e 19 grupos privados em casos de improbidade administrativa no Rio

- O Globo

Sexta-feira passada, chegou à mesa do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, uma carta de um grupo de promotores fluminenses: pediam autorização para uso de provas dos processos sobre corrupção na Petrobras nas investigações de crimes de improbidade administrativa no Estado do Rio. No alvo estão dezenas de pessoas, meia dúzia de estatais e pelo menos 19 empresas privadas. Foram indicados 15 inquéritos em curso sobre ilícitos em negócios do estado e da prefeitura do Rio.

As investigações afetam diretamente os interesses acionários dos seguintes grupos privados nacionais e estrangeiros: Odebrecht, Mitsui, Camargo Corrêa, Carvalho Hosken, Concremat, Ishibrás, MS Control, Delta, Carioca Engenharia, Queiroz Galvão, New Water, Cowan, BBPP Holdings, YPFB Transporte do Brasil, GTB-TBG Holdings, Mubadala Development, Servix, Andrade Gutierrez e OAS.

Atingem, além da Petrobras, estatais locais como Cedae, Emop, Riourbe, Riotrilhos, Edurp e autarquias. Envolvem diretamente dois exgovernadores, Sérgio Cabral e Rosinha Garotinho, e 20 pessoas físicas — de empresários como Fernando Cavendish, da empreiteira Delta, a dirigentes de empresas públicas.

Oito promotores trabalham nesse conjunto de processos civis que, no Rio, representa o principal desdobramento das investigações penais de Curitiba. Em 2014, quando começaram a ser desvendados os casos de corrupção na Petrobras, procuradores federais perceberam a recorrência de fatos e personagens nos inquéritos de Curitiba e do Rio. Pediram, e conseguiram, a transferência de provas de crimes de corrupção obtidas na época pelos promotores fluminenses.

Agora, os promotores estaduais reivindicam contrapartida, uma cooperação nas ações civis paralelas, focadas no conluio de agentes públicos e privados em prejuízo do Erário. Para pessoas físicas, as punições previstas incluem suspensão de direitos políticos por até oito anos, perda de função e multas. Para empresas privadas, as sanções começam na interdição do acesso a incentivos fiscais e creditícios e chegam à indenização pelos danos à sociedade.

Recentemente, em processos por improbidade no caso Petrobras, seis empresas (Camargo Corrêa, Sanko, Mendes Júnior, OAS, Galvão e Engevix) acabaram condenadas a pagar R$ 4,47 bilhões — 20 vezes a soma das sanções por esse tipo de crime em todo o país, até 2014.

Tem sido marcante a cooperação entre Judiciário, Ministério Público, polícia e órgãos como Banco Central, Conselho de Atividades Financeiras e Receita Federal. É novidade originada da ascensão de uma nova geração de servidores públicos concursados, devota da revolução tecnológica e de gestão. Primeiras vítimas dessa mudança foram os escritórios de advocacia privada, que há dois anos se veem obrigados à reinvenção.

Até há pouco, a experiência em Curitiba podia ser considerada exceção — tempestade perfeita no sistema de Justiça, pela soma de forças em circunstâncias excepcionais, com resultados rápidos e transformadores.

Já não é bem assim. Há evidentes desdobramentos, com objetivo similares, a despeito do burocratismo no Judiciário, que só favorece a impunidade. A iniciativa dos promotores do Rio é outro indício da reciclagem nos órgãos de defesa do interesse público.

Temer busca sócios para enfrentar a crise - Fernando Exman

• Comentários sobre a Selic foram uma derrapada a evitar

-Valor Econômico

A uma semana do fim do recesso parlamentar, o presidente interino Michel Temer aguarda o retorno de deputados e senadores à capital federal com uma tática nas mãos para reunir o apoio necessário à aprovação dos projetos considerados essenciais pelo Executivo.

Temer demonstrou força na eleição para presidente da Câmara dos Deputados, assim como está vencendo a batalha pelo impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e, apesar de alguns sobressaltos, vem abrindo caminho para a tramitação de reformas e de um ajuste fiscal. Os articuladores políticos do governo reconhecem, porém, que não bastará a liberação de recursos orçamentários ou cargos para integrantes da base aliada.

O que as autoridades do Palácio do Planalto passaram a garantir aos seus interlocutores é que o Congresso terá "protagonismo" no processo voltado a colocar um fim à crise econômica que o país enfrenta. Temer, assim, sinaliza estar disposto a compartilhar os méritos do eventual sucesso de sua administração com os demais agentes políticos que exercem o poder. Mas quer também parceiros para enfrentar os desafios que se colocarão, caso o afastamento de Dilma se torne definitivo, com a produção de uma "pauta de unidade nacional" em conjunto com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

Em tempos de Lava-Jato, panelaços, manifestações e descrédito generalizado da classe política, o Palácio do Planalto oferece a seus aliados um discurso positivo a sustentar, num momento em que deputados e senadores terão que encarar eleições municipais e precisarão preparar terreno para o pleito de 2018. Assim, com a recuperação do emprego como mote central da nova propaganda oficial, os aliados do Planalto poderão se apresentar em seus redutos como sócios de um projeto de recuperação nacional.

Mas, se esse papel poderá render frutos aos que estiverem dispostos a desempenhá-lo, também trará alguns ônus a curto prazo. Em sua estratégia, o pemedebista visa compartilhar a responsabilidade de levar adiante medidas que certamente enfrentarão resistências.

Mais um subproduto almejado pelo plano palaciano é um efeito positivo na dinâmica de funcionamento do governo, o qual conta com alguns aspirantes à Presidência da República e não pode correr o risco de ter seu projeto implodido devido a embates internos. Ou seja: se até mesmo o presidente da República está disposto a dividir o reconhecimento de eventuais sucessos com o Congresso ou outras instituições, acreditam os estrategistas do Planalto, haverá menos espaço para disputas pela paternidade das medidas eventualmente responsáveis por tirar o país da crise.

O governo espera colher outro fruto ao elevar o patamar das suas relações com o Parlamento. Crê, por exemplo, que conseguirá diminuir o número de jabutis aprovados no Congresso - emendas que não têm relação direta com medidas provisórias ou projetos em tramitação e frequentemente geram impactos negativos nas contas públicas.

Para os articuladores de Temer, os jabutis eram resultado direto da aversão de Dilma aos políticos. A petista, argumentam, não confiava no Congresso, tomava decisões solitárias e, como consequência, editava medidas provisórias que não eram bem recebidas pelos parlamentares. Como não conseguiam influenciar a própria pauta do Congresso, deputados aproveitavam para pegar carona e deformavam as MPs, que têm um rito de tramitação mais acelerado. Era o preço que Dilma pagava por não negociar previamente o conteúdo dos projetos e não contar com uma base sólida. Depois, a presidente responsabilizava os congressistas pelas "pautas-bomba" e mantinha a mesma forma de governar.

A nova administração no Planalto, no entanto, promete mais diálogo e um melhor horizonte à frente. Garante que lideranças dos partidos receberão todas as informações sobre o que o Executivo está trabalhando e terão canais para apresentar suas sugestões. Em contrapartida, espera que os parlamentares "aproveitem da melhor maneira possível" as propostas a serem enviadas para o Congresso. Em outras palavras: preservem seu conteúdo o máximo possível.

O movimento de Temer em relação ao Legislativo não é isolado. Faz parte de uma série de gestos coordenados de "reinstitucionalização" do país, nas palavras de seus auxiliares. Ele faz o mesmo com o Tribunal de Contas da União (TCU), responsável pela análise da execução orçamentária e foco de tensão desde que reprovou as contas do governo Dilma referentes a 2014.

Conforme noticiou o Valor nos últimos dias, seus ministros intensificaram as visitas ao órgão auxiliar do Legislativo para saber se enfrentariam problemas ao manejar o Orçamento. O Planalto também decidiu procurar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para evitar críticas às concessões que estão sendo preparadas. Temer prestigiou os militares, ao reajustar soldos, restituir poderes aos comandantes e reincluir o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência entre os órgãos que contam com status de ministério.

Um gesto destoante, porém, foi a postura do governo em relação ao Banco Central. Em recentes entrevistas, o presidente interino afirmou esperar uma queda dos juros até o fim do ano. As declarações animaram representantes da ala política do governo, que também passaram a tratar do assunto, apesar da proximidade da reunião em que o Comitê de Política Monetária (Copom) acabou agindo como o esperado e manteve a Selic em 14,25% ao ano.

Declarações do tipo até poderiam ter como objetivo sinalizar ao setor produtivo seu compromisso em reaquecer a economia e melhorar a oferta de crédito nos próximos meses, mas o episódio não foi bem visto por algumas alas do Executivo e o pemedebista chegou até a divulgar nota para reiterar a "plena autonomia" do BC. No governo Dilma, em uma administração com viés declaradamente intervencionista ou numa gestão que não vive uma lua-de-mel com o mercado, o caso poderia ter desdobramentos mais danosos.

A caixa de sapato - Luiz Carlos Azedo

• Mesmo com todo o prestígio que tem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, começa a correr os mesmos riscos do antecessor Joaquim Levy, que fracassou no ajuste fiscal

- Correio Braziliense

Tudo bem que o presidente interino Michel Temer tenha que administrar o país com um olho na frigideira, a sua maioria na Câmara dos Deputados, e o outro no gato, a votação do impeachment no Senado. Mas precisa tomar cuidado para que a caixa de sapato onde o Palácio do Planalto guarda os pedidos de seus aliados não passe a ter mais peso nas decisões do que o balancete diário do Tesouro. Parece ser o que está acontecendo, uma vez que a conversa nos bastidores é de que a meta de deficit público vai ultrapassar os R$ 170,5 bilhões, porque o governo não quer fazer contingenciamentos.

É por aí que a situação do país pode desandar de novo, ainda que seja remotíssima a possibilidade de volta da presidente Dilma Rousseff ao cargo, tamanho o desânimo dos petistas. No Senado, o governo conta com cerca de 70 senadores para aprovar o impeachment, independentemente do mérito da discussão jurídica sobre as “pedaladas fiscais”. É jogo jogado, mas está ficando muito caro. Na Câmara, o Planalto pode tranquilamente somar os votos de Rogério Rosso (PSD-DF), o candidato derrotado, aos da ala oposicionista que bancou a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), sem medo da chantagem institucional para aprovar seus projetos. Mas, lá também, precisa tomar cuidado com a caixa de sapato que guarda o fichário dos líderes de sua base.

O sinal de que o mais rudimentar dos instrumentos de gestão política está ganhando mais importância do que os sofisticados programas de gerenciamento de despesas e receitas foi dado ontem, pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no Rio de Janeiro. Ele disse que aumentos pontuais de impostos poderão ser adotados, se necessário, para cobrir o rombo nas contas públicas além do previsto. Isso dependerá do crescimento das receitas públicas e das receitas futuras com privatizações, concessões e outorgas. A sociedade rejeita os aumentos de impostos.

Meirelles garantiu que a meta deste ano, um rombo de R$ 170,5 bilhões, será cumprida, mas isso depende de uma economia de R$ 6,6 bilhões de estados e municípios, e de um bom desempenho dos bancos e empresas estatais. A negociação com os governos foi concluída, mas houve um estouro de boiada em relação às prefeituras. O PMDB tem 1.024 prefeitos eleitos em 2012; o PSDB, 702; o PSD, 497; PP, 469; e PSB, 442. A maioria estava a pão e água no governo Dilma. Em consequência, a torneira foi aberta generosamente pelos ministros da base aliada, principalmente para os filiados a seus respectivos estados e partidos.

A blindagem
O grande trunfo de Temer na sua interinidade é a blindagem da economia. O apoio político é fundamental, mas ele vem em razão de três fatores basicamente: a recessão, o isolamento político do PT e o desgaste da presidente Dilma Rousseff com a sua base. Dos três, o que pode transformar o governo Temer em sócio da Dilma e levá-lo à breca é a recessão. Ora, sem o ajuste fiscal, com os juros nas alturas para controlar a inflação, o governo acabará impotente para retomar o crescimento da economia. E correrá o risco de o povo voltar às ruas pedindo outro impeachment.

A inércia do fisiologismo político, ou seja, a gestão pela caixa de sapato, é um veneno para a economia. Mesmo com todo o prestígio que tem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, começa a correr os mesmos riscos do antecessor Joaquim Levy, que fracassou no ajuste fiscal. A diferença, por enquanto, é o estratagema adotado: empurrar com a barriga os cortes de gastos e apostar no ajuste estrutural, ao anunciar medidas como a aprovação de um teto para os gastos públicos, a adoção do contrato coletivo de trabalho e a unificação da Previdência. Essa agenda, por enquanto, é o ovo na galinha.

Talvez a melhor coisa que o presidente Michel Temer possa fazer para sair da armadilha do fisiologismo de sua base seja pactuar uma agenda comum, exequível, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). E votá-la ainda neste ano, no embalo do afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff. Se deixar para depois, nada garante que terá uma correlação de forças mais favorável no próximo ano, pois a sua sucessão já estará na rua.

Trata-se, obviamente, de uma agenda de caráter liberal, cujo eixo é a limitação dos gastos públicos ao tamanho da economia e a menor interferência do governo nas atividades privadas. Politicamente, enfrenta a oposição sistemática de cartéis, cartórios, corporações e sindicatos, mas tem amplo apoio social, porque a maioria da população acha que paga muito imposto e recebe pouco em troca. Isso significa falta de regulação e fiscalização do mercado? Não, desde que as regras do jogo sejam transparentes, respeitadas e iguais para todo mundo.

Horizonte curto - Míriam Leitão

- O Globo

O BNDES deve ter prejuízo no primeiro semestre, e a Eletrobrás está em situação difícil. As despesas previdenciárias estão maiores ainda do que se calculava. O déficit do INSS este ano vai chegar a R$ 148 bilhões. As más notícias no campo fiscal não param de chegar ao governo, e por isso todo o esforço será feito para a aprovação da PEC do teto de despesas.

O medo no governo é que haja uma reversão de expectativas caso não seja aprovada a PEC que estabelece que as despesas não previdenciárias só podem ser corrigidas de acordo com a inflação do ano anterior. Há noção no governo de que a recuperação da confiança é frágil e que, portanto, é preciso deixar bem claro o compromisso com a estabilidade fiscal.

Os reajustes de salários dos servidores continuam sendo defendidos por integrantes da equipe do governo como necessários e menos pesados do que se imagina, vendo-se a situação das contas públicas. O argumento é que os gastos com salários da ativa, como participação do PIB, permanecem estáveis. O problema, afirma-se, é a despesa previdenciária, que deu um salto nos últimos anos.

Além de o déficit ter sido recalculado para mais, há outras más notícias no governo. O BNDES que, em grande parte, pelos truques na contabilidade antecipou dividendos em anos anteriores, ajudando o Tesouro, no primeiro semestre deste ano deve fechar no vermelho.

Os cálculos ainda não estão finalizados, mas essa é a tendência. O gasto extra com o Rio, de R$ 2,9 bilhões, estava fora dos cálculos do déficit de R$ 170,5 bilhões. Há mais R$ 4,5 bilhões de frustração extra de receita; o governo perdeu uma disputa por depósito judicial de R$ 1,6 bilhão para o governo de São Paulo. Com a soma dessas novidades, o governo decidiu recorrer à reserva de contingência que estava prevista no Orçamento, e as fontes ainda garantem que o déficit de R$ 170,5 bilhões será cumprido.

As declarações do ministro Henrique Meirelles ameaçando novamente com a hipótese de elevação de impostos fazem parte do esforço de aumentar a noção de urgência em relação ao teto de gastos. O teto não terá efeito imediato, mas pode ter impacto nas projeções sobre o futuro das contas públicas.

Apesar de o governo ter desistido de contingenciar o orçamento agora, o que um membro da equipe econômica diz é que se houver nova frustração de receita, ou alguma despesa extra, não será possível evitar o contingenciamento.

A avaliação feita internamente é que um governo interino tem pouca margem para tomar decisões, mas mesmo assim elas têm sido tomadas. A reforma da previdência só poderá ser proposta após a votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, mas está sendo formulada para ter regras de transição mais duras do que o que foi pensado inicialmente.

— As projeções de aumento das despesas com aposentadoria mostram que daqui a 30 anos o Brasil terá a mesma demografia que o Japão e terá o triplo de pessoas do que tem hoje com mais de 60 anos. Se a reforma não for aprovada, o país precisará aumentar a carga tributária em 10 pontos percentuais do PIB para pagar pensões e aposentadorias — explica um membro da equipe econômica.

O argumento no governo é que o ajuste pelo corte de despesas não será de curto prazo. O exemplo apresentado é que o governo não tem dado novos subsídios aos empresários, mas os já concedidos vão continuar pesando. Um caminhão financiado a juros baixos continuará onerando a conta da equalização de juros este ano e nos próximos. E essa conta da equalização foi de R$ 10 bilhões em 2010 e este ano será de R$ 30 bilhões.

O quadro é de dificuldades de ajuste do déficit pelo lado das despesas, porque o governo anterior deixou aumentos já contratados. Por isso, o atual governo vai insistir que a aprovação da PEC dos gastos e a reforma da previdência são as únicas propostas que darão horizonte às contas públicas. Neste segundo semestre, e, principalmente, após a votação do impeachment, esta será a agenda que vai orientar a administração. E será repetido o que disse o ministro Henrique Meirelles: é isso ou elevar impostos.

Brasil de cara nova no G-20 – Editorial / O Estado de S. Paulo

Sem a incompetência arrogante dos tempos da presidente Dilma Rousseff, o Brasil apareceu de cara nova na reunião ministerial do Grupo dos 20 (G-20), em Chengdu, na China. Em vez de dar lições ao mundo, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, aproveitou os encontros e discussões para explicar a política de recuperação da economia brasileira e mostrar a evolução dos principais indicadores. A apresentação, segundo ele, foi bem recebida. “Eu diria que há uma percepção de que o Brasil está na direção certa e o clima está começando a mudar.” Há um toque de realismo e de humildade nesse balanço. Os porta-vozes do País admitiram a gravidade dos problemas nacionais, falaram sobre as medidas corretivas e mostraram as possibilidades de cura e de recuperação, se as condições políticas evoluírem de modo favorável.

A mudança deve ter ficado clara para todos – tanto da orientação econômica do Brasil quanto da atitude de seu governo em relação aos parceiros do G-20. Durante anos, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros quiseram dar lições ao mundo, especialmente aos governos do mundo rico, sobre como cuidar da economia e vencer crises.

Aumentar salários de servidores é incoerente / Editorial / O Globo

• Com o país em crise, governo Temer continua a beneficiar funcionalismo, categoria favorecida pela remuneração e também pela estabilidade

O presidente interino, Michel Temer, conhece muito bem o descalabro fiscal em que se encontra o país. Tanto que seu governo se prepara para encaminhar ao Congresso propostas emergenciais para começar a reverter a situação calamitosa das contas públicas criada pela gestão lulopetista, a partir de 2009. Destacam-se entre as propostas a de um teto legal para as despesas da União e a da reforma da Previdência.

Mas o próprio governo Temer tem agido em sentido contrário — eleva gastos, em vez de contê-los. E começa a criar suspeição sobre tetos muito elevados na previsão de déficits. Afinal, eles devem ser reduzidos por meio de corte de despesas e não mantidos, para acomodar a elevação de gastos numa crise de falta de dinheiro no Tesouro. Pior: e ainda com ameaças de que se as corretas propostas de mudanças não forem aprovadas, será aumentada a já escorchante carga tributária, como alertou, em entrevista à “Folha de S.Paulo”, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles